Conflito e Vitória – Daniel 11 – Comentário Pastor Henry Feyerabend

Por Henry Feyerbend

[…] O capítulo 11 de Daniel enfatiza a importante verdade de que não há longa duração nos governos terrestres. […] O único reino permanente é o de Cristo, fundado sobre a justiça:

Mas acerca do Filho: O Teu trono, ó Deus, é para todo o sempre; e: cetro de equidade é o cetro do Seu reino (Hebreus 1:8).

Deus é um historiador perfeito! O único registro totalmente imparcial dos eventos deste mundo é o dEle. Nenhum outro historiador está completamente livre do preconceito e da parcialidade. Nenhum outro relato está totalmente livre de pinceladas de mitologia e lenda. Embora nossos livros de História tenham sido escritos, na maioria, por pessoas céticas, eles vindicam a integridade da profecia bíblica. Em Daniel 11, temos um retrato de hostis seres humanos sendo retalhados e matando uns aos outros, e, então, voltando sua raiva contra Deus. Cada item da profecia nesse capítulo teve com exatidão seu cumprimento. Anúncios prévios de eventos nacionais, cumpridos nos mínimos detalhes, só podem proceder do Deus vivo.

Daniel achou difícil entender o significado completo dos símbolos usados nas visões anteriores. Nessa última entrevista, entre o servo de Deus e o anjo, os símbolos são deixados de lado e a História é repetida numa linguagem comum e direta. Não há imagens repletas de elementos, animais ou chifres, como os encontrados em outros capítulos do livro de Daniel. Esse capítulo frequentemente se refere a pessoas.

‘Mas eu, no primeiro ano de Dario, o medo, me levantei para o fortalecer e animar’ (Daniel 11:1).

O anjo Gabriel pessoalmente assistiu Dario, o medo, em sua administração de Babilônia. Isso pode explicar o porquê de Dario ser tão amigo de Daniel. Muitas vezes não reconhecemos a mão de Deus trabalhando para fortalecer os que são amigos do povo de Deus! Nesse trabalho, Ele usa o ministério dos anjos muito mais do que podemos perceber.

‘Agora, eu te declararei a verdade: Eis que ainda três reis se levantarão na Pérsia, e o quarto será cumulado de grandes riquezas mais do que todos; e, tornado forte por suas riquezas, empregará tudo contra o reino da Grécia’ (Daniel 11:2).

Os primeiros dois versos do capítulo 11 de Daniel dão um esboço da história do segundo reino, o medo-persa. Os versos 3 a 13 registram a história do terceiro reino, a Grécia.

Depois da morte de Ciro, que era quem reinava no tempo da visão, os três reis seguintes da Pérsia foram: Gambises (530-522 a.C.); um usurpador chamado Falso Esmérdis ou Gaumata (522 a.C.); e Dario I (522-486 a.C.). Ciro e Dario I fizeram decretos para reconstruir o templo.

O quarto rei, Xerxes (486-465 a.C.), é conhecido na Bíblia como Assuero, o esposo da rainha Ester. Ele herdou imensas riquezas e ajuntou o maior exército da História. Um historiador disse que “ele tinha tamanha abundância de riquezas em seu reino, que, embora rios fossem drenados por seus numerosos exércitos, sua riqueza era inesgotável”. O historiador Heródoto disse que seu exército consistia de mais de cinco milhões de homens. Tal como descrito na profecia, ele movimentou o seu exército contra a Grécia, mas foi vergonhosamente derrotado.

‘Depois, se levantará um rei poderoso, que reinará com grande domínio e fará o que lhe aprouver’ (Daniel 11:3).

Todos os estudantes da Bíblia, inclusive os críticos, concordam que essa é uma descrição de Alexandre o Grande. Embora Alexandre não tivesse seguido Xerxes imediatamente, sua expedição foi consequência da campanha de Xerxes, e foi empreendida para vingá-la.

Alexandre era filho de Filipe, que foi assassinado em 336 a.C. Alexandre tinha 20 anos de idade quando subiu ao trono da Macedônia. Imediatamente, começou a fazer planos para executar a invasão da Pérsia planejada por seu pai, e assim vingar a invasão da Grécia por Xerxes. Com apenas 40 mil homens e sete mil cavalos, ele partiu para a conquista da Pérsia e do mundo.

