Reavivados na Paz que nos Fortalece

Gosto de visitar catedrais. Embora parecidas elas se distinguem sempre por sua história. Ou às vezes, por um detalhe. Normalmente esses detalhes findam sempre por me trazer alguma reflexão espiritual. Recentemente conheci a Igreja de São Pelegrino em Caxias do Sul- RS. Esta igreja abriga obras artísticas belíssimas  de Aldo Locatelli e Augusto Murer.

Estas pinturas estão no teto da nave da igreja. Aldo Locatelli as pintou deitado. Há algo nelas que me chamou a atenção. Michelangelo foi proibido de colocar demônios em suas obras na Capela Sistina, Locatelli porém, os retratou em São Pelegrino. Na verdade, esta foi uma das condições impostas por ele para aceitar o convite para vir ao Brasil e pintar a Igreja de S. Pelegrino: liberdade de expressão. Esta cena representa a visão que ele tinha do Juízo Final.

Locatelli mostra demônios jogando algumas pessoas para baixo, enquanto anjos elevam outras para Deus. Impressionante a expressividade de suas pinturas! A perspectiva é simplesmente reveladora. Olhem como as pessoas jogadas no inferno foram pintadas maiores e parecem estar mais próximas, enquanto as outras são menores, dando a ideia de que estão mais longe. Coisa de artista mesmo!

Gostaria de refletir um pouquinho sobre esta visão de Locatelli. É intrigante a maneira como ele percebia a justiça divina, a qual retratou nesta sua obra Juízo Final. Na cena do Juízo Final Jesus não é retratado como o abatido sofredor crucificado. Imagem tão comum nas igrejas católicas! Ele reina em meio a divindade. Compreendia Locatelli que Jesus, no processo do julgamento final, será juiz? Isto será uma realidade você pode ver 
neste estudo aqui que fizemos anteriormente. É impossível olhar para o teto da igreja de S. Pelegrino e não pensar em tudo isso. 

Sabemos que os anjos são os mensageiros de Deus enviados  para serviço a favor do Seu povo (Hebreus 1:14). Compreendia Locatelli que no processo da redenção do homem os anjos têm essa participação ativa? 

Mais intrigante ainda é a sensibilidade explícita em suas pinturas da 
Via Sacra. Locatelli introduz elementos estranhos a época de Jesus como na cena da II Estação. Observem uma chuteira.  Estranho objeto! Seria uma menção ao fato de estar no país da copa de 58?


A cruz em todas as cenas tem uma dimensão desproporcional fazendo referência ao peso da dívida espiritual da humanidade em relação a Jesus Cristo.

Isto me fez pensar nestas palavras do Pr. Benedito Muniz: “O cristão corre o risco de permanecer na comunidade da Igreja e nas doutrinas, mas desconectado de Jesus. Esse equívoco tem de ser evitado, pois fatalmente trará a tragédia da apostasia ou de uma vida cristã de amarguras e decepções. Se permanecermos apenas na comunidade, desconectados de Cristo, inevitavelmente nos decepcionaremos, mais cedo ou mais tarde, porque serão humanos se apoiando apenas em humanos.”  O mesmo perigo ocorre quando se alicerça a fé em dogmas humanos e não na verdade escrita na Palavra de Deus. A Tradição não deve jamais sobrepor-se à Verdade divina. Nada, nem ninguém, pode ser igualado a Jesus em Sua missão de intercessão pela raça humana.

“Jesus é a “pessoa” original dos seres humanos. Ele os criou, tornou-Se um deles, morreu por eles, e não pode ficar sem eles. Assim, alegre-se ao reconsiderar o modo como Jesus tratou os pecadores, líderes religiosos, as pessoas comuns e outros. E ao ler, aprenda outra vez como Ele se sente em relação a você.”
 (Morris Venden)

“Mas, quando vier o Consolador, que Eu da parte do Pai vos hei de enviar, aquele Espírito de verdade, que procede do Pai, Ele testificará de Mim”. 
(João 15:26).

