Os sete selos de Apocalipse 6 e 8: 1 – Comentários Dr. Jon Paulien

Fonte: Estudos Relacionados em Interpretação Profética – UNASPRESS
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1Vi quando o Cordeiro quebrou o primeiro dos sete selos e ouvi um dos quatro seres viventes dizendo, como se fosse som de trovão:— Venha!2Vi, então, e eis um cavalo branco. O seu cavaleiro tinha um arco, e foi-lhe dada uma coroa. E ele saiu vencendo e para vencer.

Os selos do capítulo 6 retratam eventos na Terra desde a cruz até a Segunda Vinda.

Abrindo os Selos

No capítulo 6 o trono, o livro, e mesmo o Cordeiro desaparecem grandemente de vista. O ponto de ligação com a cena introdutória do santuário é a abertura dos sete selos que selam o livro. Os eventos delineados não revelam os conteúdos do livro. Mas ao Cordeiro abrir cada selo, certos acontecimentos ocorrem na Terra.

Analogias Estruturais ao Antigo Testamento

Maldições da aliança. Encontramos as principais analogias estruturais aos capítulos 4 e 5 nas visões do trono do Antigo Testamento. Por outro lado, o capítulo 6 lembra as maldições da aliança no Pentateuco e sua execução no contexto do exílio babilônico.66

O conceito de “guerra, fome e pestilência” se originaram nas bênçãos e maldições que atingiram o clímax nos Códigos de Santidade67 do Pentateuco.

As maldições da aliança de Levítico 26:21-26 contêm muitas analogias aos quatro cavaleiros de Apocalipse 6:

“E, se andardes contrariamente para comigo

           e não me quiserdes ouvir,

trarei sobre vós pragas sete vezes mais,

          segundo os vossos pecados.

Porque enviarei para o meio de vós as feras do campo, . . .

Trarei sobre vós a espada vingadora

         da minha aliança . . .

enviarei a peste para o meio de vós,

        e sereis entregues na mão do inimigo.

Quando eu vos tirar o sustento do pão,

       dez mulheres cozerão o vosso pão num só forno

       e vo-lo entregarão por peso.”    Levítico 26:21-26

Guerra, fome, pestilência e animais selvagens são juízos preliminares de Deus, tendo em vista produzir o arrependimento (v. 27, 40-42), para que as bênçãos de Deus possam ser restauradas.68 Mais rebeliões, porém, resultará em desolação e exílio, as maldições finais da aliança (v. 28-39).

Deuteronômio 32 tem muitas analogias a Levítico 26. Os versos 23-25 falam de punição para a idolatria de Israel. Os versos 41-43, porém, vão além de Levítico 26. Aqui a espada do Senhor e Suas setas são exercidas para vingar o Seu povo:

Se eu afiar a minha espada reluzente,

             E a minha mão exercitar o juízo,

tomarei vingança contra os meus adversários

             e retribuirei aos que me odeiam.

Embriagarei as minhas setas de sangue”

            (a minha espada comerá carne), . . .

Louvai, ó nações, o seu povo,

            porque o SENHOR vingará o sangue dos seus servos.” Deuteronômio 32:41-43.

Quando exercidas sobre o Seu povo, a espada, fome e pestilência são juízos preliminares tendo em vista levá-los ao arrependimento. Quando exercidas sobre as nações que têm derramado o sangue do Seu povo, são juízos de vingança (cf. o quinto selo).

Guerra, fome e pestilência tornam-se imagens estereotipadas nos profetas, que as usam, como ameaças para impedir a crescente apostasia de Israel e Judá.69 Deixando de se arrepender, ambas as divisões da nação ceifaram a maldição final — exílio.

Com o Exílio, porém, a atenção de Deus é dirigida cada vez mais para as nações que estão afligindo o Seu povo. Os juízos que tinham sido dirigidos contra eles agora se voltam contra seus inimigos. O grande ponto de virada neste processo é dramatizado em Zacarias (1:8-17; 6:1-8). O cenário é um plangente clamor por socorro da parte do anjo do Senhor:

“Ó SENHOR dos Exércitos

até quando não terás compaixão

              de Jerusalém e das cidades de Judá,

contra as quais estás indignado

              faz já setenta anos?”

Respondeu o SENHOR com palavras boas, palavras consoladoras, ao anjo que falava comigo.” Zacarias 1:12-13.

Os cavalos de Zacarias. É muito provável que a visão dos selos tira suas principais imagens da combinação de Zacarias de quatro cavalos coloridos de patrulha com o plangente “Até quando, ó Senhor?” A cena se relaciona com o final do exílio de Judá em Babilônia. Os ímpios estão tranquilos.

Deus havia entregue Judá em suas mãos como punição por seus pecados. Mas os pagãos exageraram em sua função de juízo. Deus agora está prestes a agir em resposta ao apelo da aliança, “Até quando?”

Particularmente significativa para os sete selos é a equação dos quatro cavalos com os quatro ventos [espíritos] do céu” (Zacarias 6:5). Isto pode indicar que os quatro ventos de Apocalipse 7:1-3 são os cavalos do capítulo 6 desatrelados em uma reversão da aliança como aquela de Deuteronômio 32.70

As alusões ao Antigo Testamento assim indicam que os selos focalizam principalmente a experiência do povo de Deus no mundo. A espada, fome e pestilência dos cavalos são calamidades da aliança pelas quais Deus pune aqueles que rejeitam ou desobedecem à Sua aliança, com o intento de levá-los ao arrependimento.

No contexto do Novo Testamento, é claro, a aliança deve ser compreendida em termos da proclamação do evangelho do que Deus tem feito em Cristo. O Novo Israel em Cristo (5:9-10) vence quando se inclui na vitória do seu comandante, o Cordeiro morto. Mas a falha em apropriar-se do evangelho produz consequências inevitáveis e sempre crescentes.

Quando o povo de Deus clama a Ele em sua angústia (6:9-11), Ele se volta contra aqueles que os perseguem. Os cavalos evidentemente têm seu correlativo ou equivalente nos ventos destruidores do capítulo 7. Estes se voltam contra aqueles que não têm o selo de Deus. Os juízos dos cavalos afetam somente quartas partes da Terra (6:8); eles são preliminares e parciais. Seus correlativos do fim dos tempos, os ventos dos juízos (7:1-3) afetam toda a Terra com finalidade.

