Como Entendo 1 Samuel 15 (final)
Nosso leitor Pedro pergunta: “Como o clichê
'Deus é amor', mas, também é 'justiça' explica onde Deus é amor e onde Ele é
justiça em 'dente por dente' e 'oferece-lhe também a outra face'?”
Que desafio intrigante, Pedro, não resisti. Não podia deixar tal
pergunta lá nos comentários. Vamos falar um pouco sobre a ira, a raiva e
como lidamos com ela. Você disse: “Eu não creio que Deus manda
matar nem destruir; não creio que Ele se vinga, castiga, amaldiçoa, odeia, se
ira...”
Certa vez vi um vídeo do pastor Rob Bell em que ele fez uma pergunta muito
interessante: “O que é mais perturbador? Um Deus que fica com raiva ou
um Deus que vê a exploração, abuso e injustiça e não fica com raiva?”
E ele acrescenta: “Na verdade há raivas saudáveis e
necessárias (...) Deus é amor. E quando um humano é abusado, maltratado,
desumanizado, haverá uma raiva divina, o tipo de raiva que se identifica com
quem está sendo maltratado ou ferido."
Você nos propôs a seguinte reflexão:
“Deus recomenda a vingança:
Êxodo 21: 23-24: "Mas, se houver morte, então, darás vida
por vida. Olho por olho, dente por dente, mão por mão, pé por pé..."
Levíticos 24: 19 "quebradura por quebradura, olho por
olho, dente por dente; como ele tiver desfigurado algum homem, assim lhe será
feito."
Deuteronômio 19: 21 "O teu olho não terá piedade dele;
vida por vida, olho por olho, dente por dente, mão por mão pé por pé.”
Jesus prega o amor:
Mateus 5: 38-39 “Ouvistes que foi dito: Olho por olho, e
dente por dente. Eu, porém, vos digo que não resistais ao homem mau; mas a
qualquer que te bater na face direita, oferece-lhe também a outra.”
Não vou analisar esses versos individualmente. Não seria honesto
fazê-lo sem o seu contexto. Alguém já disse certa vez que um texto fora do
contexto vira um pretexto. E eu concordo com isto. Esses versos bíblicos
não podem ser esquartejados do todo, haja vista fazerem parte de um contexto
maior: as novas leis civis que deveriam ser observadas a partir de então
pelos hebreus. Então, nos limitaremos ao tema do texto.
Não podemos nos esquecer que o mundo antigo tinha suas leis:
“A lei de talião (do latim lex talionis: lex: lei
e talis: tal, aparelho que reflete tudo), também dita pena de talião,
consiste na rigorosa reciprocidade do crime e da pena — apropriadamente chamada
retaliação. Esta lei é freqüentemente expressa pela máxima olho por olho, dente
por dente. É uma das mais antigas leis existentes.”
“Os primeiros indícios da lei de talião foram encontrados no Código de Hamurabi , em 1780 a.C., no reino da Babilônia. Essa lei permite
evitar que as pessoas façam justiça elas mesmas, introduzindo, assim, um início
de ordem na sociedade com relação ao tratamento de crimes e delitos, "olho
por olho, dente por dente".
Escreve-se com inicial minúscula, pois não se trata, como muitos
pensam, de nome próprio. Encerra a ideia de correspondência de
correlação e semelhança entre o mal causado a alguém e o castigo imposto a quem
o causou: para tal crime, tal pena. O criminoso é punido ‘taliter’, ou
seja, ‘talmente’, de maneira igual ao dano causado a outrem. A punição era dada
de acordo com a categoria social do criminoso e da vítima.
Diferentes idéias sobre as origens da lex talionis existem, mas a
mais conhecida é de que ela se desenvolveu ao mesmo tempo em que as
civilizações também se desenvolviam; e a falta de um sistema de leis para a
retribuição de erros, feudos e vinganças, ameaçou o tecido social. Apesar de
ter sido substituído por novas formas de teoria jurídica, o sistema da Lei de
Talião, a “lex talionis” serviu a um objetivo fundamental no desenvolvimento
dos sistemas sociais - a criação de um órgão cuja finalidade foi a de aprovar
as retaliações e garantir que este fosse o único castigo. Este organismo foi o
estado em uma das suas primeiras formas.
