A Queda da Humanidade

por Frank B. Holbrook  

“E foi expulso o grande dragão, a antiga serpente, que se chama diabo e Satanás, o sedutor de todo o mundo, sim, foi atirado para a terra, e, com ele, os seus anjos.” (Apocalipse 12:9)  

“A exemplo dos anjos, Adão e Eva foram criados agentes morais livres. A proibição de comer do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal propunha-lhes um teste simples, oferecendo a opção de obedecer a Deus porque O amavam ou desobedecer-Lhe, insistindo na própria vontade deles em oposição à de Deus. Quando apareceu a Eva disfarçado de uma serpente, em meio aos galhos da árvore, Satanás pretendia plantar na mente dela sementes de dúvida sobre a integridade de Deus, na intenção de seduzi-la a desobedecer-Lhe. Quando Eva admitiu que ela e o marido tinham recebido permissão para comer de todas as árvores, mas também ordem para não tocar nem comer do fruto dessa árvore específica, Satanás injetou seu veneno com uma afirmação e raciocínio repletos de astúcia.

“Então, a serpente disse à mulher: É certo que não morrereis. Porque Deus sabe que no dia em que dele comerdes se vos abrirão os olhos e, como Deus, sereis conhecedores do bem e do mal.” (Gênesis 3:4-5)Eva aceitou a mentira e a dúvida de Satanás, esquecendo-se rapidamente do que sabia sobre o seu Criador raciocinou talvez que, se os motivos divinos por trás da proibição fossem questionáveis, a proibição e a ameaça de morte não seriam igualmente verdadeiras. […] Eva tomou o fruto e o comeu; depois convenceu Adão a fazer o mesmo. Satanás enganou Eva ao raciocinar como ela, mas Adão escolheu transgredir voluntariamente a vontade de seu Criador após a decisão de Eva.  

E Adão não foi iludido, mas a mulher, sendo enganada, caiu em transgressão”(1 Timóteo 2:14). Ele, ao que parece, aceitou o ponto de vista de Eva sobre o assunto e ficou relutante em perdê-la. Como cabeça da raça humana, no entanto, Adão se tornou responsável por envolver a humanidade em pecado.

Ao compararmos a queda dos anjos com a queda de Adão e Eva, encontramos entre eles nítidas semelhanças. Em ambos os casos o que as criaturas inteligentes questionaram foi: O caráter do Criador, Suas Ordens e confirmaram a vontade da criatura acima da expressa vontade do Criador. O pecado – em seu cerne – é a afirmação de que a criatura é independente de Deus. O pecador se recusa a se submeter à autoridade divina, seja a rebelião numa escala cósmica, seja dentro de um único coração. O pecado é o mesmo para anjos ou pessoas: uma obstinada determinação de não se submeter a Deus, mas a si mesmo.

A queda de Adão afetou a humanidade de diversas formas:  

1-     A morte se tornou sua sorte (Gênesis 3:19; Romanos 5:12)  

2-   O domínio da Terra passou a Satanás, durante o tempo em que Deus lhe permite exercer limitado controle. Ele é descrito como “o deus deste mundo” e seu “príncipe” (2 Coríntios 4:4-5; João 12:31)  

3-   A queda trouxe como resultado a depravação da natureza humana; todos os aspectos – intelecto, emoções, vontade – foram afetados (Jeremias 17:19; Efésios 4:18)  

Em resumo, a rebelião de Adão afastou de Deus a família humana. A humanidade tornou-se:

inimiga de DeusRomanos5:10

. e “filhos da ira”: Efésios 2:3

Isto é, sujeita a julgamento divino. A qualidade característica do pecador é um modo de pensar oposto à lei e a autoridade do Criador.

