Liberdade Religiosa x ‘fraternidade ecumênica’: quando as aparências enganam

       por  Pr. Reinaldo W. Siqueira¹


Reitor do Seminário Adventista Latino-Americano de Teologia (SALT), Doutor em Teologia e Pós-doutor em literatura hebraica.

Este texto é uma transcrição adaptada*, você pode ouvir o vídeo original aqui .

A Igreja Adventista do Sétimo Dia – IASD se destaca pela defesa da liberdade Religiosa. Em 1893 a IASD estabeleceu a chamada Associação Internacional da Liberdade Religiosa – IRLA, que é a mais antiga associação ou órgão internacional de defesa da liberdade religiosa dedicada à liberdade de consciência para todos os povos.¹

“A IRLA tem uma das melhores redes internacionais entre organizações não governamentais. Ela tem associações nacionais em 80 países – incluindo o Cazaquistão, Azerbaijão e Rússia. Ela contém também treze divisões chamadas Chapters regionais que cobrem toda a superfície do globo com correspondentes em 200 países.

Em 2003, a IRLA foi reconhecida pelo Conselho Econômico e Social das Nações Unidas – ONU sendo-lhe atribuído o estatuto de Organização Não-Governamental das Nações Unidas Categoria II. Estamos representados em Nova York e Genebra e podemos participar nas reuniões do Conselho de Direitos Humanos a cada ano.

Um aspecto fundamental do trabalho da IRLA é garantir que a liberdade religiosa tenha a maior visibilidade possível no cenário mundial. Para esse fim, realiza congressos, conferências regionais, simpósios nacionais e reuniões em todos os locais que visam tornar as questões de certeza de liberdade religiosa no topo da agenda da sociedade. Pois, apesar da importância dos convênios internacionais e da legislação nacional, sem o apoio público para a liberdade religiosa, os ganhos permanecem no nível da teoria, em vez da prática.

A IRLA publica uma revista, Fides et Libertas, que apresenta excelentes artigos sobre a liberdade religiosa de especialistas ao redor do mundo. Transmitindo também um programa de televisão chamado Global Faith and Freedom (Fé e Liberdade no Mundo). E seus membros são convidados a cada ano para dar palestras em universidades e igrejas e para escreverem artigos e darem entrevistas em programas de rádios e televisão.

A IRLA é registrada como uma instituição com missão educacional, sem fins lucrativos e isenta de impostos no Distrito de Columbia. Originalmente organizada pela Igreja Adventista do Sétimo Dia, o propósito da IRLA é a promoção universal e não sectária da liberdade religiosa para todas as pessoas em todos os lugares. O IRLA não se identifica com nenhum partido político em qualquer lugar, nem apoia candidatos a cargos políticos.

Várias tradições religiosas estão representadas no Conselho de Administração. O presidente, em 1989, foi o ex-secretário-geral da Federação Luterana Mundial. O atual presidente é o secretário-geral da Aliança Batista Mundial. A IRLA não tem pessoal remunerado; diretores e conselheiros trabalham voluntariamente. O financiamento para as operações da IRLA vem de organizações que apoiam a missão da Associação”. (http://www.irla.org/)

Portanto, a IASD como igreja mantém essa associação, na qual outras igrejas também estão associadas.

A reflexão que fazemos é, estamos muito envolvidos nesta luta, mas esse conceito, além de fazer parte das cartas internacionais, dos acordos, das legislações de diversos países e da própria ONU, essa ideia é bíblica? Nós podemos encontrar o conceito de liberdade religiosa na Bíblia? Esta parece ser uma pergunta muito interessante porque muitas pessoas podem considerar que não. Por quê? A Bíblia fala de um único e verdadeiro Deus. A Bíblia afirma que só existe um Deus, que é Senhor e Criador de todas as coisas. Este Deus deixou registrado em Seus mandamentos: ‘não terás outros deuses diante de Mim’, ‘amarás ao Senhor e somente a Ele prestarás culto’. Como é que a noção de um Deus único, Senhor, Verdadeiro pode andar junto com a ideia de liberdade religiosa?

A ideia da Bíblia como a Palavra de Deus, revelada por Deus e na qual contém a Verdade não nos reporta a uma contradição se analisamos o conceito de liberdade religiosa? Cada um tem liberdade para seguir o que crê o que pensa ou até mesmo não crer. Liberdade religiosa também envolve aqueles que não querem crer.