(...) É fácil presumir-se que em sociedades não vinculados pela
regra de direito, se uma pessoa se feriu, então a vítima (ou seu parente) terá
direito vingativo sobre a pessoa que causou o prejuízo. A retribuição pode ser
muito pior do que o crime, talvez até mesmo a morte. A lei Babilônica colocava
um limite para tais ações, restringindo o castigo para não ser pior do que o
crime, enquanto vítima e agressor ocupassem o mesmo status na sociedade,
enquanto castigos fossem menos proporcionais de litígios entre os estratos
sociais: como blasfêmia ou laesa maiestatis (contra um deus, vizinho, monarca,
ainda hoje, em certas sociedades), crimes contra um bem social foram
sistematicamente punidos como pior.” (Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Lei_de_tali%C3%A3o)
O primeiro ponto a ressaltar: não foi Deus quem criou a regra do
“olho por olho, dente por dente”. O que estava sendo agora estabelecido
por Deus, com as novas leis civis que deveriam ser observadas a
partir de então pelos hebreus, era um novo caráter para essas leis. Deus
estava educando e civilizando um povo após este ter sido submetido a 430 anos
de escravidão. Devemos nos lembrar que os hebreus tinham a mentalidade de
escravos. Não sabiam lidar com a liberdade. No mundo antigo a escravidão era
universalmente a base do sistema trabalhista. A lei mosaica, inclusive,
permitia que os israelitas também tivessem seus escravos. Dá para entender
as razões de um povo que foi escravo querer ainda escravizar outros?
Pois bem, era com essa mentalidade que Deus estava tratando. Não
devemos nos esquecer que analisamos este contexto moral e social com os nossos
olhos modernos já habituados a leis mais libertárias e humanas.
Embora, nos pareça estranho vindo de Deus tal sanção a estas leis
devemos compreender que essa sanção divina trouxe a essas antigas leis uma lei
sem paralelo. Eles queriam manter seus escravos? Ok. Mas Deus não permitiria isto
por muito tempo. Aos hebreus foi permitido guardar escravos, mas seria
temporário. Após 6 anos ou ainda por ocasião do jubileu eles deveriam ser
libertados. Dá para entender a nova essência da lei aqui?
A nova lei sancionada por Deus trouxe o estabelecimento de regras
que preservavam os direitos de personalidade individual dos escravos, pois eles
recuperariam sua liberdade. Com a nova lei o servo não podia mais ser
considerado um bem móvel. Em caso de crime a lei de punição teria que ser
aplicada. Mas, com a nova lei a partir da sanção de Deus, passaram a existir os
“poréns”.
Veja Êxodo 21:12, mas não esqueça de ver o 13. O ato de ferir a
outro era a partir de agora distinguido. Daí as cidades de refúgio para
proteger o criminoso contra os parentes vingativos. A nova lei fazia diferença
entre o homicídio premeditado do homicídio involuntário. Note que passou a
existir também o princípio da multa e este com o tempo tornou-se costumeiro.
A antiga lei semita considerava os escravos como propriedade absoluta
de seus senhores. Ao “olho por olho”, com a nova lei, foi introduzido o direito
ao injuriado de reivindicar sua liberdade como compensação. Em resumo, o
critério da misericórdia (compensação em dinheiro, liberdade) foi introduzido à
lei que eles conheciam até então.
Devemos guardar na mente que Deus estava lidando com um povo em um
determinado contexto moral e social específico. Eram homens livres com
mentalidade de escravos. Jesus não veio corrigir a imagem de Deus, veio para
corrigir o pensamento equivocado dos homens a respeito de Deus. Veio Ele mesmo
mostrar e viver o que Ele queria que os homens tivessem aprendido ao longo de
sua própria experiência humana.
“Jesus prega o amor”, certo. Mas, eu
complemento... Jesus prega o amor assim como Deus, pois eles são
um. O mesmo que disse: “Não adulterarás” é o mesmo que
disse: “os teus pecados estão perdoados, vai e não peques mais.”
