O Apocalipse de João: Juízo Sobre Babilônia – Apocalipse 17 e 18: Comentários Ranko Stefanovic

Babilônia assentada sobre muitas águas (17:1, 2) Um dos sete anjos com as taças da ira de Deus convida João a testemunhar o julgamento da Babilônia, a “grande meretriz” (Apocalipse 7:1). O anjo explica que a meretriz Babilônia ‘se acha sentada sobre muitas águas” (v. 1). Jeremias 51:13 indica que a expressão “muitas águas” se refere ao rio Eufrates.

Posteriormente, o anjo explica para João que essas águas simbolizam os poderes civis, seculares e políticos do mundo (Apocalipse 17:15). Essa Babilônia – a união de autoridades religiosas no tempo do fim – é retratada como estando assentada sobre os poderes mundiais, ilustrando que, no tempo do fim, essas duas entidades são distintas, ao contrário do que acontecia no passado.

Ao longo da história, sobretudo durante a ldade Média, os poderes políticos e as autoridades religiosas instituídas andavam de mãos dadas. As nações eram governadas por poderes político-religiosos. Apocalipse 13:1 a l0 retrata a igreja medieval, liderada pelo papado, como o poder político – religioso que dominou o mundo ocidental durante o período profético de 1.260 dias. No entanto, no tempo do fim, essas duas entidades permanecerão distintas, mesmo trabalhando juntas para um propósito comum.

Assim como a Babilônia antiga dependia do rio Eufrates para existir, a Babilônia do tempo do fim dependerá dos poderes mundiais civis, seculares e políticos para fazer vigorar seus planos e propósitos. Essa confederação religiosa do tempo do fim formará uma aliança com os poderes mundiais governantes. Esses poderes se colocarão a serviço desse sistema religioso apóstata, trabalhando contra Cristo e Seu povo fiel durante a crise do tempo do fim.

0 texto especifica dois grupos que serão seduzidos pela Babilônia na crise final. 0 primeiro corresponde aos “reis da terra”, os quais se prostituíram com a meretriz Babilônia (Apocalipse 17:2). São os poderes políticos que governam o mundo. No Antigo Testamento, a linguagem relativa à fornicação é usada com frequência para se referir às ocasiões em que lsrael se aliava a nações pagãs (Isaías 1:21; Jr 3:1~10; Ezequiel 16; 23). 0 relacionamento adúltero entre os “reis da terra” e a meretríz Babilônia simboliza uma união ilícita entre a confederação religiosa do tempo do fim e os líderes políticos que governam o mundo durante a crise final (Apocalipse 17:2).

0 segundo grupo mencionado são “os que habitam na terra”, que estão espiritualmente embriagados com o vinho da imoralidade de Babilônia (Apocalipse 17:2, 8; cf. Apocalipse 14:8). Trata-se da população comum, não dos líderes mundiais. Ao passo que os líderes do mundo cometem adultério com a meretriz Babilônia, o restante dos moradores da Terra é inebriado por seus ensinos e atos enganosos que os seduzem a adorar a besta (Apocalipse 14:8; 18:3).

Quando as pessoas ficam bêbadas, não pensam com sobriedade e reconhecem tarde demais a natureza de suas escolhas e ações ruins.

Os dois grupos são igualmente enganados e se colocam sob o controle da Babilônia para obter benefícios políticos e econômicos. 0 Apocalipse nos revela que, no tempo do fim, o mundo vai se unir mais uma vez e que a religião o dominará da mesma forma como o fez durante a ldade Média.

Chegará o momento em que a população mundial reconhecerá as escolhas ruins que fez e se voltará contra Babilônia, mas será tarde demais.

A meretriz montada na besta (17:3-6)

João foi informado de que a meretriz Babilônia estava sentada sobre muitas águas. Então ele é levado em visão para o deserto, onde vê uma mulher montada em uma besta escarlate (Apocalipse 17:3). Enquanto a prostituta representa a união das religiões no tempo do fim, a besta simboliza a confederação mundial de poderes políticos. A profecia explica que, no tempo do fim, os poderes políticos da Terra se unirão ao serviço da Babilônia, a mulher sentada na besta. Ela usará seu sistema religioso para dominar os poderes políticos durante a crise do tempo do fim.

Ela é retratada com vestes extravagantes, nas cores púrpura e escarlate, ricamente ornamentada com adornos de ouro e pedras preciosas. Em sua testa, está a inscrição: “BABILÔNIA, A GRANDE, A MÃE DAS MERETRIZES” (Apocalipse 17:5). A cor escarlate da roupa da mulher corresponde à cor escarlate da besta na qual ela está montada (v. 3, 4). Essa também é a cor do sangue e da opressão, o que está de acordo com o caráter desse sistema religioso, embriagado “com o sangue dos santos e com o sangue das testemunhas de Jesus” (v. 6). A púrpura é usada em vestes reais (Juízes 8:26; Et 8:15; Daniel 5:7) e se adequa à busca da meretriz pelo controle do mundo.