Jesus é o grande Sumo Sacerdote. Nem antes, nem depois haverá outro semelhante a Ele. Ninguém pode interceder por nós. Só Jesus! É Sua presença em nós que fluindo para nossas ações gerará em nós o amor por princípio.  Amaremos como Ele amou. Perdoaremos como Ele perdoou. Isso é comportamento sobrenatural. Este é o segredo, Cristo em nós! É nEle que está centrado o cristianismo. Ele  é a Verdade inabalável para quem O aceitou de fato.

As obras de arte desta igreja são muito bonitas!  Você pode ver mais s
obre Aldo Locatelli e sua arte aqui

O que mais me chamou a atenção nesta igreja foram as suas portas de entrada. Três: Na esquerda, a Porta do Amor. Na direita, a Porta da Justiça e no centro uma grande e larga porta: A Porta da Paz. Elas são de bronze.

Fundição é o resultado de um processo definido “como o conjunto de atividades requeridas para dar forma aos materiais por meio da sua fusão, consequente liquefação e seu escoamento ou vazamento para moldes adequados e posterior solidificação”. A Justiça, o Amor e a Paz são princípios divinos ativos que nos alcançam e processam em nós a  transformação.

A fundição dessas portas em bronze foi realizada em Caxias do Sul sob a orientação do mestre uruguaio Miguel Angel Laborde. Os moldes em gesso, porém, vieram da Itália. Obra do escultor italiano Augusto Murer .  O peso total dessas portas é de cerca de 7 toneladas e sua movimentação é feita através de motores elétricos. As portas da Igreja São Pelegrino de Caxias do Sul estão profundamente vinculadas à história local!




A esquerda está a Porta do Amor com imagens que exaltam a vida. Na parte superior, a representação do Anjo Gabriel. Não sei se é estratégica a sua posição, mas é bem instigante o amor como principio primeiro.







À direita está a Porta da Justiça: apresenta dois grupos de imagens: Ao alto, o mapa das dezessete léguas que constituíram o território da colônia de Caxias. O segundo grupo de imagens é o da partilha: a mãe reparte o pão com os filhos, simbolizando a fartura, fruto do trabalho.












No centro a Porta da Paz

Achei extraordinário! A paz protegida, ladeada pelo amor e pela justiça. E proporcionalmente maior. Como o grande resultado! Isto porque a paz produz libertação. Mas, libertação de que?