Apocalipse Sinóptico

Analogias. No Apocalipse Sinóptico71 Jesus parece ter combinado as calamidades da aliança do Antigo Testamento com os sinais celestiais do Novo Testamento do “Dia do Senhor”. As analogias entre o Apocalipse Sinóptico e os selos não estão sempre na mesma ordem, mas a multidão de elos verbais e temáticos torna virtualmente certo que João pretendia que o leitor percebesse uma clara analogia entre eles.72

Da mesma forma que no caso do Apocalipse Sinóptico, assim há uma progressão geral no tempo quando percorremos os selos. A linguagem dos quatro cavaleiros se assemelha à linguagem usada por Jesus ao descrever o caráter geral da Era Cristã entre o Seu tempo e o Segundo Advento. É um tempo de proclamar o evangelho, e de guerra, fome, pestilência e perseguição.73 Depois da queda de Jerusalém/Judá, o olhar profético de Cristo se fixou brevemente em um período de intensificadas aflições e perseguição.74

Essa era de perseguição seria seguida pelos enganos do tempo do fim e os sinais no céu que precedem a própria Segunda Vinda.75 Deve ser notado que os enganos do tempo do fim são omitidos pela breve descrição de João dos eventos que ocorrem na abertura do sexto selo. Contudo, estes são retomados posteriormente com grandes detalhes em Apocalipse 13–17.76 Assim, os eventos do sexto selo devem ser compreendidos como contemporâneos daqueles descritos nesta porção do Apocalipse.

Significado das analogias. Portanto, as analogias entre os selos e o Apocalipse Sinóptico não são apenas enormes em quantidade, mas partilham um notável agrupamento ao longo das linhas cronológicas. Esse agrupamento enfatiza dois pontos principais. Primeiro, os selos são paralelos ao Apocalipse Sinóptico como uma descrição de toda a Era Cristã, não apenas seu tempo final. Segundo, realça o que foi observado anteriormente na comparação de Apocalipse 6 com o capítulo 19. Quer dizer que os quatro cavaleiros expressam as realidades de toda a Era Cristã com ênfase no seu início. O quinto e o sexto selos tratam de eventos que preparam o caminho para o fim da era.

Interpretação de Apocalipse 6

Tempo dos selos. Reconhecemos, a despeito da discussão acima, que vários elementos de Apocalipse 4–6 sugerem para alguns que a passagem envolve o juízo investigativo conforme descrito em Daniel 7:9-14. Insiste-se que a cena introdutória é extraída das imagens de Daniel 7. Assim o trono poderia estar associado ao Lugar Santíssimo do santuário celestial.77 Além disso, acredita-se que o sexto capítulo baseia-se na linguagem do juízo. Contudo, devemos reagir observando que este não é o caminho mais natural de ler os selos.

A conexão entre a passagem dos selos e 3:21, conforme esboçada em detalhes acima, implica que a cena introdutória (Apocalipse 4–5) retrata simbolicamente a entronização de Cristo no santuário celestial em Sua ascensão. O capítulo 7 termina com o povo de Deus na sala do trono. Portanto, os selos do capítulo 6 retratam eventos na Terra desde a cruz até a Segunda Vinda, com foco particular no evangelho e na experiência do povo de Deus.

Embora a cena introdutória tire imagens de Daniel 7, grandes diferenças tornam-se óbvias quando as duas visões são comparadas. Por exemplo, a atenção é dirigida para um livro em contraste com vários em Daniel. O trono não foi posto recentemente. O livro está selado em vez de aberto. Aquele que se aproxima do trono é simbolizado como o Cordeiro, não como o Filho do homem. Assim, é evidente que as duas cenas não são as mesmas. É mais natural compreender a cena introdutória como a inauguração do santuário celestial em vez do seu grande dia da expiação do tempo do fim.

Esta conclusão é apoiada por várias outras observações. Há uma ausência total da linguagem explícita do juízo em toda a seção. A única exceção a isto é 6:10, onde o juízo é compreendido como estando ainda no futuro! Embora alguns achem que o conceito de juízo está presente no capítulo 6 (WATER-HOUSE, 1983, p. 6), ele não está fora de lugar no contexto da pregação do evangelho (João 3:18-21; 5:22-25). O juízo do tempo do fim, porém, somente se torna explícito na linguagem do livro de 11:18 em diante.

As analogias ao capítulo 19 e ao Apocalipse Sinóptico também salientam a colocação de Apocalipse 4–6 na porção histórica do quiasmo de Strand. Esta colocação é ainda mais realçada pela estratégia maior de João para a primeira metade do livro de Apocalipse.78

Concluímos, portanto, que a cena introdutória do santuário é uma descrição da entronização de Cristo e a inauguração do santuário celestial em 31 A.D. Esse evento tornou-se possível por Sua vitória na cruz. O capítulo 6 retrata as consequências sobre a Terra desde aquele tempo até a Segunda Vinda. Seu foco é sobre o evangelho e sobre o processo histórico dentro do qual o povo de Deus vence assim como Cristo venceu.

Primeiro selo – O Cavalo Branco (6:1-2)

Vi quando o Cordeiro quebrou o primeiro dos sete selos e ouvi um dos quatro seres viventes dizendo, como se fosse som de trovão:
— Venha!
Vi, então, e eis um cavalo branco. O seu cavaleiro tinha um arco, e foi-lhe dada uma coroa. E ele saiu vencendo e para vencer.

O primeiro ser vivente (Leão, com uma voz como a de trovão!) faz surgir um cavalo branco cujo cavaleiro carrega um arco e sai para vencer. A interpretação deste selo é decisiva para a compreensão de todos os quatro cavaleiros. Há três importantes pontos de vista.

Esta imagem não se encontra no livro

A maioria dos eruditos preteristas preferem compreender os selos como descrevendo em linguagem literal eventos prestes a ocorrer no Império Romano.79 Nesta interpretação o cavaleiro do cavalo branco simboliza conquista militar.80

Outros eruditos veem no cavalo branco um retrato do futuro anticristo, uma paródia do Cristo retratado no capítulo 19. Nesta interpretação, os selos retratam a atividade do reino de Satanás nos acontecimentos que precedem o fim.

Um terceiro grupo de eruditos compreende os quatro cavaleiros dos selos como uma descrição simbólica da vitoriosa propagação do evangelho e as consequências de sua rejeição. Cada um destes será retomado por sua vez.

1. A opinião preterista. Embora os adventistas não aceitem as pressuposições dos estudiosos preteristas, é possível que a guerra, fome e pestilência dos selos devam ser entendidas em seu significado natural como é o caso com as imagens paralelas do Apocalipse Sinóptico. Se é assim, a mensagem dos selos corresponderia exatamente àquelas do Apocalipse Sinóptico, uma descrição das calamidades naturais e da perseguição que caracterizam a Era Cristã e precedem os sinais no céu que assinalam o seu fim. Contudo, vários fatores sugerem uma abordagem mais simbólica aos selos.