Os registros da história nos revelam muita coisa a respeito do que muitos fizeram utilizando essas verdades bíblicas. Eles limitaram a liberdade religiosa. A igreja medieval na Europa, por exemplo, não tinha nenhum conceito de liberdade religiosa. Afirmavam que: ‘só existe um Deus e uma religião, que é o cristianismo, e as pessoas que não concordam conosco não têm liberdade de viver aqui’. Então, não havia liberdade religiosa a partir das convicções religiosas dessa igreja. E assim, muitos países hoje, por exemplo, cuja religião é a religião de Estado, e sendo religião de Estado é considerada religião verdadeira, não dão liberdade de culto para outros que professem uma fé contrária a oficial.

Assim, muitas vezes o conceito de verdade religiosa, de um Deus único, parece militar contra a noção de liberdade religiosa.

Mas, então o conceito de liberdade religiosa é bíblico? Ao analisarmos a Bíblia vemos que sim! O próprio fato de Deus ser o Criador, o Único Senhor e Todo Poderoso, quando analisamos a partir da Bíblia, vemos que essa verdade, que é a Palavra de Deus, nos mostra que um dos direitos fundamentais do ser humano é a liberdade. E entre elas, liberdade de escolha e entre essas liberdades é a liberdade de culto: religião, crença. Isto aparece bem claro na Bíblia.

Na criação Deus deu ao homem a liberdade de obedecê-LO ou desobedece-LO. Em Gênesis capítulo 2 diz que Deus colocou uma árvore do conhecimento do bem e do mal. E Ele disse não coma dessa árvore. Mas, Ele não proibiu que eles comessem. Não impediu que eles comessem. Ele exortou que eles não comessem. Deu ordem para que não comessem, mas o homem tinha liberdade para comer se assim o desejasse. O próprio livre arbítrio dado por um Deus, Onipotente e Único, já mostra que Deus considera a liberdade como um dos direitos fundamentais de todo ser criado a Sua imagem. Porque se não fosse assim Deus teria todo o poder de não dar opção de escolha. Isto nos revela essa ideia fundamental na Bíblia de que a liberdade, inclusive religiosa, é um dos dons de Deus. Várias histórias nos mostram isto.

Deus nunca impôs ao ser humano com força a obrigação de adorá-LO. Nunca! Embora Ele pudesse ter feito isso. Há um convite para adorá-LO. E esse convite vai através da missão. Interessante que vários grupos religiosos têm a ideia de que se você é um eleito de Deus, você é eleito os outros não foram eleitos. Você é o único eleito e isto leva ao exclusivismo e a intolerância. Portanto, se eu sou eleito eu não tenho que tolerar o outro que não é eleito! Se eu tenho a verdade eu não tenho que tolerar o outro que não tem a verdade. Se eu sou o escolhido de Deus eu não preciso me preocupar com os não escolhidos e dar-lhes os mesmos direitos que eu tenho. Isto é curioso porque se analisamos na Bíblia este não é um pensamento bíblico. Vejam aqui o primeiro texto de eleição que dá a mecânica da eleição segundo a Bíblia. Leiam Gênesis 12: 1-3: “O Eterno disse a Abrão: “Deixe sua terra, sua família e a casa de seu pai e vá para uma terra que eu mostrarei a você. Farei de você uma grande nação e o abençoarei. Tornarei você famoso; você será uma bênção. Abençoarei os que o abençoarem e amaldiçoarei os que o amaldiçoarem. Todas as famílias da terra serão abençoadas por seu intermédio”.

Muitos filósofos, teólogos e pensadores quando pensam no conceito de eleição acham essa ideia absurda. Deus tem Seus prediletos, Seus escolhidos? Pessoas que Ele escolhe e a outras não? Isto ocorre quando se pensa em eleição numa conceito de exclusivismo, o que é muito comum entre os seres humanos. E este pensamento sempre conduz à intolerância.

Mas, o que é eleição para Deus? Na história de Abraão aprendemos que Deus faz um convite a Abraão e lhe dá uma missão. Abraão foi escolhido, ele se separou para uma missão: ser uma grande nação, uma benção para as outras nações. Abraão é você e não os outros, mas é você por causa dos outros. Você será o Meu canal de bênçãos para todas as famílias da Terra.

