A Preeminência de Cristo em Daniel 8 e 9 – Questões sobre a Doutrina

Por George Knight

Por que os adventistas do sétimo dia salientam tanto as profecias, principalmente Daniel 8 e 9? Não seria melhor centralizarmos nossa ênfase e afeição em Jesus Cristo e na salvação por meio da fé nEle? Não constituem as esperanças frustradas de 1844 um fundamento bastante instável sobre que basear a expectativa adventista da iminente vinda de nosso Senhor?

As profecias de Daniel 8 e 9, que nós, adventistas do sétimo dia, cremos estar inseparavelmente ligadas, são-nos preciosas pela simples razão de acreditarmos que seu objetivo principal é apresentar Jesus Cristo como nosso sacrifício expiatório efetuado no Calvário há vinte séculos. Ele passou a ser nosso mediador e sacerdote no Céu, durante os séculos subsequentes, como preparação para Sua volta na qualidade de eterno Rei dos reis, em excelente glória.

Cremos que os capítulos 8 e 9 estão inseparavelmente relacionados um com o outro, devido a chamarem a atenção para os notáveis eventos preparatórios e as gloriosas providências do primeiro e segundo adventos de Jesus Cristo nosso Senhor. E para nós esses dois adventos formam os dois centros correlatos, ou focos, das providências redentoras que Deus tomou em favor do ser humano.1 Constituem os pontos focais do tempo e da eternidade. Achamos não haver maior revelação das provisões do evangelho em toda a palavra profética do que é revelado aí.

No primeiro advento, o encarnado Filho de Deus levou uma existência inigualável e sem pecado entre os homens, como poderoso Servo e Revelador de Deus, e nosso exemplo. Depois, como o (‘cordeiro divino, morreu de modo vicário, expiatório e reconciliador pelo mundo perdido (2Co 5:19). E esse extraordinário ato redentor ocorreu no “meio” da septuagésima “semana” de anos profetizada por Daniel.

Esse evento transcendente demonstrou perante todo o Universo a integridade das múltiplas promessas de redenção em Cristo. E ela foi atestada por Sua triunfante ressurreição dentre os mortos e por Sua ascensão ao Céu, onde, como nosso grande Sumo Sacerdote, ministra na presença de Deus os benefícios da expiação efetuada no Calvário. E cremos que, de acordo com a promessa e a profecia, Ele deu início ao juízo, o segundo e derradeiro aspecto desse ministério celestial, quando o grande período dos 2.300 dias-anos terminou em 1844, como fora predito em Daniel 8:14.

Compreendemos que, na conclusão de Sua obra como mediador, o tempo de graça para os homens terminará para sempre, estando cada caso decidido para a eternidade e vindicadas perante todas as inteligências criadas do Universo a justiça e equidade de Deus. Segundo nossa compreensão, isso será seguido pelo segundo aparecimento pessoal de Cristo, em poder e glória, para ressuscitar os justos mortos à imortalidade e transformar ao mesmo tempo os justos vivos (1Co 15:51-54). Ambos os grupos de remidos – os ressuscitados e os transformados – serão arrebatados juntos para encontrar o Senhor nos ares, a fim de sempre estar com Ele (1Ts 4:17).

Para nós, essa é a gloriosa conexão e a admirável revelação desses dois capítulos. Eles representam e incluem a miraculosa encarnação, a vida sem pecado, a unção divinamente atestada, a morte expiatória, a ressurreição triunfante, a ascensão literal, o ministério intercessor e, então, a gloriosa volta de nosso Senhor a fim de reunir os Seus santos para estar eternamente com Ele. Cremos que isso constitui a própria essência e plenitude do evangelho. E por isso que gostamos de demorar-nos sobre esses capítulos protéticos, que descrevem os dois maravilhosos adventos de nosso Senhor e os aspectos da redenção relacionados com eles.

Os séculos da era cristã que se estendem depois da cruz, e que se aproximam agora de seu fim definitivo, são aí revelados de modo inigualável, em esboço profético, para podermos compreender a sequência dos eventos que estão baseados numa inalterável data inicial. Assim, somos habilitados a conhecer os tempos, ou os últimos dias, em que vivemos, no desenvolvimento do grande e divino plano de redenção em favor dos seres humanos de todas as épocas.

