IV- Passagens Incomuns sobre a Morte no Novo Testamento: O debate continua.
Recebi um
e-mail com este texto da Associação
Brasileira de Imprensa e achei muito interessante:
“Vírgula
pode ser uma pausa... ou não:
Não, espere
Não espere...
Ela pode sumir com seu dinheiro:
23,4.
2,34.
Pode criar
heróis:
Isso só, ele resolve.
Isso só
ele resolve.
Ela pode ser a solução:
Vamos perder, nada foi resolvido.
Vamos
perder nada, foi resolvido.
A vírgula muda uma opinião:
Não queremos saber.
Não,
queremos saber.
A vírgula
pode condenar ou salvar:
Não tenha clemência!
Não, tenha
clemência!
Uma vírgula
muda tudo. [...]”
E o e-mail trazia este detalhe adicional:
“Se o homem soubesse o valor que tem a mulher andaria de quatro à sua procura.”
*Se você
for mulher, certamente
colocou a vírgula depois de MULHER...
*Se você for homem, colocou a vírgula depois
de TEM...
É... a
vírgula tem o seu papel na mensagem. Brincadeiras à parte, agora falemos sério:
E- Passagens Incomuns sobre a Morte no Novo Testamento
por Niels – Erik Andreasen*
Esta imagem não está na obra original
Alguns textos levantam
questões incomuns à luz da concepção bíblica geral da vida e da morte. Uma
breve revisão do peso da evidência, porém, mostra harmonia fundamental com o
conceito bíblico da não imortalidade da alma. [...]
1. Lucas 23:43
“Jesus
lhe respondeu: Em verdade te digo que hoje estarás comigo no paraíso.”
À primeira vista, esse
breve versículo parece problemático. “Em verdade te digo que hoje estarás comigo no paraíso.” Se
lermos com uma pausa (ou vírgula) depois das palavras “em
verdade, te digo, que”, esse verso declara que
Jesus convidou o segundo ladrão crucificado a acompanhá-LO para o paraíso
naquele mesmo dia, sugerindo a contínua existência da alma após a morte. O
significado é alterado dramaticamente se a pausa (ou vírgula) for posta depois
da palavra “hoje”.
Nesse caso, Jesus estaria prometendo: “em verdade te digo hoje,” indicando a promessa atual de uma futura entrada na vida eterna. Lamentavelmente, os
manuscritos gregos mais antigos vinham sem pontuação, de modo que devemos
examinar o contexto do verso para determinar seu exato significado. A intenção
do verso é clara e simples: oferecer a salvação ao ladrão arrependido na cruz.
O outro ladrão também pedia por libertação, mas não se arrependeu nem
reconheceu a Cristo (v.39). Por isso, ele é corrigido pelo ladrão arrependido
(v. 41). A discussão, portanto, não gira em torno de recompensa ou castigo
eterno, sobre entrar no Céu ou no inferno. O contexto imediato é mais
apropriadamente sobre o assunto da salvação num dia de extremo infortúnio para
os três homens. Em Sua resposta, Jesus ofereceu garantia imediata de salvação
ao ladrão arrependido.
É
digno de nota que o ladrão pediu modestamente que Cristo Se lembrasse dele
quando viesse em Seu reino, ao que Cristo lhe ofereceu Sua companhia no Paraíso
(salvação). Uma vez mais a qualidade e não o senso de oportunidade do pedido do
ladrão e da resposta de Jesus continua a ser o assunto principal. O prórpio
Jesus admitiu não ter entrado em Seu reino naquele dia nem mesmo no dia
seguinte (João 20:17), mas queria dar ao recente amigo a certeza da salvação “hoje”. Assim, Lucas
23:42 fala sobre a garantia da salvação, e não sobre a entrada no reino no dia
da morte.
2. 2 Coríntios 5:1-10
“Sabemos que, se a nossa
casa terrestre deste tabernáculo se desfizer, temos da parte de Deus um
edifício, casa não feita por mãos, eterna, nos céus. E, por isso, neste
tabernáculo, gememos, aspirando por sermos revestidos da nossa habitação
celestial; se, todavia, formos encontrados vestidos e não nus. Pois, na verdade,
os que estamos neste tabernáculo gememos angustiados, não por querermos ser
despidos, mas revestidos, para que o mortal seja absorvido pela vida. Ora, foi
o próprio Deus quem nos preparou para isto, outorgando-nos o penhor do
Espírito. Temos, portanto, sempre bom ânimo, sabendo que, enquanto no corpo,
estamos ausentes do Senhor; visto que andamos por fé e não pelo que
vemos. Entretanto, estamos em plena confiança, preferindo deixar o corpo e
habitar com o Senhor. É por isso que também nos esforçamos, quer presentes,
quer ausentes, para lhe sermos agradáveis. Porque importa que todos nós
compareçamos perante o tribunal de Cristo, para que cada um receba segundo o
bem ou o mal que tiver feito por meio do corpo.”
e Filipenses 1:19-26
“Porque estou certo de
que isto mesmo, pela vossa súplica e pela provisão do Espírito de Jesus Cristo,
me redundará em libertação, segundo a minha ardente expectativa e esperança de
que em nada serei envergonhado; antes, com toda a ousadia, como sempre, também
agora, será Cristo engrandecido no meu corpo, quer pela vida, quer pela morte.