Eleição não é exclusivismo. Eleição é missão! Você, o eleito, vive agora como um parceiro de Deus, como um instrumento de Deus para trazer bênçãos aos outros. Isto é eleição. Este contexto traz a noção de liberdade. Por quê? Porque as pessoas podem aceitar as bênçãos de Deus. Elas não são obrigadas, elas podem. E outras podem rejeitar as bênçãos de Deus. O ser humano tem liberdade de escolher. Deus garantiu essa liberdade.

Isto vemos nos casos mais difíceis da Bíblia. Por exemplo, Caim. Muitos dizem Deus colocou um sinal sobre Caim e seus descendentes. Eles foram amaldiçoados. Mas, não é isto o que diz a Bíblia.

Caim foi um ser humano muito difícil. Deus instou com ele várias vezes. Ele não aceitou o plano de salvação de Deus. Ele não ofereceu o sacrifício que Deus pediu. Deus veio conversar com ele. Em vez de fazer o correto foi e matou o seu irmão. Ele era um assassino! Mas, depois do assassinato, Deus ainda foi falar com Caim, embora este não quisesse conversar com Ele. Rejeitou os conselhos de Deus.

Deus, então, traz o juízo sobre Caim. E o juízo é tão sério que o próprio Caim tem medo. Leia  Gênesis cap.4 

Como Deus é um justo legislador teve que aplicar a pena para quem faz um mal. Todo sistema de justiça tem isto.

Podemos pensar que esta foi a conclusão de Caim: “eu não quero Te seguir Senhor! Eu não quero saber de Ti! Aceito este castigo, que é pesado, vou viver errante, mas para Ti não volto. O juízo é pesado, mas eu tenho medo, pois quem me encontrar vai me matar”.

Na verdade, Caim estava com medo de que alguém fizesse com ele o que ele fez com o irmão. Caim fez a sua escolha. Em Sua misericórdia Deus lhe afirma: ‘Portanto quem matar a Caim, sete vezes sobre ele cairá a vingança. E pôs o Senhor um sinal em Caim, para que não o ferisse quem quer que o encontrasse’. Este sinal era um sinal de proteção. Deus colocou proteção sobre Caim para que ele não fosse assassinado. Durante toda sua vida Caim experimentou o Deus respeitou a sua escolha.

Liberdade, inclusive para dizer não a Deus. As histórias da Bíblia são muito mal interpretadas. Muitos dizem Deus é um sanguinário. Quem não O aceita, Ele aplica Seu juízo e destrói.

Ora, no mundo antediluviano no capítulo 6 de Gênesis diz que grande era ‘a maldade do homem na terra, e que toda a imaginação dos pensamentos de seu coração era má continuamente’. Eles eram perversos, tornaram-se piores que Caim.

“A terra, porém, estava corrompida diante de Deus, e cheia de violência”.Matava-se por nada! Faziam o que queriam! Deus , então, decide destruir a Terra e seus moradores, mas antes de aplicar Sua pena deu um tempo de 120 anos para que o homem se arrependesse dos seus maus caminhos. Comissionou Noé para adverti-los. Durante 120 anos o Senhor apelou para que as pessoas abandonassem seus caminhos maus.

Temos outro exemplo nos Cananeus. A história registra que os povos cananeus foram uma das sociedades e culturas mais corruptas e violentas que já existiram. O que enfrentamos hoje em termos de problemas na sociedade não se aproxima nem em 10% do que acontecia naquela sociedade. Sodoma e Gomorra eram os dois expoentes da cultura de Canaã.

É verdade que encontramos a corrupção moral em nossa sociedade. É verdade que conhecemos todo tipo de sorte de perversão. Mas, vemos à luz do dia nas igrejas ou catedrais atos explícitos de perversão moral? Vemos nesses ambientes a relação sexual como parte integrante do cerimonial e culto? É provável, que façam cultos religiosos estranhos envolvendo tais atos, mas isto não é público. Em Canaã isto acontecia em qualquer templo, em qualquer lugar de adoração. À plena luz do dia! Em Levíticos 18 encontramos que isto fazia parte da religião deles. E o que é mais sério é que eles tinham conhecimento da existência de Deus, portanto, sabiam que havia uma maneira diferente de viver. Vemos coisas semelhantes em nossa sociedade hoje, mas diferentemente do nosso quadro, em Canaã se passava como parte da religião.