A profecia é essencialmente a revelação da atividade redentora de Deus em e por meio de Jesus Cristo. Esses capítulos são, portanto, muitíssimo preciosos para nós, pois formam a chave da imponente abóbada da completa e gloriosa salvação por meio de Jesus Cristo. Isso não é honrar e amar menos a Cristo, mas é simplesmente outra revelação, que em geral não é salientada muito hoje em dia, de nosso incomparável Senhor e Salvador. Eis o motivo de nós, como adventistas do sétimo dia, demonstrarmos tão profundo interesse e fé no majestoso esboço das profecias de Daniel 8 e 9.

Quanto à segunda pergunta, concernente ao “desapontamento” de 1844, achamos que esses dois capítulos não somente descrevem as ocorrências conducentes aos dois adventos, mas que cada um deles foi acompanhado por grave equívoco e desapontamento inicial. O primeiro foi experimentado pelo grupo de discípulos em conexão com a morte de Jesus na cruz como o Cordeiro de Deus. O outro foi experimentado pelos que aguardavam a gloriosa volta de seu Senhor em 1844, e que depois, a exemplo dos discípulos, descobriram seu erro de interpretação no tocante ao evento predito. Quando os discípulos viram Jesus morrer na cruz, ficaram amargamente desapontados. Suas esperanças se desfizeram, pois estavam convictos de que Jesus era o Messias prometido, como fora confirmado por Sua unção pelo Espírito Santo. Tinham ouvido Jesus declarar que o “tempo” profético para Seu aparecimento estava “cumprido” (Mc 1:15). Sem dúvida, Ele Se referia à conclusão das 69 semanas de anos e ao início da septuagésima semana da profecia de Daniel. Testemunharam Sua morte no tempo especificado, mas só depois da ressurreição compreenderam o significado de Seu sacrifício expiatório.

Por alguma razão, foram incapazes de captar a ideia de que Ele seria “tirado” por meio de violenta morte na “metade” dessa última semana de anos da grande profecia messiânica. Pensaram que, nessa ocasião, Ele restauraria o reino terrestre a Israel, e que ocupariam posições importantes em Seu glorioso reino. Quando, em vez disso, Ele foi julgado, rejeitado e morto no Gólgota, suas esperanças morreram com Ele. E, ao depositarem ternamente Seu corpo dilacerado na sepultura, julgavam que suas esperanças estavam sepultadas de modo irrevogável.

Tudo mudou, porém, quando Ele ressuscitou triunfantemente de Sua morte sacrifical. O próprio Jesus explicou, então, a eles todas as profecias concernentes à Sua vida, morte e ressurreição. Após Sua ascensão, entenderam que o grande desapontamento que experimentaram em Sua morte no tempo designado – assim como Sua ressurreição e ascensão para oficiar como sacerdote celestial em favor do homem – provinha da ordenação divina. E essa sequência de eventos redentores constitui na verdade o fundamento sobre o qual foi edificada a própria Igreja cristã.

O tempo estava certo, mas o evento antecipado – o estabelecimento do reino de glória – estava errado. Cristo não devia ocupar o trono naquela ocasião, mas sim morrer como nosso sacrifício expiatório, e, depois, como nosso sacerdote e mediador, ministrar esse sacrifício no Céu. em favor do homem. Não voltaria como Rei conquistador antes do determinado fim dos séculos. Tudo, então, se tornou claro, simples e razoável. Era tão-somente a atuação do imutável propósito de Deus, fartamente predito pelos profetas da antiguidade.

De modo idêntico, cremos que o grupo do advento de 1844, com os olhos fixos em outro aspecto do “tempo” – o fim dos referidos 2.300 dias-anos, equivocadamente esperou que Cristo aparecesse naquela ocasião como Rei dos reis e Senhor dos senhores, para ocupar o trono e reinar eternamente. Mas semelhante expectativa também era destituída de fundamento, tanto na promessa como na profecia. Cristo, nosso Mediador e Sacerdote celestial, simplesmente devia iniciar o Juízo no tempo designado, ou a etapa final de Seu duplo ministério sacerdotal, indicada pelo aspecto purificador, vindicador ou justificativo que assinala o término dos 2.300 anos. Isso devia ocorrer antes de Sua vinda como Rei dos reis em poder e grande glória. E essa vinda, segundo nossa compreensão, não ocorrerá antes do encerramento do Tempo de Graça para os homens e o fim do ministério sacerdotal de Cristo.