Porquanto, para mim, o viver é Cristo, e o morrer é lucro. Entretanto, se o
viver na carne traz fruto para o meu trabalho, já não sei o que hei de
escolher. Ora, de um e outro lado, estou constrangido, tendo o desejo de partir
e estar com Cristo, o que é incomparavelmente melhor. Mas, por vossa causa, é
mais necessário permanecer na carne. E, convencido disto, estou certo de que
ficarei e permanecerei com todos vós, para o vosso progresso e gozo da fé, a fim de que aumente, quanto a mim, o
motivo de vos gloriardes em Cristo Jesus, pela minha presença, de novo,
convosco.”
Essas duas passagens
paulinas parecem problemáticas na superfície, pois parecem favorecer a vida
após a morte com base na idéia de que a morte traz para os fiéis um
relacionamento especial e imediato com seu Senhor. No entanto, o exame mais
atento desses textos revela uma perspectiva diferente, em harmonia com o
restante da Bíblia.
O apóstolo divide a
existência humana em três fases. A primeira, que consiste na vida presente na
carne, é ilustrada por uma tenda terrestre na qual vivemos e trabalhamos ou da
qual estamos vestidos (2 Coríntios 5:1-2; Filipenses 1:22-24). A segunda fase,
que representa a morte, é ilustrada pela ausência de roupa, um estado de nudez
(2 Coríntios 5: 3-4). O apóstolo deseja evitar essa fase pela experiência da
trasladação (1 Coríntios 15:51-57; 2 Coríntios 5:4), já que a nudez representa
uma condição inadequada na qual ele não pode beneficiar a igreja com seu
ministério (Filipenses 1:24). Noutra parte, Paulo se refere repetidas vezes à
morte como um sono, confirmando que a morte representa um período inativo de
espera, interlúdio durante o qual o apóstolo é incapaz de beneficiar a igreja e
de desfrutar da presença do seu Senhor (1 Coríntios 15:6, 51; 1 Tessalonicenses
4:14). A terceira fase é representada pela vida da ressurreição e ilustrada por
um edifício, casa não feita por mãos, mas da parte de Deus (2 Coríntios 5:1).
Não resta dúvida de que essa fase representa a aspiração máxima do apóstolo, já
que o levará para perto do Senhor (v.6, 8; Filipenses 1:23).
Visto que esta terceira
fase é separada da primeira fase terrena só pelo sono inconsciente sem a
consciência da passagem do tempo para o falecido, é natural que o texto
justaponha essas duas fases (Filipenses 1:23). Somente a ressurreição dos
mortos ou a trasladação para os vivos, e não a morte em si, levará o apóstolo à
ultima fase. Pelas razões já declaradas, ele prefere não morrer (ser despido),
mas passar pela trasladação, embora aceite naturalmente o que vier da mão de
Deus, tanto faz vida ou morte, contanto que se testemunho ou ministério seja
realçado (2 Coríntios 5:9; Filipenses 1:20-25). Quanto à morte, o estado de
nudez, o apóstolo associa-se ao testemunho bíblico em lastimá-la e em aguardar
o dia em que “O mortal será
absorvido pela vida” (2
Coríntios 5:4; ver Ressurreição I. A.2.a).
3. 1 Tessalonicenses 4:14
“Pois, se cremos que
Jesus morreu e ressuscitou, assim também Deus, mediante Jesus, trará, em sua
companhia, os que dormem.”
Os textos mencionados
acima nos ajudam a interpretar outros que parecem sugerir alguma existência
depois da morte e antes da ressurreição dos santos de Deus. Em 1
Tessalonicenses 4:14, lemos que Deus traz com Cristo os que dormiram. A
pergunta inquietante diz respeito aos santos que morreram e que Deus os trará
na companhia de Cristo. Eles não acompanharão Cristo do Céu à Terra, mas serão
ressuscitados da sepultura para acompanhar Cristo ao Céu, como prova o contexto
(cf. 1 Coríntios 6:14; 2 Coríntios 4:14). A pergunta nessa passagem tem que ver
com os que morreram (ou temem morrer) na esperança do advento. Eles estarão em
pior situação do que os que estão vivos e aguardam o regresso do seu Senhor? O
apóstolo garante aos que estiverem vivos antes da segunda vinda de Cristo que
não serão deixados para trás (1 Tessalonicenses 4:15), mas que aqueles que
morreram na esperança do advento subirão para encontrar o seu Senhor primeiro,
até antes que Ele volte sua atenção para os que ainda estão vivos (v. 16-17).
