Conversando sobre os relatos dos testemunhos da ressurreição de Jesus segundo Mateus 28 e João 20

Uma leitora do Clube de Leitura do Nossas Letras e Algo Mais lendo as referências bíblicas indicadas para a leitura do dia 19.08.2019, do Ano bíblico 2019, afirmou: “Ruth, está muito diferente Mateus 28 e João 20.”
Estas duas referências bíblicas nos trazem narrativas dos relatos da ressurreição de Cristo. Podemos encontrá-las nos 4 Evangelhos:  


  


Em resposta a sua dúvida, querida leitora, sugiro os comentários abaixo:
“Com relação a Marcos 16 existe um debate considerável entre os eruditos para saber se Marcos 16: 9 – 20 fazem parte do original do evangelho de Marcos. Há evidências plausíveis para ambos os lados da questão. Portanto, deve-se ter cautela ao elaborar qualquer ensino específico com base somente nesta passagem. Podemos, porém, usar este valioso resumo, uma vez que ele é confirmado por outras passagens das Escrituras.”1
D. A Carson, em seu Comentário de João diz: “Algumas das alegadas discrepâncias são triviais. João é criticado por dizer que Maria Madalena foi ao túmulo sozinha, embora ela afirme: ‘e não sabemos onde o colocaram!’; alternativamente, ele é criticado por mencionar somente Maria Madalena quando Marcos 16: 1 acrescenta Maria, mãe de Tiago, e Salomé – enquanto Mateus 28: 1 afirma que foi Maria Madalena e a outra Maria, e Lucas 24: 10 especifica Maria Madalena, Maria , a mãe de Tiago, Joana e as outras que estavam com elas. Mas há algumas passagens nos evangelhos em que um evangelista reporta um determinado número de pessoas, e um relato paralelo acrescenta uma ou duas pessoas a mais, ou menciona somente uma delas. Veja, como exemplo, João 19: 38 – 42, “[…] Isso acontece com respeito ao enterro de Jesus e a menção de Nicodemos. Somente as pressuposições que os eruditos têm sobre a natureza da degradação da tradição, combinadas com as noções modernas e ocidentais de reportagem precisa, poderiam ver qualquer dificuldade nessas variantes.”2
“Algumas das dificuldades e das tenções da narrativa dependem muito de informações insuficientes. Por exemplo, Maria Madalena encontra o túmulo vazio e, ao ouvirem seu relato Pedro e o discípulo amado correm para o túmulo. Depois eles voltam para suas próprias casas (v.10), enquanto Maria fica do lado de fora do túmulo chorando (v. 11). Quando ou como Maria chegou lá? Por quase 2 mil anos, assume-se, algo bastante razoável, que ela voltou para o jardim sozinha, ou talvez seguindo os dois homens que foram correndo. O narrador tem obrigação de relatar cada passo em particular? Essa falta de informação combinada com as modernas pressuposições sobre a forma que os editores e comunidades antigas constantemente retalhavam suas fontes e as juntavam em novas peças, levou a várias reconstruções engenhosas, mas inacreditáveis.”2
“A maior parte da discussão contemporânea assume que o livro [de João] foi escrito muito depois dos eventos históricos e que houve pouca ou nenhuma lembrança da testemunha ocular que pudesse ser aproveitada. O processo da escrita dependeu da manipulação  de fontes escritas e talvez da tradição oral, […]”.2
“[…] o estudioso dos evangelhos deve proceder com extraordinária cautela quando tenta fazer harmonização de crítica de fonte ou crítica histórica. A síntese teológica de Kysar, embora não reflita de forma abrangente os temas de João 20, é muito sugestiva: ‘Em cada uma das seguintes [narrativas da ressurreição] nós descobrimos um padrão com as seguintes características:
(1) os beneficiários do aparecimento estão engolfados em uma emoção humana (Maria: luto; os discípulos medo; e Tomé: dúvida).

(2) O Cristo ressuscitado aparece a eles em meio à condição deles.