Jesus não trouxe a permissão para adulterar, ao contrário
confirmou que o pecado deve ser abandonado. Por isso, disse: “Ouvistes
que foi dito: Olho por olho, e dente por dente.” Essa era a lei de
Talião, a de Deus era aquela que introduzia a misericórdia (multa e as cidades
de refúgio). Não vejo diferença naquela sanção divina do AT e estas palavras do
NT: “Eu, porém, vos digo que não resistais ao homem mau; mas a
qualquer que te bater na face direita, oferece-lhe também a outra” (possibilidade
de perdão – multas e cidades de refúgio).
Você pergunta Pedro:
“Então, Deus é misericórdia plena só em Jesus?”
NÃO. Jesus é a demonstração da misericórdia plena de Deus.
“-Antes de Cristo, Deus não mandava oferecer a outra face?”
SIM, mandava sim! As cidades de refúgio e as multas foram medidas
práticas da outra face.
“-Jesus veio mudar a Deus ou dá-Lo a conhecer?”
Jesus veio viver o que os homens se recusavam a compreender e
aceitar. Alguns, mesmo assim, não compreenderam ou não quiseram aceitar, tanto
é que O mataram por isso.
Se eu não me fiz entender me diz, sou paciente. Sei que você crer nisto,
mas gostaria de convidá-lo a ver este vídeo.
Falaremos mais sobre isto no próximo texto.
O leitor poderá acompanhar os textos anteriores acessando os links:
. Como entendo 1 Samuel 15 (parte 1)
. Como entendo 1 Samuel 15 (parte 2)
Ruth Alencar
Todos os textos sobre o tema O Grande Conflito já
publicados pelo Nossas Letras estão condensados neste álbum em nossa página do
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novo tema surge.
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Boa leitura a todos!
Adotemos o Santuário como exemplo didático e as palavras de Jesus: "Eu sou o caminho, a verdade e a vida." Nós, após procurarmos "seguir" o modo de vida de Jesus, deveremos passar para outra etapa de nossa santificação:A Verdade (Pátio, caminho; lugar santo, Verdade.)Amor;verdade e justiça é extamente a mesma coisa no caráter divino.Cada uma dessas virtudes dependem das outras duas.
ResponderExcluirNós dizemos para Deus "o que" queremos, mas o "quando" é ele quem decide, dependendo da sua vontade. As coisas acontecem nas circunstâncias e pelo livre arbítrio, mesmo que Deus já saiba que acontecerão. Pensando nisso começamos a elocubrar um futuro melhor. E um processo deliberado, planejado e contínuo de santificação.
É Nemar, "o modo de vida de Jesus" é o grande desafio de cada um de nós. Exatamente porque não há Verdade fora desse Caminho. Sair da rota é coxear entre dois pensamentos, é vagar como menino pela força do vento.
ResponderExcluirPor isso, o convite é a santificação. Esta por sua vez não pode ser compreendida longe do processo do amadurecimento espiritual. Por que?Porque ser santo significa ser maduro espiritualmente.
E ser maduro é compreender que há sempre um degrau a avançar e que mesmo que hajam quedas e cansaço,Ele estará lá com a Sua graça e misericórdia na medida da Sua justiça. Sem Ele será sempre caminhar para um lugar equivocado.
Então, a recomendação será sempre o confiar e descansar porque Ele é o Grande Eu Sou, Deus.
Jesus nos deu a possibilidade de encontrarmos a verdadeira paz, a paz que o mundo não pode dá, nem tirar.
ResponderExcluirDescansemos pois na verdade de que a Sua Graça nos basta. E ofereçamos a Ele uma vida que honre o Seu maravilhoso nome e amor. A saber, uma vida em obediência a Sua vontade.
Sua morte nos deu vida e reconciliou-nos com Deus.
Sua ressurreição nos dá paz e a vida plena da eternidade.
Como podemos desejar justiça longe DEle? Como podemos rejeitar tão maravilhosa oferta de vida plena?