“Por isso, o pendor da carne é inimizade contra Deus, pois não está sujeito à lei de Deus, nem mesmo pode estar.” (Romanos 8:7)  

“Verdadeiramente nossa terra é o campo de batalha e o palco do universo. A estratégia de Satanás nesta grande batalha é fazer com que Deus pareça mau. Ele espera que amontoado sobre nós a dor, violência, doenças, e morte, possa incitar-nos a acusar a Deus por nossos problemas” […].1 Creditando a Deus os seus próprios malfeitos satânicos.“Mas, para cada mentira que Satanás fale contra Deus, Cristo responde com uma ainda mais clara revelação do amor de Deus.”1

A queda não trouxe como resultado a liberdade e independência para a raça humana. A conquista moral de Satanás sobre Adão e Eva lhe permitiu fazer da Terra uma base de operações em sua guerra contra Deus. Os anjos caídos e a humanidade caída estavam agora mancomunados numa confederação corrupta contra a autoridade do criador. Anjos e seres humanos se tornaram maus pela apostasia.

Ao proferir Seu julgamento sobre Satanás (serpente), porém, o Criador acrescentou uma nova dimensão ao conflito, fornecendo os meios pelos quais a raça caída poderia quebrar seu vínculo pecaminoso com Satanás se o quisesse. Disse Deus a Satanás: “Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e o seu descendente. Este te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar.” (Gênesis 3:15)  

[…] Em sua guerra, Satanás desenvolveu uma intensa hostilidade para com o Criador e cada aspecto de Seu governo. Apesar disso, os seres humanos pecadores não nutriam nenhum ódio contra Satanás. Em Seu decreto, o Criador informou a Satanás que colocaria agora tal atitude dentro da humanidade caída.

A Escritura revela que esse novo elemento é a graça divina, ou seja, a operação do Espírito Santo no coração humano. A presença do Espírito Santo capacitaria os pecadores a odiar o e a se desvencilhar do domínio de Satanás. Jesus tocou nesta verdade quando foi visitado por Nicodemos  

Reflita em João 3:5-8

O Espírito Santo, operando por meio da consciência move-Se por entre a massa da humanidade, empenhado em levar pecadores a Deus. Quando Ele convence do pecado e converte, também gera hostilidade para com o mal e amor pela justiça. É essa a função essencial do Espírito santo: criar inimizade contra o pecado e a injustiça. Isso torna possível libertar os seres humanos da escravidão de Satanás.“Porque Deus, a quem sirvo em meu espírito, no evangelho de seu Filho, é minha testemunha […] ” (Romanos 9:1)  

Buscai o bem e não o mal, para que vivais; e, assim, o SENHOR, o Deus dos Exércitos, estará convosco, como dizeis.”(Amós 5:14)  

Amaste a justiça e odiaste a iniqüidade; por isso, Deus, o teu Deus, te ungiu com o óleo de alegria como a nenhum dos teus companheiros.”(Hebreus 1:9)

Com a queda de Adão e Eva, Satanás obteve o que parecia uma notável vitória no conflito. A humanidade, bem como uma multidão de anjos, insultou abertamente a autoridade divina. A rebelião, iniciada no Céu, espalhou-se, envolvendo os seres humanos. A Terra estava agora mergulhada em revolta e alienada do Céu. […]

Travou-se agora uma batalha moral, e o plano da salvação – estabelecido na eternidade passada – foi posto em operação. […] Ao efetuar o julgamento de Satanás (serpente) no Éden, o Criador anunciou, pela primeira vez a vinda do Messias – o Redentor que, por Sua morte expiatória, tornaria possível a salvação dos pecadores arrependidos e a destruição de Satanás e de suas hostes angélicas.(Gênesis 3:15)  

Não resta dúvida de que o sistema sacrifical foi introduzido imediatamente após a queda de Adão e Eva a fim de manter viva neles e em seus descendentes a esperança do prometido Salvador.