A roupa da mulher evoca a vestimenta do sumo sacerdote no Antigo Testamento, que incluía as cores púrpura, escarlate e dourado (Êxodo 28:5, 6).

A inscrição na testa lembra a epígrafe “Santidade ao SENHOR”, que ficava na mitra do sumo sacerdote (v. 36). Além disso, a taça na mão dela reflete a libação oferecida no santuário (Êxodo 30:9; Levítico 23:13). A descrição é notavelmente semelhante à nova Jerusalém (Apocalipse 21). Tudo isso sugere que a Babilônia de Apocalipse 17 se refere a um sistema religioso do tempo do fim, não a um poder político. Com uma aparência histórica de cristianismo, esse sistema religioso do tempo do fim vai se tornar uma ferramenta poderosa de Satanás para enganar e seduzir o mundo à apostasia durante a crise final.

Embora ela apareça com roupagem religiosa, Babilônia é uma meretriz e mãe de prostitutas, seduzindo o mundo para longe de Deus. Ela está embriagada com o sangue dos santos que morreram por causa do testemunho sobre Jesus Cristo (cf. Apocalipse 6:9). Esse sistema religioso, que embriaga todas as pessoas com seus falsos ensinos, está ele próprio bêbado com o sangue dos seguidores de Cristo. Isso relaciona com clareza a Babilônia do tempo do fim com a besta de Apocalipse 13, que representa o cristianismo medieval apóstata na Europa ocidental. Este era liderado pelo sistema papal e foi responsável pela morte de milhões de cristãos perseguidos por seu testemunho fiel ao evangelho. Contudo, está chegando o momento em que Deus julgará essa “grande meretriz” e vingará “o sangue dos Seus servos (Apocalipse 17:1; 19:2).

0 poder que por tantos séculos manteve despótico domínio sobre os monarcas da cristandade, é Roma. A cor púrpura e escarlata, o ouro, as pérolas e pedras preciosas, pintam ao vivo a magnificência e extraordinária pompa ostentadas pela altiva Sé de Roma.

E de nenhuma outra potência se poderia, com tanto acerto, declarar que está `embriagada do sangue dos santos,’ como daquela igreja que tão cruelmente tem perseguido os seguidores de Cristo. Babilônia é também acusada do pecado de relação ilícita com `os reis da Terra’

Foi pelo afastamento do Senhor e aliança com os gentios que a igreja judaica se tornou prostituta; e Roma, corrompendo-se de modo semelhante ao procurar o apoio dos poderes do mundo, recebe condenação idêntica.1

A besta ressuscitada (17:6-8)

Conforme previamente explicado, a meretriz Babilônia simboliza a união de autoridades religiosas no tempo do fim, e a besta representa uma união mundial política. Essas duas são inseparáveis, pois a prostituta deriva seu caráter e poder da besta. Assim como a igreja medieval usava o poder político para controlar a mente e as crenças das pessoas, a Babilônia utilizará os poderes políticos governantes no tempo do fim.

A besta escarlate é identificada como aquela que “era e não é, está para emergir do abismo” (Apocalipse 17:8). Essa expressão consiste, em primeiro lugar, em uma paródia do nome divino Yahweh – “Aquele que era, que é e que há de vir” – em Apocalipse 4:8 (cf. Apocalipse 1:4, 8). Segundo, essa fórmula tríplice mostra ainda que a besta passou por três fases de sua existência: passado, presente e futuro.

Primeiro, a besta “era”. Isso quer dizer que ela existiu no passado. Existem ligações claras entre a besta escarlate e a besta do mar de Apocalipse 13, que se recuperou de sua ferida mortal. As duas estão cheias de nomes de blasfêmia e têm tanto sete cabeças quanto dez chifres (Apocalipse 17:3, 7). Isso mostra que a fase “era” da besta se refere a suas atividades durante o período profético de 1.260 dias (cf. Apocalipse 13:5). Então, com sua ferida mortal, a besta entra na fase “não é” (Apocalipse 13:3). Em outras palavras, desapareceu por um tempo, mas sobreviveu.

A besta voltará à vida em plena ira satânica contra o povo fiel a Deus durante o tempo do fim (Apocalipse 12:17). A ressurreição da besta despertará a admiração daqueles “que habitam sobre a terra, cu).os nomes não foram escritos no Livro da Vida desde a fundação do mundo” (Apocalipse 17:8b).