Primeiro, todo o livro do Apocalipse é “significado” (esēmanen, 1:1). Muitas de suas imagens fariam pouco sentido se tomadas literalmente. Segundo, os próprios cavalos nunca são interpretados como literais. Terceiro, sendo que os capítulos 4 e 5 estão repletos de linguagem simbólica, que indicação existe de que é de qualquer forma diferente? Certamente nenhum adventista interpretaria literalmente o quinto selo. Finalmente, as imagens detalhadas dos quatro cavaleiros fazem sentido coerente quando compreendidas à luz de significados figurativos e espirituais conhecidos das pessoas no tempo em que o Apocalipse foi escrito.

2. A opinião futurista. Muitos estudiosos interpretam os selos de uma forma simbólica, mas argumentam que o cavaleiro do cavalo branco é o anticristo por vários motivos. (1) O “arco” representa o poder de Gogue e Babilônia no Antigo Testamento, e estes são tipos do anticristo. (2) as bestas satânicas dos capítulos 11 e 12 “vencem” os santos (11:7; 13:7, nikaō, o mesmo verbo que é usado em 6:2). (3) Há uma contínua interação em Apocalipse entre o verdadeiro e o falsificado.81 (4) O “foi-lhe dada” (edothē, 6:2) é um “passivo divino” e é análogo a 9:1 onde Deus permite que o anjo do abismo dirija suas hordas demoníacas contra a humanidade. (5) Embora o cavalo branco de 6:2 seja uma analogia verbal exata ao cavalo branco de 19:11, há muitas diferenças notáveis entre os dois relatos; 82 assim, eles não devem ser equiparados.

Estes argumentos a favor da hipótese do anticristo não são tão fortes como possam a princípio parecer.

a. Embora o arco seja usado para retratar o poder dos inimigos de Deus no antigo Testamento, ele é em cada caso introduzido para que possa ser esmagado pelo poder superior de Yahweh (Jeremias 51:56; Ezequiel 39:3; Oséias 1:5). Em um número ainda maior de casos, os arcos e flechas representam as armas de Yahweh dirigidas contra Seus inimigos.83

b. Embora a palavra grega para “vencer” seja usada para se referir às bestas e sua perseguição dos santos, o contexto mais imediato de 6:2 é a “vitória” de Cristo na cruz (5:5, 6, 9; cf. 3:21), que provê a substância básica da proclamação do evangelho.

c. O dragão, a besta e o falso profeta realmente falsificam a Trindade. Seu mau caráter é claramente retratado em sua oposição à mulher e aos santos. Por outro lado, no caso de 6:2 João não apresenta nenhuma sugestão de que a cor branca deva ser tomada em um sentido negativo.84 E com apenas uma exceção no Novo Testamento, uma stephanos (coroa de vitória) está sempre associada a Cristo ou ao Seu povo.85

d. Embora seja verdade que a atividade divina deva ser vista por trás dos juízos da quinta trombeta, a entrega da chave em 9:1 e poder em 9:3, 5 indicam que Deus está permitindo, com limitações, que a atividade de Satanás se espalhe rapidamente. Mas no capítulo 6 a atividade dos quatro cavalos não é permitida; é “ordenada.”86 Ordena Deus ao anticristo que se comporte da maneira como ele o faz?

e. As diferenças entre os capítulos 6 e 19 são explicáveis em termos da diferença entre a igreja militante e a igreja triunfante. Cristo usa o diadema87 em 19:12 porque Sua atividade vencedora88 está concluída. Ele usa a coroa de vitória (stephanos) em 6:2 porque o reino celestial conquistado na cruz ainda está no processo de estabelecer o seu domínio na Terra.

3. A opinião historicista. A natureza positiva do cavalo branco é apoiada pelo fato de que o primeiro cavaleiro não produz aflições como os outros três. Não há nenhum indício de falsificação no texto em si. E se o cavaleiro do cavalo branco simboliza o evangelho, a analogia com o Apocalipse Sinóptico é mais completa do que seria de outro modo.89

Parece melhor, portanto, compreender o cavalo branco como simbolizando o reino de Cristo e sua conquista gradual do mundo através da pregação do evangelho por Sua igreja. O que foi ratificado no Céu na entronização do Cordeiro é agora ativado na experiência do Seu povo no decorrer da história humana.

Este quadro está provavelmente baseado no tema israelita da realeza em Salmo 45:3-7:

“Cinge a tua espada no teu flanco, herói;

            cinge a tua glória e a tua majestade!

E nessa majestade cavalga prosperamente,

            pela causa da verdade e da justiça;

            e a tua destra te ensinará proezas.

As tuas setas são agudas, penetram o coração dos inimigos do Rei;

            os povos caem submissos a ti.

O teu trono, ó Deus, é para todo o sempre;

            cetro de equidade é o cetro do teu reino.

Amas a justiça e odeias a iniquidade;

             por isso, Deus, o teu Deus, te ungiu com o óleo de alegria,

                            como a nenhum dos teus companheiros.

O Salmo 45 combina esta imagem militar com aquela de um casamento real (Salmo 45:10-15). Quando a vitória está completa, o casamento pode ocorrer. Mas em Apocalipse 6:2 a vitória está apenas a caminho, o casamento deve aguardar um tempo futuro (19:6-8; 21:9ss.).

Sendo que a frase “vencendo e para vencer” expressa um aumento progressivo de vitória, o cavalo branco não termina com o primeiro século. Antes, o símbolo retrata de um modo geral o progresso do evangelho durante toda a Era Cristã.

Segundo Selo – O Cavalo Vermelho (Apocalipse 6: 3-4)

“Quando o Cordeiro quebrou o segundo selo, ouvi o segundo ser vivente dizendo:
— Venha!
E saiu outro cavalo, que era vermelho. E ao seu cavaleiro foi dado poder para tirar a paz da terra e fazer com que os homens matassem uns aos outros. Também lhe foi dada uma grande espada.” 

Na abertura do segundo selo o segundo ser vivente (novilho, 4:7) faz surgir um cavalo vermelho. Seu cavaleiro recebe uma grande espada e lhe é permitido tirar a paz da Terra, resultando em guerra e mútua destruição humana.

O cavalo não é “vermelho” no sentido técnico. O adjetivo é extraído da palavra grega para “fogo” (pur). O fogo no livro do Apocalipse está frequentemente associado às coisas celestiais (8:5; 14:18) mas sempre para o propósito de juízo (8:7; 20:10, 14, 15).90

Embora as imagens desta passagem lembrem guerra militar, a única outra menção de “paz” em Apocalipse é de natureza espiritual (1:4). A palavra grega para “matar” é normalmente usada para a morte de Cristo e de Seus santos.91 Consequentemente, é improvável que o segundo selo se refira primariamente a conflito militar. Antes, pode representar perseguição, a perda da paz espiritual, e divisão por causa do evangelho.