Achamos que o desapontamento dos crentes adventistas de 1844 foi, em certo sentido, semelhante ao dos discípulos em sua expectativa de que Cristo estabeleceria Seu reino por ocasião do primeiro advento. Ambos estavam certos no tocante à sua respectiva ênfase ao tempo, baseada no cumprimento dos períodos proféticos, mas ambos estavam completamente errados quanto ao evento que devia ocorrer. Todavia, o grande plano divino de plena redenção por meio de Jesus Cristo prosseguiu em direção à sua majestosa conclusão, cumprindo meticulosamente cada uma das múltiplas predições, que têm sido realizadas sem divergência, de acordo com o eterno propósito de Deus em Cristo.

Não concordamos, portanto, que a Igreja Adventista resultasse de uma concepção errônea por parte de milhares de pessoas espalhadas através das principais igrejas do Velho e do Novo Mundo acerca da iminência do segundo advento, assim como não admitimos que a igreja apostólica se originou de uma concepção errônea dos eventos que assinalaram o primeiro advento de Cristo.

Em ambos os casos, a transitória interpretação falsa foi apenas um incidente passageiro, que prontamente deu lugar às duradouras verdades fundamentais que constituem a causa e proporcionam plena justificação  para os acontecimentos que se seguiram. Em cada uma das ocorrências, redundou em melhor compreensão de nosso Senhor e de Sua obra redentora em favor do ser humano.

A ênfase sobre o tempo era justificável em ambos os casos, pois a Palavra profética indicara que algo de grande importância estava para acontecer. Em cada uma das ocasiões, a verdade foi obscurecida pelo falso conceito humano. Após o desapontamento inicial, porém, logo houve luz esclarecedora. Em cada episódio, apesar das errôneas expectativas iniciais, realmente teve lugar um extraordinário cumprimento na maravilhosa atuação da atividade redentora de Cristo em favor da humanidade.

Assim é que o primitivo erro no tocante à ordem dos eventos foi logo substituído por perdurável conhecimento e verdade. O breve engano inicial de cada grupo rapidamente cedeu lugar a uma compreensão mais clara do propósito de Deus. A contusão sobre a sequência dos eventos no desenrolar do divino plano de redenção depressa se dissipou por meio de mais nítida compreensão do sublime esboço do perfeito plano da redenção. A doutrina adventista baseia-se, pois, na perfeição do plano e propósito revelados por Deus, e não na imperfeição do conhecimento e compreensão humanos.

Nossa esperança está fundada sobre certezas divinas, e não sobre fragilidades humanas. Fundamenta-se nos sólidos fatos da revelação divina, e não na transitória má aplicação do homem. Baseia-se sobre o invariável e supremo propósito de Deus, e não sobre as defeituosas e limitadas concepções humanas. Tal é o sólido fundamento de nossa esperança do advento. E a isso que damos ênfase – à onipotente e imutável fidelidade de Deus, e não às titubeantes limitações humanas. Não censuramos os apóstolos por seu equívoco, pois vemos a mão divina atrás de tudo isso, conduzindo-os para fora da escuridão. Tampouco censuramos nossos próprios antepassados, pois novamente vemos a mão de Deus guiando-os através de seu desapontamento inicial. O que a princípio era um terrível empecilho logo se tornou um movimento assinalado pela bênção do Céu.

Eis, portanto, em que consiste a nossa fé: Cristo tem avançado de etapa em etapa em Sua todo-abrangente obra em favor da redenção da humanidade perdida e extraviada pelo pecado. Nenhum aspecto, ou evidência, falhou nem falhará. Nossa esperança e nosso triunfo estão inteiramente nEle.

Referência

1. No primeiro advento, Cristo Se ofereceu sem mácula a Deus (Hebreus 9:14) para expiar nossos pecados e reconciliar-nos com Deus, mediante Sua própria morte expiatória. Isso serviu de fundamento para todas as providências redentoras que viriam depois. E no segundo advento Ele virá para a redenção do nosso corpo (Romanos 8:23), e para a eterna remoção de todo vestígio das consequências do pecado. Em torno destes dois pontos está centralizada Sua completa obra de redenção

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Uma resposta para A Preeminência de Cristo em Daniel 8 e 9 – Questões sobre a Doutrina

  1. A dórei a explicação da profecia de Daniel 8-9 preciso compreender melhor

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