Essa besta de Apocalipse 17 é a besta do mar de Apocalipse 13, após a cura de sua ferida mortal. É nessa besta ressuscitada que a meretriz Babilônia monta. Esse sistema religioso do tempo do fim consiste em uma continuação do poder político-religioso que oprimiu o povo de Deus ao longo do período profético de 1.260 dias. 0 Apocalipse deixa claro que a religião dominará e controlará a política mais uma vez, assim como o fez durante a ldade Média. Contudo, existe uma diferença notável entre o período medieval e o tempo do fim. Enquanto a besta do mar, representante da igreja medieval, era um poder político-religioso, a besta escarlate tem caráter exclusivamente político. Os poderes religiosos e políticos são distintos no tempo do fim.

As sete cabeças da besta (17:9-11)

O anjo faz então um apelo por sabedoria. A sabedoria mencionada nessa passagem é a mesma aludida em conexão com o número da besta: 666 (Apocalipse 13:18). Essa sabedoria diz respeito ao discernimento espiritual, não a uma habilidade mental e intelectual brilhante – tal discernimento é transmitido unicamente pelo Espírito (Tiago 1:5). Somente por meio dessa sabedoria concedida por Deus, o povo do Senhor no tempo do fim será capaz de reconhecer o verdadeiro caráter desse poder satânico.

0 anjo explica que a existência e as atividades da besta são identificadas com suas cabeças. Ao longo da história, a besta governou e foi ativa por meio de suas cabeças. 0 anjo conta a João que essas sete cabeças são “sete montes”, que, na verdade, simbolizam “sete reis” (Apocalipse 17:9, 10). As águas, os  montes, a besta e os reis são símbolos utilizados para descrever os poderes políticos que apoiam a Babilônia do tempo do fim em sua obra de perseguição ao povo de Deus.

Com frequência, os montes representam poderes mundiais ou impérios (Jeremias 51:25; Daniel 2:35). Portanto, os sete montes sobre os quais a Babilônia se assenta simbolizam sete impérios sucessivos que dominaram o mundo ao longo da história e por meio dos quais Satanás tem atuado para se opor a Deus.2 Ao compartilhar essas características de governo e coerção político-religiosa, esses impérios perseguiram e destruíram o povo de Deus.

O anjo explica ainda a João que cinco desses impérios mundiais caíram, um é, e o sétimo ainda não estava ativo na época de João. Lembre-se de que o anjo explicava o significado desses reinos a João da perspectiva temporal do apóstolo, não da nossa. Assim, o reino que “existe” é o lmpério Romano da época de João. Os cinco que caíram são os impérios que governaram o mundo e causaram dano ao povo de Deus antes da época do revelador:

• 0 Egito foi o poder mundial que escravizou e oprimiu lsrael, tentando destruí-lo.

• A Assíria destruiu e dispersou as dez tribos de lsrael.

• A Babilônia destruiu Jerusalém e levou Judá para o exílio.

• A Pérsia quase aniquilou os judeus da época de Ester.

• A Grécia oprimiu e tentou destruir os judeus por meio de Antíoco IV Epifânio.

0 sétimo reino que “ainda não chegou” era uma manifestação futura desde a perspectiva de João, tendo surgido após a queda do lmpério Romano. A melhor interpretação é que a sétima cabeça consiste na besta do mar de Apocalipse 13, a qual representa a igreja medieval, liderada pelo papado.

0 texto revela que o sétimo reino permaneceria por pouco tempo (Apocalipse 17:10). Nesse caso, o adjetivo grego para “pouco” é oligon, que significa “curto” ou “pequeno”. É diferente de mikron, usado no Apocalipse para indicar “pouco tempo” (cf. Apocalipse 6:11 20:3). Em contraste, oligon não indica uma duração de tempo; em vez disso, é um termo usado com sentido qualitativo. Por exemplo, Apocalipse 12:12 afirma que, depois de ser expulso do Céu, Satanás percebeu “que pouco tempo lhe resta”. Esse pouco tempo” não diz respeito a uma duração de tempo, pois faz milhares de anos desde que foi expulso do Céu. Em contrapartida, indica que Satanás reconheceu que seu tempo era limitado.

0 fato de que o sétimo reino deveria durar pouco não aponta para a duração de sua existência, mas para a ruína desse reino, já determinada de antemão por Deus (“tem de”; Apocalipse 17:10), pois depois chegaria ao fim. A ferida mortal que ela recebeu ocorreu durante a Revolução Francesa, em 1798.