No Salmo 45 o mesmo cavaleiro que arremessa setas contra seus inimigos também carrega uma espada enquanto cavalga. A mesma mensagem do evangelho que é um cheiro de vida para a vida também pode se tornar um cheiro de morte para aqueles que a rejeitam (2Coríntios 2:14-16; ver Isaías 26:3; 57:19-21). Isto nos faz lembrar as palavras de Jesus:

“Todo aquele que me confessar diante dos homens,

            também eu o confessarei diante de meu Pai, que está nos  céus;

mas aquele que me negar diante dos homens,

            também eu o negarei diante de meu Pai, que está nos céus.

Não penseis que vim trazer paz à terra;

           Não vim trazer paz, mas espada.

Pois vim causar divisão

          entre o homem e seu pai;

          entre a filha e sua mãe e

          entre a nora e sua sogra.

      Assim, os inimigos do homem serão os da sua própria casa.”

                                                                           Mateus 10:32-36

Sempre que o evangelho é pregado ocorrem vitórias, mas ainda mais frequentemente vem divisão e perseguição como resultado de sua rejeição (Mateus 10:34-39). A paz que vem da união com Cristo não deve ser confundida com a paz que vem do favor dos outros.

Terceiro Selo Apocalipse- O Cavalo Preto – 6: 5-6

Quando o Cordeiro quebrou o terceiro selo, ouvi o terceiro ser vivente dizendo:
— Venha!
Então olhei, e eis um cavalo preto e o seu cavaleiro com uma balança na mão. E ouvi o que parecia uma voz no meio dos quatro seres viventes dizendo:
— Uma medida de trigo por um denário; três medidas de cevada por um denário; e não danifique o azeite e o vinho.

Na abertura do terceiro selo o terceiro ser vivente (presumivelmente, o que tem o rosto de um homem) faz surgir um cavalo preto. Seu cavalo segura uma balança.

A cor “preta” não é de outra forma simbólica nas Escrituras Gregas. É normalmente usada para a cor do cabelo ou pele por um lado e para “tinta” por outro. Seu significado nesta passagem provavelmente deriva de seu contraste com o cavalo branco do primeiro selo.

A “balança” (zugon) é frequentemente usada como um símbolo de Deus julgando as pessoas (Jó 31:6; Daniel 5:27). Neste caso seria juízo segundo o evangelho (João 3:18-21; 5:22-25).

O cavaleiro do cavalo preto, diferente dos primeiros dois cavaleiros, aparentemente não se empenha em nenhuma ação. Uma voz no meio dos quatro seres viventes proclama:

‘Uma medida de trigo por um denário; três medidas de cevada por um denário; e não danifique o azeite e o vinho. Uma medida de trigo por um denário; três medidas de cevada por um denário; e não danifiques o azeite e o vinho.’

Cereais, azeite e vinho eram as três principais culturas da antiga Palestina. Como tais, elas representavam a bênção de Deus (Deuteronômio 7:13; Oséias 2:8; Jeremias 2:19, 24). Sendo que os cereais são raso-enraizados, eles são muito mais facilmente danificados em uma seca do que azeitonas e uvas. Um denário era a antiga designação para o salário de um dia. Sob estas circunstâncias, os ganhos de um dia podiam apenas prover trigo suficiente (o cereal de preferência) para a sobrevivência de uma pessoa. A imagem é de uma fome induzida pela seca que ainda não progrediu para o nível em que as plantas de raízes profundas e as árvores são afetadas.92

Mais uma vez a linguagem do selo sugere uma aplicação espiritual em vez de literal. Se o cavalo branco representa o evangelho, o cavalo preto representaria o seu oposto, doutrina errônea.

Embora em Apocalipse 14 a ceifa de cereais represente os justos e a colheita de uvas os ímpios, neste exemplo o contexto de fome implica que todos os três produtos alimentares representam benefícios espirituais. Assim, o selo essencialmente retrata uma fome da Palavra de Deus (cf. Amós 8:11-12), mas uma fome que está limitada pela ordem do Céu de forma que não remova os recursos da graça.93 O evangelho tem sido obscurecido, mas seus benefícios ainda estão disponíveis.

O Quarto Selo- O Cavalo Amarelo – Apocalipse 6: 7-8

Quando o Cordeiro quebrou o quarto selo, ouvi a voz do quarto ser vivente dizendo:
— Venha!
Vi, então, e eis um cavalo amarelo. O seu cavaleiro se chamava Morte, e o inferno o estava seguindo. E lhes foi dada autoridade sobre a quarta parte da terra para matar à espada, pela fome, com a mortandade e por meio dos animais selvagens da terra.

Ao ser aberto o quarto selo, o quarto ser vivente (provavelmente a águia ou abutre) faz surgir um cavaleiro sobre um cavalo de cor amarelo-esverdeada. Esse cavaleiro, Morte, é seguido pelo Hades, e tem autoridade sobre a quarta parte da Terra para matar com a espada,94fome, pestilência (morte),95 e as feras da terra. Esta intensificação das perniciosas atividades do segundo e terceiro cavaleiros é aumentada pelos outros dois elementos do juízo da aliança: pestilência (morte) e animais selvagens (ver Ezequiel 14:20-21; 5:12, 17; Jeremias 14:12; 29:17-18).

Se o selo deve ser compreendido em termos espirituais, ele retrata de longe a mais grave decadência espiritual já descrita no livro (o clímax vem em 18:2- 3). É uma pestilência de alma. Estas pragas caem sobre aqueles cuja rejeição do evangelho tem endurecido ao ponto de quase desespero.

Em 1:18 a morte e o Hades (sepultura) estão claramente sob o controle de Cristo. Em 20:14 eles estão associados com o conceito da “segunda morte”. Esta tríplice analogia apresenta evidência de que o quarto selo envolve a ameaça de permanente exclusão da misericórdia.

Este selo, porém, por mais terrível que seja, não deve ser equiparado com o final término da graça do fim dos tempos do qual ele é claramente uma antecipação. Como foi o caso com o terceiro cavaleiro, esse ginete não “sai”, limitando assim a praga. Nos textos de fundo de Levítico 26 e Deuteronômio 32 estas pragas não são finais, mas são destinadas a evocar o arrependimento. Juízos adicionais sobre os ímpios estão adiante no quinto e sextos selos.