A primeira batalha ocorreu nas proximidades do rio Granico, na Ásia Menor, tendo como resultado uma vitória absoluta dos gregos. A batalha seguinte ocorreu perto de Issis, onde Alexandre derrotou Da- rio com um exército de 600 mil homens. Depois, ele conquistou o Egito e fundou a cidade de Alexandria. Na volta, encontrou Dario a aproximadamente oitenta quilômetros de Arbela, e outra vez o derrotou, no ano 221 a.C. Ele capturou Babilônia, Susã e Persépolis, e então invadiu a índia.

‘Mas, no auge, o seu reino será quebrado e repartido para os quatro ventos do céu; mas não para a sua posteridade, nem tampouco segundo o poder com que reinou, porque o seu reino será arrancado e passará a outros’ (Daniel 11:4).

A versão Douay diz: “E quando ele chegar ao seu ponto mais alto.” Alexandre chegou ao ápice da carreira com a idade de 33 anos, em 323 a.C. Sua morte ocorreu na cidade de Babilônia. Com a morte repentina, seu poder foi quebrado. Isso ocorreu quando ele estava numa farra alcoólica, como foi o caso de Beltesazar, que provavelmente morreu no mesmo salão de banquete. Alexandre passou dois dias e duas noites bebendo sem limites, o que, junto com uma malária, provocou a morte.

A profecia especificava que seu reino não seria para sua posteridade’. A versão Douay diz assim: ‘Mesmo para os estranhos ao lado desses.’ Fenton traduziu como: ‘para outros, em vez de para si mesmo.’

Quinze anos após a morte de Alexandre, sua família se extinguiu. Logo após sua morte, a esposa, Statira, foi morta por sua outra esposa, Roxana. Seu irmão Aridoeus, que o sucedeu, foi morto junto com a esposa, Eurídice, por ordem de Olímpia, mãe de Alexandre, depois que Aridoeus tinha sido rei por cerca de seis anos. A própria Olímpia foi morta por um soldado vingativo. Alexandre Egus, filho de Alexandre, junto com sua mãe, Roxana, foi executado por ordem de Cassandro. Dois anos mais tarde, o outro filho de Alexandre, Hércules, com sua mãe, Barsine, foi morto em segredo por Polispercon, de modo que, 15 anos após a morte de Alexandre, ninguém de sua família ou de seus descendentes estava vivo.

Os generais de Alexandre eram todos ambiciosos e queriam sucedê-lo no trono. A luta por supremacia continuou por 22 anos. Gabriel faz uma ponte sobre esse período, mencionando apenas as quatro divisões do reino que vieram depois da batalha de Ipsus, em 301 a.C., quando Seleuco, Ptolomeu, Lisímaco e Cassandro derrotaram Antígo- no, e dividiram o mundo entre os quatro ventos do céu, ou quatro pontos cardeais. Essas quatro divisões são consideradas do ponto de vista da Palestina, a terra natal de Daniel.

‘O rei do Sul será forte, como também um de seus príncipes; este será mais forte do que ele, e reinará, e será grande o seu domínio’ (Daniel 11:5).

O império de Alexandre foi dividido entre quatro sucessores, mas não demorou muito para que esses quatro fossem reduzidos a dois — Seleuco, ao norte – isto é, o norte da Palestina e Ptolomeu, ao sul.

O rei do sul era Ptolomeu Lagus, que tinha os governos do Egito e da Líbia. Ele marchou sobre a Judéia, cercou Jerusalém e, num ataque fulminante, tomou-a em um dia de sábado, quando os judeus não puderam defender-se. Ele levou 100 mil judeus cativos para o Egito. No começo, ele tratou-os com crueldade, mas depois veio a tornar-se amigo deles, dando privilégios e colocando-os em posições importantes de confiança e poder. Às vezes, ele era chamado de Ptolomeu Soter (salvador) em gratidão pela assistência que dera ao povo de Rodes contra Demétrio e Antígono, que invadiram sua ilha. Durante os 40 anos que governou o Egito, ele elevou o reino a tamanha grandeza e poder, que houve um tempo em que ele foi superior a todos os demais reinos.

Seleuco Nicator dominava a Síria, Babilônia, Média, Macedônia e Trácia, três quartos dos domínios de Alexandre. E por isso que é dito que “este se fortalecerá mais do que ele” (Ptolomeu). Levantou-se para ser o maior de todos os sucessores de Alexandre. Foi quem construiu a cidade de Antioquia (que é mencionada no livro de Atos dos Apóstolos), que veio a tornar-se residência dos reis sírios. Ele foi o último dos capitães de Alexandre, reinando 30 anos após a morte de Alexandre. Possuía grande habilidade militar, e distinguia-se pela justiça, benevolência e clemência, e um rigor peculiar com a religião. De fato, ele era mais forte do que Ptolomeu, e teve um grande domínio.