O amor de Deus é o princípio ativo que faz a justiça se cumprir. O grande inimigo de Deus, que O acusara de tirania e crueldade, não contava com essa justiça. Mas, de que justiça estamos falando? Do direito que Deus conquistou de perdoar porque assumiu a nossa dívida espiritual em Cristo Jesus. Deus fez todo o processo por nós, fora de nós e sem a nossa participação. Neste sentido a salvação é uma ação divina, independente da raça humana.
“Ele foi ferido por causa das nossas transgressões, e esmagado por causa das nossas iniquidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados.” (Isaías 53:5)
A graça de Deus, conciliada em Sua justiça e amor, é a resistência de Deus em nos entregar para o domínio daquele que se declarou inimigo de Deus. Satanás não pode contra Deus, mas eu mesma posso interferir nesta salvação. Eu posso recusar tão grande redenção e Deus inevitavelmente respeitará minha decisão. Minha decisão não altera a potência do Seu perdão, afinal Deus não precisa de motivações exteriores para nos perdoar. Há nEle mesmo motivações internas próprias para nos salvar. Em Seu coração está decidido nos salvar. Ele não exclui ninguém de Sua salvação, os homens com suas escolhas decidem isto. O que precisamos fazer é sermos sensíveis a Sua oferta e aceitarmos viver em consequência disso, permitindo que o Espírito Santo opere em nós os frutos da presença de Cristo em nossas vidas.
O amor de Deus nos atrai, o Espírito Santo nos convence da necessidade de Deus. Submetemo-nos à Sua permanência em nós e isto nos traz a paz. O melhor que há em nós será sempre obra do Espírito Santo.
“Quando Jesus pede obediência é porque já deu a Graça. Ele sabe que nossa felicidade só acontece com nossa vontade afinada à Sua. Essa Palavra de Jesus tem a ver com a restauração da paz edênica na vida do justo. Ao pecar Adão tornou-se aliado do Diabo. Jesus disse que acabaria com aquela ‘amizade’ (Gênesis 3:15). Isso implica na restauração da Sua amizade conosco, pela qual Ele entrou no fundo do poço onde estávamos. Nós apenas respondemos em obediência, pois cada mandamento só visa o nosso bem. […] Neste momento é Graça que respiramos!
O propósito da salvação é levar o cristão à semelhança com Deus; é restaurar em nós a Sua imagem moral. Nosso caráter se torna na semelhança do Seu. Isso acontece pela atuação do Espírito Santo na medida que guardamos Seus mandamentos. Não há incoerência entre Graça e Lei. A Lei é o reflexo do Seu caráter. A Graça é Seu favor em forma de pagamento dos pecados e poder para vivermos a Sua ética. O verdadeiro cristianismo encontra na obediência aos Mandamentos do Senhor a restauração ao propósito da Criação – sintonia com Ele. A Lei não é uma ladra da Graça. Jesus se coloca como exemplo de vida obediente, e diz que a permanência nEle tem relação direta com a guarda dos Seus mandamentos. Deus não está isolado dos Seus mandamentos, portanto, guardá-los por Sua Graça, é permanecer nEle.” (Pr. Benedito Muniz)
Somente quando discernimos isto por experiência pessoal, compreendendo que Jesus não nos condena, nos liberta. Ele nos aceita tais quais somos. É quando discernimos  isto que obtemos a paz – o começo das transformações em nossa vida.
João 14:15 diz: “Se Me amardes, obedecereis aos Meus mandamentos.” Isto significa que, ao compreendermos o amor de Deus e Sua justiça, veremos que eles não nos conduzem à permissividade ‘espiritual’, mas sim à obediência. Deus quer esse resultado para nós. Seu desejo é nos ver felizes. A paz é sinônimo de consolo e conforto. No mundo caótico em que vivemos, apesar de todo o sofrimento humano, podemos ter certeza dessa paz, desse consolo. Relacionar-se com Jesus traz esse equilíbrio emocional.
O amor é um sentimento de doação, por isso para Deus não foi difícil a escolha de doar-Se através de Jesus Cristo. Deus ama a humanidade! Ele quer ver o nosso bem nem que para isso fosse preciso pagar um alto preço. E Ele o pagou. Por isso aquela cruz no calvário. Seus pés percorreram a Via Sacra, que só é especial e real porque teve Alguém excepcional que lhe transpôs.
Nesse momento abro um parêntese e digo aos meus amigos e irmãos católicos que solidarizo-me com seus sentimentos de tristeza ante a todos os acontecimentos e revelações concernentes a questão papal. Há quem diga que tudo é uma jogada ‘política’ da própria igreja Católica no sentido de operar mudanças internas. O fato é que a religião, como os homens vivem hoje, caminha junto com a corrupção.
Fico imaginando o que Jesus sentiu em Seu coração no momento em que esteve diante de Caifás! Como a religiosidade dos compatriotas de Jesus estava corrompida! Toda a negociata inescrupulosa entre os sacerdotes e Judas, um dos Seus discípulos! O beijo da traição!  Mas, Ele não desistiu… E por que Jesus não desistiu? Porque Ele tinha consciência de ser quem Ele era e a importância de Sua missão para o resgate da humanidade. Porque Deus não precisa de motivações exteriores para nos amar. Ele simplesmente nos ama. E é porque Ele nos ama que somos atraídos a Ele. Jesus não desistiu porque sabia que muitos creriam nEle. Jesus sabia que havia entre aquele povo de religiosidade tão corrompida alguns que eram sinceros em sua devoção espiritual.
Precisamos ter fé e discernirmos que Deus está no controle de tudo e Ele sabe tudo o que se passa na Terra. Neste instante, gostaria de me solidarizar com a cristandade e encorajar aqueles que são sinceros em seu viver espiritual.