Quatro cavaleiros. Os quatro cavaleiros provavelmente devem ser compreendidos mais como uma progressão de pensamento do que como uma rígida sequência histórica. Em primeiro lugar, a virtual ausência de qualquer referência a tempo está em evidente contraste, por exemplo, com as sete trombetas.96 Além disso, as desgraças refletidas nos selos 2 – 4 são ordenadas em uma ampla variedade de maneiras no Antigo Testamento.97 Uma variedade semelhante de uso pode ser vista comparando-se as três versões do Apocalipse Sinóptico (Mateus 24; Marcos 13; Lucas 21), onde essas desgraças constituem o caráter geral da Era Cristã.

A descrição do cavaleiro do cavalo branco — “vencendo e para vencer” — sugere uma atividade contínua em vez de um período da História a ser seguido por outro período.

Assim, os quatro cavaleiros muito provavelmente representam uma descrição geral da propagação do evangelho (cavalo branco), a resultante perseguição e divisão (cavalo vermelho), e as crescentes consequências da rejeição desse evangelho (cavalos preto e amarelo).98 O tema central é que a pregação do evangelho e a chegada de uma nova era em Cristo não interrompe a propagação do mal no mundo. Isto bem expressa a tensão entre as duas eras tão características do Novo Testamento como um todo.

Contudo, tendo dito isto, é digno de atenção que a progressão temática dos quatro cavalos combina bem com a história dos primeiros mil anos da Era Cristã.

Primeiro, houve a rápida expansão inicial da igreja através da maior parte do mundo então conhecido. O período seguinte trouxe divisão e transigência em face da perseguição. Seguiu-se a perda de uma clara compreensão do evangelho quando a igreja estabeleceu um reino terrestre nos anos depois de Constantino. Finalmente, a Idade Escura de declínio e morte espiritual afundou a Cristandade. Assim a progressão de pensamento bem pode ser cronológica, ao menos no primeiro aparecimento de cada mudança.99

Este ponto de vista é apoiado pelo fato de que os quatro seres viventes nunca estão separados nas Escrituras exceto nos quatro cavaleiros. Seu sucessivo envolvimento (6:1-8) é um indício de que certa progressão cronológica é paralela à progressão de pensamento. Os quatro cavalos, portanto, delineiam tanto a tendência da História no início da Era Cristã quanto as realidades gerais da Era Cristã.100

A pregação do evangelho e suas consequências — vitórias para o reino, perseguição, divisão, e (para aqueles que rejeitam), crescente fome e declínio espiritual — tem comprovado ser realidades tanto no nível corporativo quanto individual.

A saída final do cavaleiro do cavalo branco é atestada pela mensagem do selamento no capítulo 7 e as mensagens dos três anjos no capítulo 14.

Conforme mencionado anteriormente, aos dois primeiros cavaleiros é dito que “saiam”, ao passo que os dois últimos são apenas vistos. Cada um afeta somente uma quarta parte da Terra (6:8). Assim, os “juízos” dos cavaleiros são parciais e reprimidos. O terceiro e quarto cavaleiros em si não são eventos finais.

Eles são preliminares e antecipações parciais do grande colapso de vida e compreensão espiritual do fim dos tempos. Historicamente, eles se ajustam melhor à Idade Média, um tempo de declínio espiritual e perseguição.

O Quinto Selo – As vítimas Debaixo do Altar – Apocalipse 6: 9-11

Quando o Cordeiro quebrou o quinto selo, vi, debaixo do altar, as almas daqueles que tinham sido mortos por causa da palavra de Deus e por causa do testemunho que deram. Clamaram com voz forte, dizendo:
— Até quando, ó Soberano Senhor, santo e verdadeiro, não julgas, nem vingas o nosso sangue dos que habitam sobre a terra?
Então a cada um deles foi dada uma veste branca, e lhes foi pedido que repousassem ainda por pouco tempo, até que também se completasse o número dos seus conservos e seus irmãos que iam ser mortos como eles tinham sido.

Quinto selo (6:9-11). A abertura do quinto selo revela um quadro de pessoas justas mortas “debaixo do altar” que clamam:

Até quando, ó Soberano Senhor,

santo e verdadeiro,

não julgas, nem vingas o nosso sangue

dos que habitam sobre a terra?

A cena está simbolizando crentes que foram sacrificados por sua fé em tempos anteriores à abertura deste selo. Depois de receber vestiduras brancas esses mártires são informados de que eles devem repousar por pouco tempo até que seus conservos e seus irmãos, que estão prestes a ser mortos como eles foram, estejam “completos” ou “consumados”.

A imagem dos mortos debaixo do altar representa a frustração do povo de Deus para quem o conteúdo do livro selado ainda está oculto. Embora sua confiança em Deus não seja abalada, eles anseiam pelo juízo final quando seus nomes serão absolvidos em um tribunal mais elevado. O quinto selo representa o conhecimento divino dos sofrimentos do povo de Deus, e Ele responderá no devido tempo. A preocupação de Deus por Seu povo sofredor é o escopo da passagem; ela não tem por objetivo explicar o estado dos mortos.101

A frase “até quando?” é usada frequentemente no Antigo Testamento, principalmente em relação à destruição de Jerusalém pelos babilônios (Habacuque 1:2). O Salmo 79: 5, 6, 10 é de interesse:

Até quando, SENHOR? Será para sempre a tua ira?

Arderá como fogo o teu zelo?

Derrama o teu furor sobre as nações

que te não conhecem

e sobre os reinos

que não invocam o teu nome […]

Por que diriam as nações:

Onde está o seu Deus?

Seja, à nossa vista, manifesta entre as nações

A vingança do sangue que dos teus servos é derramado.

No quinto selo vemos os resultados das perseguições às quais se faz alusão nos cavaleiros, principalmente o segundo. Assim, o quinto selo representa um ponto posterior no tempo do que os quatro cavaleiros em si.102

Sendo que a frase “Até quando?” é aplicada em Daniel 7:21, 25; 12:6-7 à grande tribulação da Idade Média, Apocalipse 6:10 apropriadamente representa um “clamor” de protesto dos mártires dessa mesma era.

É evidente que o clamor dos mártires ocorre antes do real tempo do juízo e da crise final. Os temos “julgas” e “vingas” indicam um rogo de duas partes.

Os mártires desejam ser vindicados e vingados.103 Partindo da perspectiva do clamor “Até quanto?” o juízo e a vingança são futuros. A dádiva de vestiduras brancas (v. 11) simboliza a vindicação dos mártires no juízo investigativo (cf.3:5). Contudo, a execução desse juízo ainda está no futuro.

A comparação entre 6:10 e 19:2 (veja acima) indica que 6:11 alude ao início do juízo investigativo, enquanto o capítulo 18 descreve sua conclusão pouco antes do Segundo Advento.104 Assim, o quinto selo está dividido cronologicamente em duas partes: (1) o clamor dos mártires é antes do juízo investigativo (v. 10). A dádiva das vestiduras brancas assinala o início desse juízo.