‘Mas, ao cabo de anos, eles se aliarão um com o outro; a filha do rei do Sul casará com o rei do Norte, para estabelecer a concórdia; ela, porém, não conservará a força do seu braço, e ele não permanecerá, nem o seu braço, porque ela será entregue, e bem assim os que a trouxeram, e seu pai, e o que a tomou por sua naqueles tempos’ (Daniel 11:6).

Durante os graves conflitos que se seguiram entre o norte e o sul, Israel ficava no meio servindo como almofada entre as partes conflitantes. Os poderes mundiais não tinham interesse na Palestina. Os judeus eram apenas um detalhe nos eventos que ocorriam. Por causa da sua posição estratégica, eles sempre saiam perdendo, independentemente de quem fosse o vencedor, já que sofria em ambos os lados.

Eles se aliarão: Guerras quase perpétuas prevaleceram entre o norte e o sul. Finalmente, ao chegarmos à segunda geração dessas duas dinastias, Ptolomeu Filadelfo, rei do Egito, e Antíoco Teos, rei da Síria, finalmente fizeram as pazes, com a condição de que Antíoco expulsasse sua mulher, Laodice, e seus dois filhos, declarando-os ilegítimos. Depois, devia casar-se com Berenice, filha de Ptolomeu, rei do Egito.

De acordo com o trato, Antíoco dispensou sua mulher, Laodice, e foi receber sua futura noiva. Ptolomeu levou sua filha até Pelusium, embarcou-a em uma das naus de sua armada e ‘qavegou até a Selucia, um porto marítimo perto da foz do rio Orantes, na Síria. Ali, depois de ter-se encontrado com Antíoco, entregou-lhe a filha com um imenso dote, o que lhe valeu o apelido de “Doador de Dote”. O casamento foi comemorado solenemente e com grande pompa. A paz foi ratificada, e houve harmonia por um tempo.

Ele não permanecerá, nem o seu braço: Isso se refere a Antíoco e a seus filhos com Berenice. Numa recaída de amor, ele chamou sua ex-mulher, Laodice, e os filhos de volta para a corte. Laodice não estava muito disposta a correr o risco de ver seu inconstante marido chamar outra vez Berenice, e ser expulsa pela segunda vez. Ela envenenou Antíoco e colocou o seu filho Seleuco Calínico no poder.

Ela será entregue: Ela planejou o assassinato de Berenice e de seu filho. Berenice, sendo informada da conspiração, fugiu para Daufne, mas nem assim escapou de ser morta.

Os que a trouxeram: As mulheres egípcias e os assistentes, ao tentarem defender Berenice, foram assassinados com ela.

“Seu pai”: Outras versões, em vez de “seu pai” usam a expressão “seu filho” (ver A Bíblia de Jerusalém). Laodice ordenou que Berenice fosse morta junto com o seu filho.

E o que a tomou por sua naqueles tempos: O pai de Berenice, Pto- lomeu Filadelfo, rei do Egito, mimava muito a filha favorita. Ele enviava suprimentos de água fresca do Nilo para a filha, achando que seria melhor para ela beber dessa água do que qualquer outra. Ele era poderoso e abastado, o que deteve Antíoco de divorciar-se de Berenice enquanto ele estava vivo. Tão logo Ptolomeu morreu, Antíoco divorciou-se dela.

Essa profecia foi anunciada mais de 300 anos antes do acontecimento. Sequer um elo da corrente profética está faltando. Podemos entender porque era importante para Porfírio atacar essa profecia a fim de negar o poder do Infinito.

‘Mas, de um renovo da linhagem dela, um se levantará em seu lugar, e avançará contra o exército do rei do Norte, e entrará na sua fortaleza, e agirá contra eles, e prevalecerá’ (Daniel 11:7).

Renovo da linhagem dela: Ptolomeu Euergetes, irmão de Berenice, veio com um grande exército para vingar a morte da irmã. Sua intenção era resgatá-la, mas chegou tarde demais. Vingou-se do sangue da irmã, matando Laodice, sua assassina.

Também aos seus deuses com a multidão das suas imagens fundidas, com os seus objetos preciosos de prata e ouro levará como despojo para o Egito; por alguns anos, ele deixará em paz o rei do Norte (Daniel 11:8).