“Pela fé, Abel ofereceu a Deus mais excelente sacrifício do que Caim; pelo qual obteve testemunho de ser justo, tendo a aprovação de Deus quanto às suas ofertas. Por meio dela, também mesmo depois de morto, ainda fala.” (Hebreus 11:4)  

[…] Os singelos sacrifícios patriarcais acabaram se ampliando para um sistema sacrifical plenamente desenvolvido, com sacerdotes credenciados e um santuário (primeiro, um tabernáculo; depois um templo permanente). As informações bíblicas mostram que o sistema de adoração no santuário hebraico (bem como no sistema patriarcal que o precedeu) foi projetado para ensinar por tipo e símbolo, “o evangelho” ou o plano da salvação, conforme inicialmente estabelecido pela Divindade.(Gênesis 8:20     e Hebreus 4:2 )

Conforme decorriam os séculos descrições inspiradas dadas por escrito ampliaram as pálidas prefigurações dos rituais da morte expiatória do Redentor messiânico e do ministério sacerdotal.

“Foi a respeito desta salvação que os profetas indagaram e inquiriram, os quais profetizaram acerca da graça a vós outros destinada, investigando, atentamente, qual a ocasião ou quais as circunstâncias oportunas, indicadas pelo Espírito de Cristo, que neles estava, ao dar de antemão testemunho sobre os sofrimentos referentes a Cristo e sobre as glórias que os seguiriam.”(1 Pedro 1:10-11)  

O lugar do nascimento do MessiasMiquéias 5:2   

O tempo de Sua aparição e morte: Daniel: 9:24-27   

Seu ministério de ensinoIsaías 42:1-7 e Isaías 61:1-4   

A natureza vicária de Sua morte: Isaías 53   

Seu sacerdócioSalmo 110: 1, 4

A princípio, Deus preservou na Terra o conhecimento de Si mesmo por meio de uma linhagem de fiéis patriarcas e suas famílias (Gênesis 5; 11:10-32). Mas, como a expectativa da vida humana declinou após o dilúvio e as populações étnicas se espalharam através da Terra, o Senhor decidiu formar uma nação a partir dos descendentes de Abraão (Gênesis 12:1-2), que atuaria como Sua testemunha perante o mundo inteiro.

No Monte Sinai, Deus organizou os descendentes de Abraão como uma nação. Confiou aos cuidados dessa nação escolhida as Escrituras – a revelação escrita de Sua vontade (Romanos 3:1-2) – a lei moral sob a forma dos Dez Mandamentos, um ampliado sistema sacrifical de adoração, além de Suas promessas (Romanos 9:4-5). Renovando a aliança abraâmica, Deus entrou numa relação pactual com a nação, para a qual prometia: “Andarei entre vós e serei o vosso Deus, e vós sereis o meu povo.” (Levítico 26:12)  

O Senhor estabeleceu Israel na Palestina, lugar estratégico que liga três continentes (Europa, Ásia e África). (Ezequiel 5:5) […] Era desígnio de Deus que Israel se tornasse um farol da verdade a fim de atrair para Si os povos do mundo. (Isaías 56:7). Pretendia o Senhor que as nações de todos os lugares da Terra procurassem a verdade salvadora em Seu santuário e que dissesse entre si: “Vinde, e subamos ao monte do SENHOR e à casa do Deus de Jacó, para que nos ensine os seus caminhos, e andemos pelas suas veredas; porque de Sião sairá a lei, e a palavra do SENHOR, de Jerusalém.”(Isaías 2:3)  

[…] Embora ele (Satanás) seja raramente nomeado no Antigo Testamento, a impiedade que aparece por toda parte nessa época é prova silenciosa de sua presença e atividade. […] Segundo os registros de vida dos primeiros dez patriarcas (Gênesis 5), os habitantes da Terra se tornaram tão ímpios que o Criador teve que intervir. (Gênesis 6:5-12)

O Senhor conteve essa terrível condição enviando uma inundação universal a fim de purificar a Terra dessa longeva e obstinada raça de rebeldes. Poupou, no entanto, o justo Noé e sua família (2 Pedro 2:5) e confiou a eles as verdades divinas da graça e da salvação (Hebreus 11:7)para benefício das populações pós-diluvianas.

A primeira atitude de Satanás na guerra que moveu contra o Céu foi desenvolver sistemas falsos de adoração, ou seja, religiões falsas, a fim de se opor à adoração do verdadeiro Deus e fazer a humanidade se esquecer do seu Criador. Em termos amplos, podemos descrever essas religiões falsas sob a rubrica de “paganismo” (Romanos 1:20-28).  