Portanto, o quinto selo bem se ajusta entre as grandes perseguições da Idade Média e a conclusão do juízo investigativo. O fim tem sido protelado. A tarefa do evangelho não está ainda completa quando este selo se aproxima de um fim.

O sexto selo: Fenômenos Celestiais e Terrestres – Apocalipse 6: 12- 17

“Vi quando o Cordeiro quebrou o sexto selo. Houve um grande terremoto, o sol se tornou negro como pano de saco feito de crina, a lua ficou toda vermelha como sangue, as estrelas do céu caíram sobre a terra, como a figueira deixa cair os seus figos verdes quando sacudida por um vento forte, e o céu recolheu-se como um pergaminho quando se enrola.

Então todos os montes e as ilhas foram movidos do seu lugar. Os reis da terra, os grandes, os comandantes, os ricos, os poderosos e todo escravo e todo livre se esconderam nas cavernas e nos penhascos dos montes e disseram aos montes e aos rochedos:

— Caiam sobre nós e nos escondam da face daquele que está sentado no trono e da ira do Cordeiro! Porque chegou o grande Dia da ira deles, e quem poderá subsistir?”

A abertura do sexto selo desencadeia gigantescos fenômenos celestiais e terrestres. Há um grande terremoto (evidentemente antes e distinto daquele de 16:18), uma série de sinais celestiais, e um terremoto ainda maior que move todas as montanhas e ilhas dos seus lugares (provavelmente o terremoto de Apocalipse 16:18).

O terremoto final leva ao grande terror da humanidade não salva, que  se utiliza das cavernas e rochas das montanhas em uma fútil tentativa de se esconder da presença daquele que se aproxima e que está assentado sobre o trono e da ira do Cordeiro. Os perdidos bradam: Porque é vindo o grande dia da sua ira; e quem poderá subsistir?

Os sinais celestiais e terremotos deste selo não são exclusivos a esta passagem. Eles lembram uma longa história de fenômenos semelhantes nas passagens do “dia do Senhor” do Antigo Testamento.105 Talvez, ainda mais importante para João é o uso por Jesus dos sinais celestiais em Mateus 24:29:

Logo em seguida à tribulação daqueles dias,

o sol escurecerá,

a lua não dará a sua claridade,

as estrelas cairão do firmamento,

e os poderes dos céus serão abalados.

A analogia com o Apocalipse Sinóptico argumenta que alguns, pelo menos, destes fenômenos caem logo após o período da grande tribulação a que alude o quinto selo. Que os sinais celestiais devem ser compreendidos como literais é indicado pelo fato de que cada um é seguido por um “como” (hōs) que nesta construção introduz uma analogia figurativa a um evento real.106

O sexto selo, portanto, abarca o período desde o clamor dos mártires até o fim dos tempos. Sendo que os sinais celestiais de 1780 e 1833 tiveram um grande impacto sobre o interesse em desenvolvimento no estudo da profecia, o terremoto de Lisboa de 1755 é o melhor candidato para o terremoto de 6:12.107

Apocalipse 6:14 aponta adiante para a queda final de todas as coisas terrestres e celestiais à medida que elas pertençam a este planeta (cf. 2Pedro 3:9-12).

O Sétimo Selo: Apocalipse 8: 1

“1Quando o Cordeiro quebrou o sétimo selo, houve silêncio no céu durante quase meia hora

A abertura do sétimo selo resulta em apenas uma simples declaração no sentido de que um breve silêncio ocorre no céu. O silêncio funciona como uma calma depois da tempestade de destruição ocasionada pela segunda vinda de Cristo. Várias explanações têm sido apresentadas para explicar o significado desse silêncio, mas nenhuma se tem demonstrado decisiva.

Uma possibilidade é que o silêncio é um anúncio de que a justiça divina tem sido plenamente executada. Isto se baseia em declarações textuais que em face da injustiça Deus recusa guardar silêncio até que a justiça tenha sido satisfeita (cf. Sl 50:3-6; Is 65:6-7).

‘Por amor de Sião, me não calarei e, por amor de Jerusalém, não me aquietarei, até que saia a sua justiça como um resplendor, e a sua salvação, como uma tocha acesa. As nações verão a tua justiça, e todos os reis, a tua glória.” Isaías 62:1-2

Outras possibilidades para interpretar o silêncio deste selo incluem o equivalente do fim dos tempos ao silêncio no princípio (Gn 1:2; cf. 4 Esdras 7:26-31); o silêncio do Universo ao observar a destruição do mal (em nítido contraste com a celebração de Apocalipse 5); e o silêncio da sala do tribunal quando o livro é finalmente aberto.108

Sendo que o sexto selo retrata os eventos que envolvem a própria Segunda Vinda (6:15-17) e descreve a presença dos redimidos diante do trono (7:9-17), o sétimo selo pode ser melhor compreendido ou como um precursor enigmático do milênio ou a paz universal que resulta da consumação no final do milênio (cf. Ap 20:9-15).

Considerações finais

Embora nenhuma tentativa fosse feita para alinhar as interpretações deste capítulo com as de Urias Smith (1897, p. 384-434) suas opiniões sobre os selos são notavelmente semelhantes às conclusões deste capítulo. Embora às vezes ele mesmo não se batesse contra o texto,109 suas conclusões devem ser levadas a sério pelos adventistas quando ele o fez.

Que diferença faz para o viver cristão diário que tenhamos obtido uma melhor compreensão desta profecia? De grande importância é o fato de que nossa passagem descerra a cortina que oculta o mundo invisível da realidade espiritual de nós que vivemos na Terra. A grandiosa cena introdutória (Ap 4–5) nos impressiona de que as cenas que se seguem são uma visível e terrestre expressão do conflito invisível e celestial entre Cristo e Satanás (STOTT, 1986, p. 247).

O mesmo Cristo que protege as igrejas (Ap 1–3) também se assenta no trono de Deus nos lugares celestiais (Ap 4–5). Ele sabe e cuida quando Seu povo sofre ou é forçado a percorrer esta vida sozinho por causa de sua fé nEle. Não é surpreendente, portanto, que o povo de Deus ao longo da Era Cristã tenha encontrado significado para a vida na estranha coleção de imagens que constituem as porções apocalípticas do livro.

Os selos do capítulo 6 fornecem uma impressionante descrição da vida cristã neste mundo entre a cruz e a Segunda Vinda. O povo sofredor de Deus pode às vezes indagar se a realidade não prova ser sua fé uma ilusão. A glória e o brilho parecem residir com os inimigos do evangelho. Mas o fato de que horríveis realidades da história e experiência terrestres seguem a abertura dos selos no Céu demonstra que essas realidades estão sob o controle do Cordeiro, que já está reinando (Ap 5) e cujo reino perfeito logo será consumado (11:15-18) (STOTT, 1986, p. 248).