E [levará] também os seus deuses: Ptolomeu pilhou o reino de Seleuco e levou 40 mil talentos de prata, vasos preciosos de prata e ouro e mais de duas mil imagens dos deuses egípcios que Cambises levara para a Pérsia. Como recompensa por haver restaurado os seus deuses, os egípcios deram-lhe o título honorífico de Euergetes o Benfeitor.

Por alguns anos, ele deixará em paz o rei do Norte: Ptolomeu viveu cerca de quatro anos mais que Seleuco Calínico. Seleuco estava no exílio quando morreu, ao cair do cavalo.

Mas, depois, este avançará contra o reino do rei do Sul e tornará para a sua terra (Daniel 11:9).

Esse verso é um resumo dos dois versos anteriores. Ptolomeu veio até o reino de Seleuco, ao invadir a Síria. Depois voltou para sua terra (Egito). Ele visitou Jerusalém quando estava a caminho e ofereceu sacrifícios ao Deus de Israel, como reconhecimento pelas vitórias alcançadas sobre o rei da Síria. Tem sido sugerido que ele chegou a conhecer as profecias de Daniel, as quais apontavam de maneira tão exata para o seu sucesso, e, por essa razão, ele acreditava que devia o seu sucesso ao Deus, cujo profeta, de maneira tão precisa, o havia predito.

‘Os seus filhos farão guerra e reunirão numerosas forças; um deles virá apressadamente, arrasará tudo e passará adiante; e, voltando à guerra, a levará até à fortaleza’ (Daniel 11:10).

Os seus filhos farão guerra: Isso é uma referência aos filhos de Calínico. Seleuco, o filho mais velho, fez os preparativos para recuperar os domínios do seu pai, que estavam em poder do rei do Egito. Ele arregimentou um numeroso exército, mas seu exército se amotinou e ele foi envenenado por dois de seus generais. Seu irmão, Antíoco, foi proclamado rei.

Um deles virá: A profecia diz que os filhos interviriam, e, então, o número seria reduzido a um. Antíoco veio com um grande exército e retomou a Selcucia, e recuperou a Síria.

E, voltando à guerra, a levará até à fortaleza do rei do Sul: Cumprindo a profecia, Antíoco voltou e venceu o general egípcio, Nicolau.

‘Então, este se exasperará, sairá e pelejará, contra ele, contra o rei do Norte; este porá em campo grande multidão, mas a sua multidão será entregue nas mãos daquele’ (Daniel 11:11).

Nessa época, o rei do Egito era Ptolomeu Filepater, que sucedeu seu pai, Euergetes. Na batalha de Ráfia, ele comandou um enorme exército consistindo de tropas oriundas de muitas nações, totalizando 62 mil homens a pé, seis mil cavaleiros e 102 elefantes. Ptolomeu obteve uma vitória esmagadora, matando mais de 10 mil homens do exército de Antíoco, perdendo apenas 1.500 soldados.

‘A multidão será levada, e o coração dele se exaltará; ele derribará miríades, porém não prevalecerá. Porque o rei do Norte tornará, e porá em campo multidão maior do que a primeira, e, ao cabo de tempos, isto é, de anos, virá à pressa com grande exército e abundantes provisões’ (Daniel 11:12 e 13).

Ele tornou-se um amargo inimigo dos judeus. Ele foi a Jerusalém para oferecer sacrifício ao Deus de Israel, e, porque não foi permitido que entrasse no lugar santo do templo, ficou furioso. Então, iniciou um sistema de perseguição contra os judeus, e “derrubou muitos milhares”. De acordo com Eusébio, ele matou 60 mil deles em Alexandria, onde gozavam paz e muitos privilégios desde os dias de Alexandre o Grande.

Se Ptolomeu tivesse continuado o massacre imposto aos inimigos, ele teria acabado com o reino de Antíoco. Mas “o seu coração se exaltou com o sucesso, e, vendo-se livre de seus temores, deu lugar à lascívia. Em troca de garantia de paz com Antíoco, ele exigiu que não fosse interrompido em sua autogratificação dos apetites e paixões. Ele já havia assassinado seu pai e sua mãe, bem como o irmão. Agora, matou a mulher e passou a viver com sua meretriz. Seus dias eram dedicados às festas, e as noites, às farras. Morreu com 37 anos de idade.

O rei do Norte tornará: Depois de 14 anos de paz entre o Egito e a Síria, Antíoco retornou. Ptolomeu Filopater já morrera, e o seu filho, Ptolomeu Epifânio (o ilustre), herdeiro do trono, tinha apenas quatro ou cinco anos. Antíoco era muito rico e foi capaz de reunir um incrível exército. Ele esperava esmagar rapidamente o pequeno rei do Egito.