Antes de destruir Sodoma e Gomorra Deus as salvou. Gênesis 14 nos conta que quando os reis do Oriente escravizaram a população de Sodoma e Gomorra, Deus usou Abraão para resgatar seu sobrinho Ló e com ele toda a população de Sodoma foi resgatada. Eles não se voltaram para Deus, ao contrário continuaram com suas vidas em pecaminosidade. Contaminando as nações, pervertendo a raça humana. Ao contrário de Abraão que prestou um culto a Deus na cidade de Salém (hoje Jerusalém). Em gratidão fez ofertas ao sacerdote Melquisedeque.

Salém estava na região de Canaã. Os canaanitas eram depravados, apesar de no território haver o conhecimento de Deus. Salém era o principal lugar de culto da Antiguidade. Eles tinham, portanto, o conhecimento de Deus. Mas, em Sua misericórdia Deus deu ainda a essa geração corrupta 400 anos para que se arrependessem dos seus maus caminhos.

Os canaanitas mereciam o juízo pontual, mas Deus em Sua misericórdia leva Abraão e sua família até eles para que fossem uma benção e eles fossem chamados ao arrependimento e assim salvos. Mesmo no período do Êxodo, quando Deus dirigia Israel em direção à Canaã houve o anúncio para que qualquer canaanita que se arrependesse não haveria a sua destruição como foi o caso de Raabe.

Raabe disse: ‘eu bem sei que o vosso Deus é Deus no Céu e na Terra, por isso que aqui há o temor do Seu juízo. Ouvimos o que Deus fez para vocês no Egito, aqui não há mais ânimo nenhum. Eu não quero morrer. Minha família também não’.

O que disseram os espias? – ‘Desculpa Raabe, mas sabe como é que é Deus deu a ordem para matar vocês e nós não podemos fazer nada!’

A ordem era para matar mesmo, crianças, velhos, animais, todo mundo! Mas, o que eles disseram foi: ‘esteja aqui nesta casa, você e toda a sua família. Se vocês querem, não morrerão!’ E Raabe não foi executada, ela entrou em Israel, casou. Tornou-se tataravó de Davi e uma das antepassadas de Jesus. Deus lhe deu uma nova nação.

Na Bíblia quando Deus diz vai lá mata e destrói temos que entender dentro de um contexto chamado mecânica da pregação. Jeremias 18 , Ezequiel 18‘Se em qualquer tempo eu falar acerca duma nação, e acerca dum reino, para arrancar, para derribar e para destruir, e se aquela nação, contra a qual falar, se converter da sua maldade, também eu me arrependerei do mal que intentava fazer-lhe. E se em qualquer tempo eu falar acerca duma nação e acerca dum reino, para edificar e para plantar, se ela fizer o mal diante dos meus olhos, não dando ouvidos à minha voz, então me arrependerei do bem que lhe intentava fazer.’

Quando Deus anuncia a um pecador: ‘certamente morrerás’, o fato de Deus anunciar antes é porque Ele está dando uma chance para que ele se arrependa.

‘diz o Senhor; pois lhes perdoarei a sua iniquidade, e não me lembrarei mais dos seus pecados.’ (Jeremias 31:34)

‘Mas se o ímpio se converter de todos os seus pecados que cometeu, e guardar todos os meus estatutos, e preceder com retidão e justiça, certamente viverá; não morrerá. De todas as suas transgressões que cometeu não haverá lembrança contra ele; pela sua justiça que praticou viverá.’ (Ezequiel 18: 9)

Esse é o nosso Deus, mais paciente do que imaginamos. Um Deus longânimo, este é o nosso Deus, o nosso Senhor, pois a vontade de Deus é de salvar a todos.

Em João 3:16 está escrito: ‘Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. Porque Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para que julgasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele.’ Aqui não diz porque Deus amou a igreja, mas Ele  amou o mundo. Deus dá a liberdade, não obriga, convida.

Evidentemente que como juiz justo e reto, haverá um momento em que Ele trará juízo, porque num sistema legal quem tem liberdade também tem obrigações. Responsabilidade.

Paulo ao falar do cristão na sociedade em sua carta a Tito 3:1-7 diz: ‘Adverte-lhes que estejam sujeitos aos governadores e autoridades, que sejam obedientes, e estejam preparados para toda boa obra, que a ninguém infamem, nem sejam contenciosos, mas moderados, mostrando toda a mansidão para com todos os homens’ [para com os que não são da mesma igreja de vocês]. ‘Porque também nós éramos outrora insensatos, desobedientes, extraviados, servindo a várias paixões e deleites, vivendo em malícia e inveja odiosos e odiando-nos uns aos outros.’

Como cristãos devemos considerar os outros com cortesia.