(3) Como resultado, a condição deles é transformada (Maria, missão; os discípulos, alegria; Tomé, (fé). Desse modo João retrata os aparecimentos como experiências de libertação, assim como Cristo libertou Lázaro do poder da morte […].”2
Lucas 24: 12 ressalta, em sua narrativa, que Pedro retirou-se maravilhado do que havia acontecido.
João 20, ao narrar as emoções de Pedro e João diante da visão do túmulo vazio utiliza o verbo ‘Ver’ (no grego) em três significados específicos: v.5 viu= espiar, olhar de relance; v.6 viu = olhar com cuidado; v. 8 viu= percebeu com compreensão intelectual.
Dos 3 personagens principais da narrativa, Pedro, João e Maria é para Maria que Jesus se deixar ver  primeiramente. Esta foi a primeira aparição após a ressurreição (Marcos 16:9). Por que? Pedro em sua compreensão pelo que viu saíra maravilhado. João também havia compreendido pelo que viu. Maria permanecia inconsolável. Ela ainda não tinha ‘visto’, nem compreendido toda aquela cena no túmulo vazio. Talvez por isso, ela não somente viu como ouviu Sua voz.
O relacionamento de Deus com Seus filhos é personalizado. As Escrituras nos revelam esta verdade. Quando vamos estudar a Bíblia devemos nos lembrar que por detrás de cada livro bíblico existe uma história. Não somos seus leitores primários. O Evangelho de João talvez tenha sido o último livro da Bíblia a ser escrito (95 – 100 dC). E o foi num momento muito particular da história da igreja cristã. Era um momento de crise para a igreja. A morte de João ameaçava representar um problema grande para a Igreja. (João 21:22). Por isso João escreveu: ‘para que continueis crendo em Jesus Cristo, como o Filho de Deus’.
Em João 21 temos a explicação dada pelo próprio João deste fato. Jesus não disse que João não morreria até que Ele voltasse, mas devido essa crendice João temeu que sua morte enfraquecesse a fé dos irmãos. A Igreja acreditava que João não morreria até que Jesus voltasse. João escreveu, então, este Evangelho para preparar a Igreja para sua morte. Os crentes precisavam de um quadro vívido do Salvador que lhes fortalecesse a fé nas grandes verdades do evangelho: encarnação, divindade, humanidade, vida perfeita, morte expiatória, gloriosa ressurreição e o prometido retorno de Jesus.
“João não seria capaz de terminar seu livro sem transpor o milagre da ressurreição para a realidade de seus leitores. Não devemos invejar Tomé e os demais discípulos como se não pudéssemos experimentar o poder da ressurreição de Cristo em nossa vida hoje. Foi justamente por isso que João escreveu este Evangelho – para que as pessoas de todas as eras soubessem que Jesus é Deus e que a fé em Cristo traz vida eterna.”5
“Foi Maria, que amava tanto a Jesus, quem chegou em primeiro lugar ao sepulcro. João, o discípulo a quem Jesus amava e que amava a Jesus, foi o primeiro em crer na ressurreição. Essa sempre será a grande glória de João. Foi o primeiro em compreender e crer. O amor lhe deu olhos para ler os sinais e uma mente para compreender.”4
“Mateus 28:1 menciona que Maria Madalena estava acompanhada pela – outra Maria. nesse caminho até a sepultura. Marcos constata que Salomé, mãe dos filhos de Zebedeu, também as acompanhava. O olhar de João fixa-se unicamente em Maria Madalena, sem que isso necessariamente exclua a presença de outras mulheres, em vista de sua forma narradora sucinta. Uma vez que as mulheres estavam juntas sob a cruz de Jesus, elas também devem ter percorrido juntas o caminho até o sepulcro. O termo – nós no v. 2, – ‘não sabemos onde o puseram’, pode ser um indício de que João também sabe da presença de várias mulheres no sepulcro. Contudo, Maria Madalena desempenha uma função especial. É por isso que agora somente ela é mencionada.”6
 “Depois de sua ressurreição, Jesus não se revelou a todos, mas apenas a testemunhas selecionadas que compartilhariam as boas novas com outros (Atos 10:39-43). O testemunho da ressurreição pode ser encontrado nas Escrituras, no Novo Testamento, e ambos os Testamentos mostram-se coerentes quanto a esse testemunho. Juntos, a Lei, os Salmos, os Profetas e os Apóstolos dão testemunho de que Jesus Cristo está vivo!5
“Mateus registra a tradição de que um anjo do Senhor tinha removido a pedra e ficou sentado sobre ela, olhando para as mulheres -uma figura radiosa, tão deslumbrante como um relâmpago, e com vestes aIvas como a neve. A aparição aterrorizou tanto os guardas postados junto do sepulcro, que eles ficaram inconscientes; e, segundo Marcos, as mulheres também ficaram emudecidas.”8
O fato é que “cada um dos quatro evangelistas dá sua própria versão dos acontecimentos rápidos e intensos da manhã da ressurreição. Na superfície, cada relato é diferente dos demais. As diferenças aparentes não são devido a discrepâncias entre os relatos, mas sim à brevidade das narrativas.”10
Lucas 24:4 fala de dois anjos, dos quais Mateus menciona apenas um. O fato de Mateus e Marcos (16:5) mencionarem um só anjo não significa uma discrepância entre os evangelhos. Gabriel é o anjo principal, e Mateus e Marcos se referem a ele. O fato de o outro anjo não ser mencionado não deve ser tomado como uma negação de sua presença.”10
“Pelo fato de os evangelhos fornecerem um relato tão conciso dos acontecimentos da manhã da ressurreição e de alguns não mencionarem certos detalhes, é difícil determinar a ordem exata dos acontecimentos no sepulcro. O seguinte arranjo experimental parece estar mais de acordo com todas as informações disponíveis sobre o assunto:

1. Na última hora da noite, pouco antes do amanhecer da manhã de domingo, o corpo de Jesus ainda estava no túmulo.

2. Enquanto ainda estava escuro, Maria Madalena iniciou a jornada para o túmulo (João 20:1). As outras mulheres deviam estar com ela quando se aproximou do sepulcro. Talvez elas tivessem combinado encontrar Maria no túmulo na hora do nascer do sol (ver Marcos 16:2).

3. Enquanto ainda estava escuro, e enquanto as mulheres estavam a caminho do túmulo, “um anjo do Senhor desceu do céu”, “chegou-se, removeu a pedra” (Mateus 28:2), e bradou: “Filho de Deus, ressurge, Teu Pai Te chama”.

4. Quando Cristo e os anjos partiram, os soldados romanos, que tinham visto o anjo rolar a pedra, que o ouviram evocar o Filho de Deus e que tinham realmente visto Cristo sair do túmulo, deixaram o sepulcro e foram apressadamente para a cidade com a maior notícia do tempo e da eternidade.
5. Maria Madalena chegou ao sepulcro e encontrou a pedra revolvida (João 20:1), e se apressou a dizer aos discípulos (João 20:2).
6. As outras mulheres, inclusive Maria, mãe de Tiago, juntamente com Salomé e Joana (ver Marcos 16:1; Lucas 24:1, 10), chegaram ao sepulcro. Elas encontraram, sentado na pedra, o anjo que descera do céu, rolara a pedra da porta do sepulcro e chamara Cristo dentre os mortos (Mateus 28:2). Ao vê-lo, as mulheres se viraram para fugir, mas foram contidas pela mensagem do anjo que lhes falou as palavras dos v. 5 a 7 (Marcos 16:6, 7). Entrando no sepulcro, elas encontraram outro anjo sentado na laje de pedra onde o corpo de Jesus estivera (Marcos 16:5; João 20:12). Ele lhes falou as palavras registradas em Lucas 24:5 a 7.

7. Sem resistência, as mulheres deixaram o sepulcro para relatar a ressurreição aos discípulos, como ordenaram os anjos (Mateus 28:8, 9, 11; Marcos 16:8; Lucas 24:9, 10). Os eventos devem ter ocorrido em rápida sucessão, pois quando as mulheres estavam a caminho para encontrar os discípulos, os guardas romanos chegaram à residência dos “principais sacerdotes”, com o seu relatório (Mateus 28:11).

8. Nesse ínterim, Maria Madalena encontrou Pedro e João e lhes contou a descoberta do sepulcro vazio (João 20:2). Os dois discípulos correram ao sepulcro, e João chegou primeiro (João 20:3, 4). Pedro e João entraram no sepulcro, mas nenhum deles viu os anjos (João 20:5-10; Lucas 24:12). Maria os seguiu até o sepulcro e permaneceu ali depois que Pedro e João partiram (João 20:11).

9. Maria se inclinou para olhar dentro do sepulcro e viu dois anjos sentados na laje de pedra onde o corpo de Cristo estivera (João 20:11-13).

10. Levantando-se de sua posição inclinada, Maria ouviu a voz de Jesus, que lhe fez a mesma pergunta anteriormente feita pelos anjos, mas ela não percebeu que era Jesus (João 20.14, 15). Então Jesus Se revelou a ela, o primeiro ser humano, depois da retirada dos soldados romanos, a vê-Lo ressuscitado (Marcos 16:9). A conversa de João 20:15 a 17 ocorreu, e Maria se apressou a comunicar aos discípulos que ela tinha visto o Senhor (João 20:18).

11. Depois da partida de Maria, Jesus subiu rapidamente ao Céu para obter a garantia pessoal de que Seu sacrifício fora aceitável, e que o Pai confirmara (aceitara ou aprovara) o pacto celebrado entre Ele e Cristo antes da fundação do mundo (João 20:17).

12. Depois de ascender ao Pai, Jesus apareceu às outras mulheres, cumprimentando-as com “Salve!” (Mateus 28:9, 10). Isso ocorreu enquanto essas mulheres estavam a caminho para relatar o acontecido aos discípulos (v. 9). Os eventos, portanto, devem ter ocorrido em rápida sucessão. Esta parece ter sido a última aparição ligada aos acontecimentos da manhã da ressurreição, a menos que o aparecimento a Pedro (Lucas 24:34; l Coríntios 15:5) tenha ocorrido logo em seguida ao das mulheres.
Deve-se notar que, após a ressurreição, Jesus apareceu apenas a Seus seguidores pessoais. As aparições que tiveram lugar durante o dia da ressurreição foram:
1. A Pedro (Lucas 24:34; I Coríntios 15:5), antes da caminhada a Emaús.