‘Naqueles tempos, se levantarão muitos contra o rei do Sul; também os dados à violência dentre o teu povo se levantarão para cumprirem a profecia, mas cairão’ (Daniel 11:14).

Muitos dos povos vizinhos pensaram que era uma boa hora de juntar-se contra o Egito, pois o rei era apenas uma criança. O tutor do jovem rei era ineficiente e impopular.

Os dados à violência dentre o teu povo: Na visão de Daniel 7, o quarto animal “devorava, e fazia em pedaços, e pisava aos pés os que sobejava” (Daniel 7:7). Em Daniel 8:13, o chifre pequeno espezinhava o santuário. O quarto animal e o chifre pequeno são Roma. Aqui vemos os romanos entrando para a História espezinhando o povo de Deus. Algum tempo depois eles cairiam.

Roma, tanto na forma pagã como eclesiástica, prejudicou o povo de Deus mais do que todas as outras nações juntas. Roma se apropriou da terra do povo escolhido de Deus, destruiu o seu templo e dele levou o ouro e a prata. Levantaram-se contra o Príncipe dos príncipes quando, por ordem do governador romano, pregaram-no na cruz. Quando os exércitos romanos invadiram a Britânia, Gálaco, o chefe escocês, disse:

Eles deleitam-se em saquear, matar e roubar. Chamam de domínio a violência; e onde possam fazer devastação, chamam isso de paz.

Roma papal, por sua conta, substituiu o Sacerdote celestial, Mediador da igreja cristã, por um sistema humano. Afastou as Escrituras do povo, impediu a igreja de ter acesso à luz do evangelho, contribuindo para que a humanidade mergulhasse na Era das Trevas. Ainda consentiu, durante séculos, no sacrifício de milhares de pessoas. Haveria linguagem mais apropriada para descrever Roma do que ‘dados à violência dentre o teu povo’?

‘O rei do Norte virá, levantará baluartes e tomará cidades fortificadas; os braços do Sul não poderão resistir, nem o seu povo escolhido, pois não haverá força que resistir’ (Daniel 11:15).

Então, o rei da Síria voltou para a Palestina. O jovem rei do Egito, contia quem tantos estavam conspirando naquele momento, estava sob a guarda legal do senado romano. Antíoco III foi avisado por Roma para que ficasse fora do Egito, mas ignorou o aviso.

Cidades fortificadas: A bem fortificada cidade de Gaza resistiu aos ataques de Antíoco por um tempo, mas, finalmente, foi tomada de assalto. Roma declarou guerra contra a Síria em 191 a.C. e derrotou Antíoco. Ele foi obrigado a aceitar os mesmos termos que foram propostos pelos romanos antes da guerra. Duas das condições desse acordo eram que ele deveria mandar seu filho mais moço, Antíoco Epifânio, como refém para Roma e pagar tributo anual para o senado romano.

‘O que, pois, vier contra ele fará o que bem quiser, e ninguém poderá resistir a ele; estará na terra gloriosa, e tudo estará em suas mãos’ (Daniel 11:16).

O que, pois, vier contra ele: O poder que vem contra Antíoco c o poder romano. Na batalha de Pidna, em 22 de junho de 168 a.C., os romanos, sob o comando de Emílio Paulo, esmagaram para sempre os últimos vestígios de independência que havia nos estados da Macedônia e Grécia.

A terra gloriosa: Essa expressão é referência à terra natal de Daniel, a Palestina, que foi invadida por Roma. O salmista descreve a terra palestina nos seguintes termos:

‘Também desprezaram a terra aprazível e não deram crédito à sua palavra’ (Salmo 106:24).

Em Daniel 8:9 é dito que Roma se expandia na direção da “terra gloriosa”.

Depois de conquistar a Síria e fazer dela uma província romana, Pompeu invadiu a Palestina. Por dois séculos, Roma controlou os destinos da Judéia e, finalmente, destruiu Jerusalém completamente.

‘Resolverá vir com a força de todo o seu reino, e entrará em acordo com ele, e lhe dará uma jovem em casamento, para destruir o seu reino; isto, porém, não vingará, nem será para a sua vantagem’ (Daniel 11:17).

Roma estava determinada a conquistar todo o reino de Alexandre. Roma absorveu o domínio de várias terras em volta do Mediterrâneo oriental.