‘quando apareceu a bondade de Deus, nosso Salvador e o seu amor para com os homens, não em virtude de obras de justiça que nós houvéssemos feito, mas segundo a sua misericórdia, nos salvou mediante o lavar da regeneração e renovação pelo Espírito Santo, que ele derramou abundantemente sobre nós por Jesus Cristo, nosso Salvador; para que, sendo justificados pela sua graça, fôssemos feitos herdeiros segundo a esperança da vida eterna.’


Assim trabalha Deus, em respeito promovendo a liberdade. O desafio que me foi imposto sob este tema ‘Liberdade Religiosa x “fraternidade ecumênica”: quando as aparências enganam’, me faz concluir que, como igreja, portanto, defendemos a liberdade religiosa. Mesmo daquele que não quer crer. Essa é a sua liberdade! Nós defendemos isso. Defendemos que o ser humano tem o direito de crer, segundo lhe comanda a consciência e de não crer se assim ele preferir. Nós trabalhamos por isso como igreja. Trabalhamos mesmo, de maneira séria! E defendemos essa liberdade no mundo todo.

Diante deste contexto mundial, como igreja, nos é colocada uma situação muito curiosa: o conceito do ecumenismo.

Ecumenismo como movimento moderno surgiu de três movimentos paralelos que ocorreram no início do século XX. No meio do seio da igreja cristã protestante. Primeiramente foram as Conferências Missionárias internacionais, cujo enfoque era unir as igrejas para pregar o Evangelho. Isto ocorreu em Edimburgo na Escócia em 1910. E também no Conselho Internacional Missionário, que ocorreu nos Estados Unidos em 1921. O enfoque era unir as igrejas cristãs para pregar o Evangelho. Pouco tempo depois ocorreram as Conferências sobre Doutrina e Ordem em Lausanne na Suíça em 1927. Reuniram-se, portanto, protestantes e cristãos das igrejas Ortodoxas Russas, do Oriente, etc. O enfoque era estudar as doutrinas de cada igreja e as práticas religiosas.

Em 1925 houve as conferências em Estocolmo, na Suécia, para as igrejas estudarem as questões sociais e problemas práticos da sociedade. Estes são os três movimentos que irão se unir e após a segunda guerra mundial formaram o Conselho Mundial das Igrejas em 1948. Atualmente este Conselho reúne mais de 300 igrejas afiliadas que são membros. Este Conselho está presente em mais de 110 países e representam um total de 560 milhões de cristãos.

O propósito desse Conselho eles fundamentam no que está escrito em João 17:21: ‘para que todos sejam um; assim como tu, ó Pai, és em mim, e eu em ti, que também eles sejam um em nós; para que o mundo creia que tu me enviaste.’ Este é o verso lema deles: para que sejamos um e Cristo em nós, para que o mundo creia que Cristo enviou a igreja cristã.

Para o CMI o maior pecado da igreja é a desunião. É a divisão, é a separação. Querem então, unir a igreja para juntos fazerem a obra evangélica. Isto é um lindo ideal.

A IASD não vê problema nenhum para o ideal de unidade naqueles que creem em Deus, nem que se faça a obra do evangelho. O problema que temos é que a partir da segunda guerra mundial o enfoque desse Conselho Mundial tem se concentrado especialmente em mudar a situação política do mundo para poder estabelecer o Reino de Deus na Terra. Aqui se encontram as nossas reservas.

A unidade que a Bíblia fala é a unidade na Palavra de Deus. Em João 17:17 diz: ‘Santifica-os na verdade, a tua palavra é a verdade’. Pode haver unidade entre os cristãos? Claro que sim! Desde que esta unidade esteja baseada nos ensinamentos da Palavra de Deus.

O movimento ecumênico diz que cada um pode interpretar a Palavra de Deus como quiser. Isto não é o problema. O problema é nos unirmos para trabalharmos juntos a favor de causas sociais. A IASD diz sim podemos cooperar em causas sociais que ajudem o ser humano a melhorar sua situação de sofrimento. O Conselho Mundial não enfoca programas de assistência direta ao ser humano, mas mudança de politica de governo. É mudança de regimes governamentais. É mudança de poder. E ai como igreja dizemos: não concordamos. Temos sólidas instituições [a ADRA  é apenas uma delas] para ajuda humana, mas trabalho no sentido político não está no contexto bíblico da nossa missão. Jesus disse: o meu Reino não é deste mundo.