2. Aos dois discípulos no caminho de Emaús, um dos quais era Cleopas (Lucas 24:13-32; Marcos 16:12).

3. Aos dez discípulos no cenáculo, após o regresso dos dois discípulos de Emaús (Mc 16:14; Lucas 24:33-48; João 20:19-23; I Coríntios 15:5). Tomé estava ausente (João 20:24, 25).

Aparições adicionais entre o dia da ressurreição e o da ascensão foram:

1. Aos onze com Tomé presente, no cenáculo, uma semana mais tarde, provavelmente no domingo seguinte (João 20:26-29).

2. Logo após o encerramento da semana da Páscoa, os discípulos partiram para a Galileia a fim de cumprir o compromisso que Jesus tinha com eles (Mateus 28:7; Marcos 16:7). As aparições na Galileia ocorreram, em geral, dentro dos limites da sexta-feira, 28 de nisã, e do domingo, 21 de zive, ou Iyar. Esses limites se baseiam no tempo da viagem de/para a Galileia. Os discípulos voltaram a Jerusalém a tempo para a ascensão, em 25 de zive. Eles permaneceram, assim, na Galileia, cerca de três semanas e, durante essas três semanas, Jesus se reuniu com eles duas vezes. A primeira dessas aparições foi a sete dos discípulos quando estavam pescando no lago da Galileia (João 21:1-23).

3. O aparecimento a cerca de 500 pessoas em uma montanha na Galileia, no lugar e na hora designados por Jesus antes de Sua morte (Mateus 28:16; Marcos 16:7; I Coríntios 15:6). Nessa ocasião, Jesus pronunciou as palavras de Mateus 28:17 a 20. Os irmãos de Jesus foram convertidos nesse momento.
4. Jesus também apareceu a Tiago, não se diz se na Galileia ou em Jerusalém (I Coríntios 15:7).

5. A aparição aos onze em Jerusalém, na quinta-feira, 25 de zive, quando Jesus os levou ao monte das Oliveiras, nos arredores de Belém, e ascendeu ao Céu (Marcos 16:19, 20; Lucas 24:50-52; At 1:4-12). Esta é provavelmente a reunião com os apóstolos mencionada em 1 Coríntios 15:7.


As sucessivas aparições de Jesus após a ressurreição tinham o propósito de convencer os discípulos e outros crentes da realidade da ressurreição, dar-lhes a oportunidade de se familiarizarem com o Mestre em Seu corpo glorificado, e ainda permitir que Jesus os preparasse para a tarefa de proclamar a boas-novas de salvação para o mundo. Os esforços para impedir a ressurreição e fazer circular um relato falso sobre ela (Mateus 27:62-66) serviram apenas para prover uma confirmação adicional da ressurreição como um fato histórico.


Foi a certeza de um Senhor ressuscitado e vivo que atribuiu convicção à mensagem dos apóstolos quando eles saíram para proclamar as boas-novas da salvação. Eles falaram dessa certeza repetidas vezes, em palavras carregadas de poder e inspiradas pelo Espírito Santo (ver Atos 3:12-21; 4:8-13, 20; 5:29-32; I Coríntios 15:1-23; l Tessalonicenses 1:10, 17; l João 1:1-3). O fato dinâmico da religião cristã é que Seu fundador está “vivo pelos séculos dos séculos” e tem as chaves da morte e do inferno” (Apocalipse 1:18). A essa verdade transcendente, dão testemunho as muitas aparições após a ressurreição do Senhor. As Escrituras têm certificado esse acontecimento de uma forma que convencerá a todos que estão dispostos a examinar as evidências.”10

Ruth Alencar
Recomendamos:

_______
1- Comentário de rodapé, Bíblia Andrews

2- D. A. Carson – O Comentário de João págs. 633- 634, SHEDD.

3- William Barclay, O Novo Testamento Comentado

4- O Evangelho segundo João, Comentário Bíblico Adventista

5- Warren W. Wiersbe, Comentário Bíblico Expositivo: Novo Testamento: volume I

6- Werner de Boor, Evangelho de João – Comentário Esperança.

7- Novo Comentário – João

8- R. V. G. Tasker – Mateus, Introdução e Comentário, Série Cultura Bíblica.

9- Dewey M Mulholland – Marcos, Introdução e Comentário, Série Cultura Bíblica.

10- O Evangelho segundo Mateus, Comentário Bíblico Adventista,

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