Para os santos assediados um tratado teológico é muito menos eficiente do que as imagens apocalípticas de um cordeiro morto que alcança uma vitória irreversível. Através da contemplação pela fé desse Cordeiro e Sua vitória, os sofredores e perturbados obtêm coragem para completar sua carreira. Depois de citar porções de Apocalipse 5 e 7, diz Ellen White (2008, p. 45): Compreendereis a inspiração da visão? Permitireis que vossa mente se demore no quadro? Não estareis realmente convertidos, e então saireis para trabalhar em um espírito inteiramente diferente do espírito em que tendes trabalhado no passado, desalojando o inimigo, demolindo cada obstáculo ao avanço do evangelho, enchendo os corações com a luz e paz e alegria do Senhor?

Se permitíssemos que nossa mente se demorasse em Cristo e no mundo celestial, acharíamos um poderoso incentivo e apoio para combater as batalhas do Senhor.

O orgulho e o amor do mundo perderão seu poder ao contemplarmos as glórias daquele país melhor que tão logo deverá ser o nosso lar. Comparadas com a amabilidade de Cristo, todas as atrações terrestres parecerão de pouco valor (WHITE, 1887).

Há mais uma ideia de decisiva importância. Estamos na História entre dois terremotos e duas séries de fenômenos celestiais (Ap 6:12-14). Os presságios do fim dos tempos já estão em andamento. Embora a aparente demora do Advento leve muitos a dizer “Até quando?” é confortante saber que do ponto de vista do Pai, que vê o fim desde o princípio, estamos quase no lar!

Você pode ver mais sobre os sete selos aqui

Referências

66 Veja tabela 3 para uma lista de possíveis alusões diretas ao Antigo Testamento em Apocalipse 6. Os itens assinalados por um asterisco são citados por no mínimo três grandes comentaristas. Os outros são adicionados pelo autor porque eles lançam alguma luz sobre a linguagem de Apocalipse 6.

67 Levítico 17–26 é conhecido dos eruditos como o Código de Santidade. Contém uma série de mandamentos detalhados relacionados à vida diária à luz da aliança entre Deus e Israel. Levítico 26 oferece recompensas e punições (bênçãos e maldições) para a obediência e desobediência às estipulações do Código de Santidade. Uma seção paralela de material pode ser encontrada em Deuteronômio 12–30, onde uma série de mandamentos detalhados (12–26) é também seguida por bênçãos e maldições (27–30). Embora não seja tecnicamente parte das bênçãos e maldições, os cânticos de Moisés em Deuteronômio 32 e 33 continuam aqueles temas com muitas analogias a Levítico 26.

68 Em termos práticos, guerra, fome e pestilência são a linguagem de um cerco com sua resultante fome, epidemia e morte.

69 Jeremias 15:2-3; Ezequiel 5:12-17; 14:12-23; e Habacuque 3:2-16 têm suficientes analogias aos sete selos para sugerir a possibilidade, mas não a certeza, de que o revelador estava ciente delas ao escrever Apocalipse 6.

A certeza de espada, fome e pestilência entre as maldições da aliança em Levítico e Deuteronômio parece ter levado a um uso estereotipado no tempo do exílio babilônico (Jeremias 14:12-13; 21:6-9; 24:10; 29:17-18; Ezequiel 6:11-12; 33:27). Guerra, fome e pestilência se tornaram termos técnicos para as calamidades da aliança pelas quais Deus pune a apostasia da aliança.

70 Nota editorial: Esta hipótese, contudo, exigiria que o cavalo branco e seu cavaleiro invertessem os papéis e se tornassem uma força destruidora tão terrível como as outras três, uma inferência duvidosa.

71 O sermão apocalíptico de Jesus registrado em Mateus 24–25, Marcos 13 e Lucas 21.

72 Veja tabela 4.

73 Marcos 13:5-13; Mateus 24:4-14; Lucas 21:8-9, 12-19.

74 Marcos 13:19-20; Mateus 24:21-22; ver Daniel 7:25; Apocalipse 6:9-11; 12:6, 13-14.

75 Marcos 13:24-27; Mateus 24:23-31; Lucas 21:25-28; cf. Apocalipse 6:12-17.

76 Analogias entre Mateus 24:23-27e Apocalipse 12–17 incluem tais conceitos como sinais miraculosos destinados a enganar (Apocalipse 13:13-14; 16:13-14); falsos cristos (veja besta); falsos profetas (besta que subiu da terra; cf. 16:13); desertos (Mateus 24:26; cf. Apocalipse12:14; 17:3), e o nascer do sol (Mateus 24:27; cf. Apocalipse 16:12).

77 Tem sido sugerido que sendo que Jesus está no lugar santo em Apocalipse 1:12-20 (note a menção dos castiçais), Apocalipse 4–6 retrata uma mudança para o Santíssimo. Todavia, em Apocalipse 1 Jesus não está no lugar santo; Ele está entre as igrejas na Terra. Somente em Apocalipse 4 o santuário celestial aparece à vista.

78 Veja o cap. 10, Selos e trombetas: algumas descobertas atuais, neste volume.

79 Tal como uma invasão dos partas vindos do oriente que o revelador acha que prenunciará as consequências celestiais do dia do Senhor (ver COLLINS, 1979, p. 44-45).

80 Os quatro cavaleiros, segundo esta interpretação, retratam guerra, rixa, fome e pestilência, sendo as três últimas a consequência da primeira.

81 Note que o dragão, a besta e o falso profeta de Apocalipse 12 e 13 são uma trindade falsificada com características que se assemelham ao Pai, Filho e Espírito Santo.

82 Ex., duas diferentes palavras gregas são usadas para a coroa (Ap 6:2 — stephanos; Apocalipse 19:12 — diadēmata) usadas pelos cavaleiros respectivamente.

83 Deuteronômio 32:41-43; Salmo 7:13; Lamentações 2:4; 3:12; Habacuque 3;8-9. É significativo que o revelador estava provavelmente intencionalmente aludindo a Deuteronômio 32, e possivelmente também a Habacuque 3.

84 Note as seguintes associações de “branco” no livro de Apocalipse: Com Cristo, 1:14; 14:14; 19:11, 14. Com os crentes, 2:17; 3:4, 5, 18; 7:9, 13, 14; 15:6; 19:8. Com os seres celestiais, 4:4; 19:14. Com Deus, 20:11.