Com relação à idolatria que se desenvolveu, Satanás perverteu os rituais de sacrifícios típicos instituídos por Deus após o Éden. Ambos os testamentos reconhecem que o diabo ou demônios são poderes que atuam por trás das formas pagãs de sacrifício (Deuteronômio 32:17-18) ( 1 Coríntios 10:14-22).

No período que vai desde o estabelecimento da nação de Israel na Palestina (século XV a.C.), Satanás procurou persistentemente corromper a verdadeira fé, seduzindo Israel para a idolatria pagã (Salmo 106:34-38). Durante esse período, a história espiritual dos hebreus experimentou altos e baixos, em apostasia, reavivamento e arrependimento nacional, apenas para sucumbir mais uma vez às influências degradantes do paganismo circunjacente.

Quando o quarto rei de Israel, Roboão (c. 931 aC.), ascendeu ao trono, a nação estava dividida politicamente em dois seguimentos: o reino do Norte, com 10 tribos, e o reino do Sul, com duas. Devido à decadência espiritual, o reino do Norte caiu diante dos exércitos da Assíria, em 722 a.C., sendo o povo subsequentemente deportado para outros países do Oriente Próximo (2 Reis 17:5-6). Aproximadamente um século e meio depois, Deus disciplinou Judá, o reino do Sul, de maneira semelhante, permitindo que ele fosse conquistado por Babilônia, durante o reinado de Nabucodonosor. Essa severa disciplina – um período de 70 anos de cativeiro, acompanhado de promessas de restauração – curou Judá para sempre da idolatria que havia enfraquecido e desfigurado sua lealdade ao Deus verdadeiro (2 Crônicas 36:11-21).

Satanás quase obteve êxito em levar o povo de Israel à ruína total, mas ao longo de sua história nacional sempre existiu um fiel remanescente para dar testemunho do Deus verdadeiro (1 Reis 19:18). […] durante os governos de Davi e Salomão, o nome do Deus verdadeiro foi honrado e anunciado para além das fronteiras do reino (1 Reis 4:29-34; 10: 1-13, 24). Posteriormente, na história hebraica, a pregação de um relutante Jonas levou os habitantes de Nínive ao arrependimento e ao reconhecimento do Deus verdadeiro (Jonas 3:1-10).

Mesmo durante os longos anos de cativeiro babilônico e os primeiros anos do reino da Pérsia sobre o Oriente Próximo, o Deus verdadeiro foi universalmente honrado por meio do leal testemunho de Daniel e de seus companheiros (Daniel 2:47; 3:28-29; 6:25-27), de Mardoqueu e Ester (Ester 8:17), de Zorobabel e Josué (Esdras 1: 1-5, 7-11)  e de Esdras (Esdras 7:11-16) e de Neemias (Neemias 2:1-8).

A intenção divina de, pelo testemunho da nação de Israel, preparar o mundo para o advento do prometido redentor parece ter falhado grandemente. Mas, como está escrito em Efésios 3:11,“o eterno propósito que estabeleceu em Cristo Jesus, nosso Senhor”não conhece fracasso. A despeito da confusa experiência humana, Deus cumpre Seu propósito de colocar em prática o plano da salvação.”2    

Referências

1-       Aecio E. Carius – Tratado de Teologia Adventista do Sétimo Dia, vol.9 , A Doutrina do Homem.  

“O Tratado Teológico Adventista é parte da Série Logos, que será completada com a publicação de sete volumes do Comentário Bíblico Adventista, mais o Dicionário Bíblico. Essa coleção trata-se da primeira exposição sistemática de toda a Bíblia produzida pela Igreja Adventista, com base nas línguas originais. Ela também incorpora pesquisas arqueológicas que oferecem o contexto histórico para a interpretação do texto sagrado.”   

2-      Frank B. Holbrook, Tratado de TeologiaAdventista do Sétimo Dia, vol.9, O Grande Conflito.  

3-      Crescendo em Cristo  

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