Outro problema com o movimento ecumênico: vamos parar de pregar o evangelho. Cada um ajuda agora uma situação social. A ordenança de Cristo foi que fôssemos ao mundo anunciando Seus princípios e fazendo discípulos para o Seu Reino. Se não pregamos mais o Evangelho, não estamos cumprindo a ordem de Cristo.

O ecumenismo moderno procura estabelecer o reino de Deus na Terra através da justiça social. Os adventistas compreendem que qualquer ação deste corpo, que possa beneficiar o ser humano na sua existência, não será um problema abrir nossas portas e nos unirmos neste enfoque. Porém, a luta pelo poder político ao invés da conversão das almas não é a nossa área.

Por isso, a IASD não é membro do CMI, mas nós não nos eximimos. Somos observadores consultores. Participamos das reuniões, estamos abertos para dar informações daquilo que nos pedem. Reconhecemos os programas de valor que são realizados pelo CMI, mas participamos das reuniões como observadores e consultores.

A Igreja Católica não participa do CMI, mas também está presente em todas as reuniões. Praticamente a ICAR é o corpo religioso em que este Conselho tem mais dialogado e trabalhado junto no mundo todo.

Desde o Conselho Vaticano II em 1964sob o comando do Papa João XXIII o ecumenismo, com o apoio católico, tomou um outro vulto a nível mundial. A visão católica do ecumenismo está expressa num documento, que aparece neste Conselho e depois foi ratificada por uma carta encíclica do Papa João Paulo II. O documento, chamado Decreto Unitatis Redintegratio sobre o Ecuminismo [Unidade na Reintegração], diz o seguinte: ‘Quando os obstáculos á perfeita comunhão eclesiástica tiverem sido eliminados todos os cristãos finalmente irão, numa celebração eucarística em conjunto, ser reunidos na única e verdadeira igreja na unidade que Cristo concedeu a Sua igreja desde o inicio. Nós acreditamos que essa unidade subsiste unicamente na igreja católica como algo que ela nunca perderá. E esperamos que esse processo continue a aumentar até o final dos tempos.’

Então, qual a visão católica de ecumenismo? Todos irão voltar para casa. Nós abrimos as portas e vocês, filhos rebeldes, são bem-vindos de volta. Muitos líderes de igrejas protestantes já foram ao Vaticano pedir perdão por aquilo que Martinho Lutero, Calvino e os outros reformadores fizeram. Como igreja, nós os adventistas, somos orgulhosos por aquilo que Deus fez através destes homens. Não um orgulho para se exaltar! Mas, orgulhosos por saber que Deus cuida dos Seus, restaurando as verdades que foram esquecidas. Só vemos a possibilidade de unidade na crença da mesma mensagem evangélica do mesmo Evangelho Eterno que Deus apresentou a toda a humanidade. Quando os homens se unirem através do Evangelho Eterno, então haverá a verdadeira unidade. Portanto, eis a razão pela qual não participamos desses movimentos de união entre as igrejas ecumênicas protestantes e com o catolicismo.

Finalmente, há uma outra razão, a perspectiva profética. Quando olhamos para Apocalipse 13  e Apocalipse 16 .

O que vemos nestas últimas profecias bíblicas é um movimento mundial que une toda a humanidade, inclusive no aspecto religioso, para não trazer liberdade religiosa às pessoas, mas para tirar a liberdade de todos. Os que não concordam com os princípios exarados por este grupo unito. Assim nós temos a chamada besta que emerge da terra, do mar, junto com a besta que emerge da terra, unindo o mundo todo numa única adoração. É religiosa! E quem não aceitar essa adoração única estará excluído da humanidade. Não terá nem direito de vender, de comprar e de viver.

Apocalipse 16 diz que essa unidade mundial, religiosa, que une tanto o dragão, representando Satanás; o animal que surgiu do mar, a besta, representando este poder que durante toda a história foi intolerante, perseguiu muitos durante a idade média. E, representando o profeta, sendo a palavra profeta ligada a um grupo religioso  que seguiu a Deus e agora não segue mais como Balaão, que era um profeta de Deus , mas abandonou o Senhor e se corrompeu. Eles se unirão para reunir a humanidade para uma última batalha contra Deus.

Fraternidade ecumênica parece um lindo ideal, mas as propostas que estão se desenrolando mostram que as aparências enganam.¹

* adaptada apenas no sentido de adaptação para um texto escrito, nada foi alterado, nem acrescentado em relação às palavras do autor.

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