85 Ver exemplo Mateus 27:29 e análogas; 1Coríntios 9:25; 1Timóteo 4:8; Tiago 1:12; Apocalipse 2:10; 3:11; 14:14. A exceção a esta regra é Apocalipse 9:7 onde as stephanoi são colocadas nas cabeças dos cavaleiros demoníacos procedentes do Abismo. Mesmo aqui, porém, a aplicação é qualificada pelo uso de “como que” (hōs). Os cavaleiros demoníacos realmente não usam stephanoi, apenas parecem usar. 86 Ver a repetida ordem “vem” (erchou).

87 A coroa real de autoridade reinante.

88 Simbolizada pela coroa de vitória (stephanoi) de Apocalipse 6:2.

89 No Apocalipse Sinóptico é a pregação do evangelho que precipita os eventos do eschaton.

90 Para uma discussão mais completa do “fogo” como um conceito simbólico veja meu Decoding Revelation’s Trumpets (1988, p. 248-249, 368-369).

91 Apocalipse 5:6, 9, 12; 6:9; 13:8; 18:24. A única exceção a isto é Apocalipse 13:3 onde a besta do mar é descrita como uma contrafação de Cristo.

92 De acordo com Levítico 26:26, que fica no fundo desta passagem, distribuir pão por peso é um sinal de grave fome.

93 Nesta interpretação o azeite poderia representar o Espírito e o vinho o sangue de Cristo. Na parábola do Bom Samaritano estes foram remédios curadores.

94 A espada do segundo selo é uma palavra grega diferente (machaira) daquela do quarto selo (rhomphaia). Machaira é a palavra usada em Levítico 26 e Deuteronômio 32. A aplicação nas passagens de “espada, fome e pestilência” de Jeremias e Ezequiel está dividida entre as duas palavras; assim elas parecem aqui essencialmente idênticas em significado.

95 No grego do Antigo Testamento a palavra para “morte” (thanatos) traduz a palavra hebraica para “pestilência” nas passagens principais da maldição da aliança. Ver exemplo em Jeremias 14:12; 24:10; Ezequiel 5:12, 17. Sendo que thanatos é seguida pelo Hades (a habitação dos mortos no pensamento hebraico), ambas as ideias parecem combinar, embora personificadas separadamente.

96 Note os ais sucessivos das trombetas (Apocalipse 8:13; 9:12; 11:14); os cinco meses (9:5, 10), os quarenta e dois meses (11:2), e os três dias e meio (11:9).

97 Uma dúzia de passagens do Antigo Testamento registram no mínimo três das imagens tipo ai dos quatro cavaleiros (setas, espada, fome, pestilência, e animais selvagens). Quatro das cinco são encontradas em Levíticos 26:21-26; Deuteronômio 32:23-25; Jeremias15:2-3; Ezequiel 5:12-17; 14:13-19, 21; mas em nenhuma destas duas elas estão na mesma ordem. Da tripla listagem, quatro apresentam a mesma sequência que em Apocalipse 6: guerra, fome e pestilência (praga): Jeremias 14:12-13; 24:10; 29:17-18; Ezequiel 6:11-12; mas duas mudam a ordem: Jeremias 21:6-9; Ezequiel 33:27.

98 Na linguagem da aliança, o cavaleiro do cavalo branco oferece bênção; ao passo que os outros três distribuem as maldições da aliança devido à rejeição do evangelho.

99 Um exemplo paralelo a isto são as três mensagens angélicas. Elas são cronológicas em ordem de comando; daí em diante, elas são proclamadas lado a lado até o fim.

100 Uma analogia a esta dupla ênfase pode ser encontrada em Daniel 7:11-12. Cada um dos animais de Daniel 7 tem um apogeu de atividade, contudo o espírito de cada animal continua existindo até o fim.

101 O altar em estudo aqui é o altar do holocausto, não o altar de incenso. Frequentemente no ritual do santuário do Antigo Testamento, o sangue era derramado (ekcherō, Levítico 4:7, 18, 25, 30, 34; 8:15; 9:9, LXX) à base do altar do holocausto, ao passo que nada jamais acontecia à base do altar de incenso. Em Apocalipse 16:6 o sangue dos santos e profetas foi “derramado” (exechean) pelos ímpios, uma evidente referência ao santuário. Como poderiam os martirizados serem mencionados em termos do ritual do santuário? “Vem a hora em que todo o que vos matar julgará com isso tributar culto (latreian prospherein) a Deus” (João 16:2). A morte dos mártires é parte de uma grande batalha sobre a devida maneira de servir a Deus. Sendo que o altar de holocausto nunca é retratado no Céu, antes é simbólico do sacrifício de Cristo na Terra, essas almas debaixo do altar não estão no Céu, elas estão em suas sepulturas terrestres. Elas não “voltam à vida” até a Segunda Vinda (Apocalipse 20:4). Assim o clamor de 6:10 é apenas simbólico, como o clamor do sangue de Abel em Gênesis 4.

102 O evento correspondente no Apocalipse Sinóptico é a grande tribulação (cf. Mateus 24:21-22).

103 O verbo krinō (julgar) se aplica ao juízo investigativo bem como ao juízo executivo.

104 Veja Strand (1982, p. 53-60) para uma excelente discussão de Apocalipse 18.

105 Ver Ezequiel 32:7-8; Amós 8:8-10; Jeremias 4:23-27; Isaías 34:4; 13:10-13; Naum 3:12; Ezequiel 38:19-20; Ageu 2:6-9; Isaías 50:1-7; Joel 2:28-32; Salmo 102:25-27.

106 Note o seguinte arranjo:

O sol se torna negro……… como (hōs)…… saco de crina.

Toda a lua se torna………. como (hōs)…… sangue.

As estrelas do céu caem sobre a Terra ………….como (hōs)…… deixa cair os seus figos.

O céu se recolhe………..como (hōs) …………… um pergaminho quando se enrola.

107 Muitos têm rejeitado o Dia Escuro e a queda das estrelas como um cumprimento desta profecia porque eles têm sido compreendidos como eventos naturais. Contudo, Deus frequentemente usa eventos naturais para realizar Seus propósitos (ver Êxodo 14:21 e a abertura do Mar Vermelho para Israel). O significado do terremoto de Lisboa, do Dia Escuro e da queda das estrelas em sua época apropriada, seu aparecimento em conexão com os anos finais dos 1260 anos de opressão papal antes e depois de 1798.

108 Ver o intenso silêncio quando o conteúdo de um testamento está prestes a ser revelado!

109 Um exemplo é o material sobre as trombetas, onde nenhuma observação é feita concernente ao texto, mas páginas da História são citadas de outros escritores. Veja ibid., 455-87. Note a ressalva na página 455 onde ele indica que mesmo isto foi extraído de uma publicação anônima da Review and Herald escrita originalmente por Tiago White em 1859.

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