Por essa razão, a companhia de Deus com Seus santos no fim dos tempos sucede a
ressurreição dos mortos e precede a trasladação dos vivos (ver revelação I. A.
2.a).
4. Hebreus 12:23 :
“e igreja dos
primogênitos arrolados nos céus, e a Deus, o Juiz de todos, e aos espíritos dos
justos aperfeiçoados,”
e Apocalipse 6:9 :
“Quando ele abriu o
quinto selo, vi, debaixo do altar, as almas daqueles que tinham sido mortos por
causa da palavra de Deus e por causa do testemunho que sustentavam.”
Os dois textos falam de
“espíritos” e “alma a frase as” como se fossem pessoas que morreram. No
primeiro se encontra a frase “espíritos dos justos aperfeiçoados” (Hebreus 12:23) e o segundo se
refere a almas sob o altar “daqueles
que tinham sido mortos por causa da palavra de Deus e por causa do testemunho
que sustentavam” (Apocalipse
6:9). Juntos os versículos ilustram diferentes empregos da linguagem simbólica.
No primeiro caso, o
apóstolo estabelece distinção entre os dois grupos: os hebreus originais e
procedentes do monte Sinai (Hebreus 12:18-19), e os hebreus cristãos, a quem a
epístola é endereçada e que procedem do monte Sião (v.22). Eles são convidados
a se aproximarem do trono de Deus, onde Cristo atua como sumo sacerdote
(Hebreus 4:16). Entre os congregados no monte Sião, que simbolicamente
representa a igreja de Deus ou a Jerusalém celestial, estão anjos inumeráveis,
os primogênitos registrados no reino, Deus, nosso juiz e os justos
aperfeiçoados. Como no caso daquela primeira reunião no monte Sião (Hebreus
12:18-21), essa segunda reunião no monte Sião compõe-se dos santos de Deus,
anjos e seres humanos, e cristãos hebreus, os primogênitos da fé pela nova
aliança mediada por Jesus. Não se trata de santos desencarnados, mas de pessoas
reais, a quem o apóstolo apela: “Não
recuseis ao que fala” (v.
25).
A segunda passagem
descreve simbolicamente os eventos que ocorrem sob o quinto selo (Apocalipse
6:9-11). Relata o destino dos mártires cristãos, cujo sangue inocente derramado
ainda não foi vingado por Deus. Como o sangue do inocente Abel que clama ao Céu
por ajuda (Gênesis 4:10), assim o sangue desses mártires, simbolicamente fala,
pedindo a Deus que defenda seu caso. A imagem do sangue que fala é familiar na
Bíblia (cf. Hebreus 12:24). Refere-se à voz da vida representada por esse
sangue, uma vida tomada ou dada através do derramamento de sangue. Ele pode
falar de justiça e vingança (no caso de Abel e dos santos debaixo do altar) ou
de graça e perdão (no caso de Cristo). O que clama desde o altar pedindo a deus
por justiça na Terra não são almas desencarnadas, mas o sangue, a vida inocente
desses mártires tiradas injustamente. A resposta que se dá traz uma
garantia dupla. Primeiro, a cada um entrega-se uma vestidura branca, o que
indica que Deus não os esqueceu, que a justiça de Cristo os envolveu, e que não
serão deixados para trás na ressurreição (cf. 1 Tessalonicenses 4:15). Em
segundo lugar, é dito a eles para aguardar (visto que ainda faltam dois selos
para abrir) E repousarem ainda um pouco de tempo em sua sepultura (Apocalipse
6:11). Nessa apresentação simbólica da esperança da ressurreição alimentada por
aqueles que morreram há muito tempo, os mortos não desempenham nenhum papel
ativo, devendo apenas esperar pacientemente pelo tempo estabelecido por Deus.
Isto confirma a concepção bíblica de que os mortos repousam na sepultura até
serem despertados no dia da ressurreição.
Continuaremos
_____
*Professor de Antigo
Testamento e presidente da Andrews University)
Fonte: Capítulo 9 do Tratado
Teológico Adventista
“O Tratado Teológico
Adventista é parte da Série Logos, que será completada com a publicação de sete
volumes do Comentário Bíblico Adventista, mais o Dicionário Bíblico. Essa
coleção trata-se da primeira exposição sistemática de toda a Bíblia produzida
pela Igreja Adventista, com base nas línguas originais. Ela também incorpora
pesquisas arqueológicas que oferecem o contexto histórico para a interpretação
do texto sagrado.” http://www.portaladventista.org/portal/asn---portugu/5050-tratado-teologico-adventista-e-lancado-em-lingua-portuguesa
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