Passamos todos por esses momentos de tristeza espiritual. Não devemos confundir a fragilidade de alguns representantes com o profundo e complexo contexto do que significa seguir a Jesus. Guardem a fé, mas não a projetem, nem a conservem nos homens. Ainda que sejam grandes líderes. Os cristãos precisam com urgência separar Deus dos homens! Uma coisa é o agir humano, outra coisa é o agir de Deus.
Se isto é bem definido em nossa mente todos esses problemas de testemunhos se diluem. Jesus é o Grande líder, que a despeito dos erros de seus filhos não os abandona. Esse é o tempo para arrependimento, para confissões dos pecados e para decisões.
“Em tempos em que as instituições e a mensagem cristã enfrentam muito descrédito, principalmente por causa dos cristãos e de suas igrejas, a fé deve ser testemunhada mais por atos do que por palavras. Entendo que a humanidade não está resistente ao evangelho; está resistente à propaganda enganosa das religiões institucionalizadas que, por meio de suas estratégias proselitistas, oferecem o mais fantástico dos produtos, o cristianismo, mas não o entregam, porque deixaram de experimentá-lo.
Portanto, o clamor de nosso tempo é testemunhar o cristianismo autêntico, aquele que muda valores, prioridades e comportamentos; aquele que não aliena culturalmente seus fiéis, mas os torna mais social e ecologicamente responsáveis; aquele que transforma igrejas, de clubes sociais fechados em comunidades inclusivas e relevantes para seu contexto; aquele que inspira os fiéis a uma adoração contagiante e transformadora e que resgata nas famílias e congregações a intimidade e beleza dos relacionamentos.”1
Este é o momento de toda a cristandade dobrar seu joelho e ir em busca do consolo do Grande líder: Jesus.

É tempo do humilhar-se. Afinal, independente da nomenclatura da igreja há algo maior que tudo isso: o Reino de Deus e Sua justiça. O mundo está perdendo a fé na religião, no cristianismo, em Deus. E a culpa em grande parte é o péssimo testemunho dos cristãos. São tantos os maus testemunhos por parte da cristandade que chega a entristecer a alma.
Mas essa é a hora de perseverar na fé. Quem errou que não erre mais, confesse seus erros a Deus e mude de atitude desde o interior de sua mente e ande em novidade de vida. Uma vida agradável a Deus, centrada em Sua vontade. Apeguemo-nos no estudo da Bíblia, desta forma guardaremos o discernimento de que por trás de todo esse conflito há um inimigo da fé (Satanás), que luta por destruir a presença de Deus entre os homens. Por isso, ocorrem esses escândalos no mundo religioso.
Não devemos nos acomodar e aceitar como natural essa situação. Isso seria se conformar e tornar-se cúmplice. Esse é o tempo de grandes reflexões espirituais! A paz de Cristo é mais do que uma promessa. É uma certeza! Estejamos certos de que essa paz será fruto da plena justiça de Deus e Ele não Se deixa escarnecer. Aquele que estiver em pé cuide que não caia!
No mais, que nossos olhos contemplem agora as promessas do Senhor registradas em Sua Palavra e encontrem nEle o consolo e o incentivo para combater o bom combate da fé. Sejamos corajosos.
O momento é delicado pede uma reflexão sobre 1 Pedro 1: 1-20. Não há nada entre nós e Deus, a não ser o nosso orgulho, que nos impeça de permanecer no Pai. Que no momento, a decepção com as grandes demonstrações humanas de fé e religião não apague a nossa fé e a paz em nossos corações. Guardemos a certeza de que o amor de Deus brilha em nossa direção e que Sua justiça limpará dos nossos olhos toda a lágrima. A única coisa que Ele nos pede é para amarmos a Verdade e buscarmos conhecê-la ainda que o preço seja negar-nos a nós mesmos.
Só existe uma maneira de experimentar a paz: estarmos envolvido no amor de Deus e vivermos em consequência disto. Somente quando Sua justiça nos alcança experimentamos a verdadeira Paz.
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1. Morris, Leon L. Lucas: Introdução e Comentário (Vida Nova: São Paulo, 1983), p. 223-230.
2. Yancey, Philip D. Decepcionados com Deus (Mundo Cristão, São Paulo: 2004), p. 103-136.

Ruth Alencar
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2 respostas para Reavivados na Paz que nos Fortalece

  1. babacão diz:

    Legal! Texto sensato, racional e, ao mesmo tempo, apelativo. Desperta em nós o grande amor que existe em Cristo Jesus.
    Que Deus te abençoe e tenha um feliz sábado.

  2. Que bom que vc compreendeu a essência da mensagem Rafael. Que Deus abençoe vc e sua linda família. Um excelente sábado na paz do Senhor.

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