A sétima cabeça reapareceria como a oitava para exercer poder político assim como o fez durante a ldade Média. É por meio dessa oitava cabeça que a besta escarlate atua. Vivemos na era da sétima cabeça, e a oitava cabeça com seus dez reinos unidos ainda não tem poder. Ela aparecerá no cenário mundial durante o tempo do fim e imporá seu sistema religioso apóstata sobre os habitantes da Terra.

Os dez chifres da besta (17:12,13)

0 anjo explica que os dez chifres da besta escarlate representam os dez reis que receberão domínio sobre a besta durante a época da oitava cabeça. 0 livro não explica com exatidão quem são esses dez reis. Como essa passagem diz respeito a uma profecia que ainda está para se cumprir, somente o futuro revelará de forma plena a identidade desses poderes do tempo do fim.

Tudo que se pode aprender com a passagem é que os dez reis (que signíficam reinos) formarão uma poderosa confederação de nações mundiais. Eles são poderes do tempo do fim. Seu número denota a totalidade das nações do mundo que se unem sob o controle da trindade satânica.

Sem dúvida, são os poderes políticos governantes que Apocalipse 17:2 cita, envolvidos no relacionamento adúltero com Babilônia. Essas potências mundiais dedicarão sua lealdade à besta, mas isso só durará pouco tempo – uma hora em termos proféticos. A besta os usará para colocar seus planos e propósitos em ação.

A batalha do Armagedom (17:14-18)

Nesse momento, o Apocalipse descreve a batalha do Armagedom de forma breve mais uma vez – introduzida em Apocalipse 16:12 a 16 e concluída em Apocalipse 19:11 a 21. Induzidos por Babilônia, os poderes políticos mundiais se envolverão em uma guerra contra o cordeiro (Apocalipse l7:14).

Isso mostra que a batalha final não é um conflito militar no Oriente Médio entre judeus e diversas nações muçulmanas. Em vez disso, trata-se de um embate espiritual entre a confederação de Satanás e Cristo com Seu povo fiel. 0 objetivo da Babilônia é derrotar a Cristo e destruir Seu povo, mas Jesus triunfará sobre essa confederação político-religiosa do tempo do fim.

Então, de repente, os dez chifres e a besta (os poderes políticos) se voltam contra a meretriz Babilônia (o falso sistema religioso). Os poderes políticos e seculares que permitiram que a Babilônia dominasse o mundo retira seu apoio e, irados, se voltam contra ela. Essa retirada do apoio à Babilônia é retratada na sexta praga, com o secamento do rio Eufrates (Apocalipse 16:12). Conforme Apocalipse 16 revela, os poderes políticos enganados ficam desiludidos por causa da impotência da Babilônia em protegê-los das pragas (v.10,11).

Sentem-se enganados e cheios de antagonismo e hostilidade. Então eles atacam a Babilônia e a arruínam.

João utiliza o mesmo vocabulário do Antigo Testamento para se referir aos juízos que recaíram sobre a Jerusalém adúltera (Jeremias 4:30; Ezequiel 16:35~41; 23:22~29). Os poderes políticos furiosos e desiludidos deixarão a prostituta Babilônia “devastada e despojada, e lhe comerão as carnes, e a consumirão no fogo” (Apocalipse 17:16). Ser queimada com fogo era o castigo para a filha de um sumo sacerdote que se envolvesse com a prostituição (Levítico 21:9). Isso é mais um indício de que a meretriz Babilônia denota um sistema religioso infiel a Deus que, no tempo do fim, perseguirá o povo do Senhor.

A cena conclui com um lembrete de que Deus está no controle, e os ímpios não podem ir além do que Ele permite (Apocalipse 17:17). As ações dos poderes políticos enganados cumprem o juízo divino sobre a Babilônia e acabam por concluir os propósitos divinos na crise do tempo do fim.

Apocalipse 18 dá continuidade ao tema da destruição da Babilônia que o capítulo anterior inicia. Esse sistema religioso apóstata encheu sua taça de abominações e está prestes a receber o cálice do vinho da ira de Deus (Apocalipse 16:19). No capítulo 17, o julgamento desse sistema religioso apóstata do tempo do fim é retratado usando os termos da execução de uma prostituta (segundo a lei mosaica). Já no capítulo 18, é descrito como uma rica cidade comercial que afunda no mar.

Referências

1. Ellen G. White, 0 Grande Conflito (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2005), p. 382.

2 William G. Johnsson, “The Saínts’ End-Time Victory Over the I:orces of Evíl”, em Symposium of Revelation – Book 2, ed. Frank 8. Holbrook, Daniel and Reve[ation Committee Series (Silver Spring, MD: Biblical Research lnstitute, 1992), v. 7, p. 17.

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