E lhe dará uma jovem em casamento: Uma das mulheres mais bonitas daquele tempo foi Cleópatra. Quando Ptolomeu Auletes morreu, em 51 a.C, ele deixou o trono para a filha Cleópatra e seu irmão Ptolomeu XII, um garoto de dez anos. O testamento do rei dizia que eles deviam casar um com o outro e reinar em conjunto. Cleópatra e Ptolomeu logo começaram a brigar. César ordenou que ambos comparecessem diante dele.

Cleópatra mandou que o seu escravo siciliano a enrolasse em panos e amarrasse o “pacote” com fitas. Colocando o pacote nos ombros, ele levou-o até César, e o depôs aos seus pés. Quando o pacote foi aberto, lá estava a linda Cleópatra.

Para destruir: A linguagem aqui usada indica as relações imorais entre César e Cleópatra, o que está em perfeita harmonia com os registros da História. César tinha mais de 50 anos e Cleopatia, apenas 22. Ele ficou apaixonado por ela. Ela tornou-se sua amante e deu-lhe um filho. A estranha paixão por essa mulher foi a causa de sua queda. Ele passava noites inteiras em farras regadas a bebidas alcoólicas com a jovem amante.

Isto, porém, não vingará, nem será para a sua vantagem: Após a morte de Júlio César, Cleópatra juntou-se a Marco Antônio e exerceu todo o seu poder contra Roma.

‘Depois, se voltará para as terras do mar e tomará muitas; mas um príncipe fará cessar-lhe o opróbrio e ainda fará recair este opróbrio sobre aquele’ (Daniel 11:18).

A História relata que Júlio César voltou o rosto “para as terras do mar ou terras costeiras. Logo foi atraído para longe do Egito. Ele conquistou muitas ilhas, obtendo vitória absoluta sobre elas. Para um amigo, escreveu sobre ele mesmo: “Veni, vidi, vici!” (Vim, vi, venci). Todo o norte da África se rendeu, e César retornou em triunfo para Roma.

Um príncipe: A profecia prediz que um príncipe “fará cessar-lhe o opróbio. Brutus fingia ser amigo de César, mas, ao mesmo tempo, estava conspirando com os amigos, planejando como iriam libertar Roma da ditadura de César.

‘Então, voltará para as fortalezas da sua própria terra; mas tropeçará, e cairá, e não será achado’ (Daniel 11:19).

Depois de conquistar a Ásia Menor, César derrotou o último segmento do partido de Pompeu. Voltando para Roma, “as fortalezas da sua própria terra, ele foi feito ditador vitalício. Mas o profeta disse que ele tropeçaria e cairia. A linguagem infere que sua derrota seria súbita e inesperada, como uma pessoa que tropeça ao caminhar. Esse homem, de quem é dito haver lutado e vencido cinquenta batalhas, tomado mil cidades e matado um milhão de pessoas, não caiu no fragor da batalha, nem nos momentos de maior provação.

Quando ele achava que tudo estava calmo e o perigo distante, foi assassinado por um dos amigos mais achegados. Nos idos de março de 44 a.C., ele foi golpeado, e caiu morto diante da estátua de Pompeu. Seus amigos se aglomeraram em volta dele, como se fossem pedir algum favor, e, então, a um sinal, cravaram suas adagas em seu corpo. Ele morreu com 23 ferimentos. Foi assim que ele tropeçou e caiu, e não foi achado.

‘Levantar-se-á, depois, em lugar dele, um que fará passar um exator pela terra mais gloriosa do seu reino; mas, em poucos dias, será destruído, e isto sem ira nem batalha’1 (Daniel 11:20).

César não tinha filhos legítimos, mas fez do sobrinho, Otávio (Augusto), o seu herdeiro. A despeito dessa indicação, Marco Antônio teria, sem dúvida, sido o sucessor, não fosse a paixão que devotava a Cleópatra. Ela veio visitá-lo a bordo de uma luxuosa balsa, e convidou-o para um banquete que ele nunca vira igual, nem mesmo em Roma. Ele perdeu completamente a cabeça, e rendeu-se aos seus encantos.

Augusto foi um notável exemplo de governante que podia cobrar impostos sem que o povo sentisse. Seus impostos eram brandos; mas eram universais. E era nessa universalidade que estava sua força e eficiência para prover abundantes fundos, usados para viabilizar o governo imperial. Ele despendia enormes somas de dinheiro em imensos projetos de construção.

O Novo Testamento faz referência ao decreto de alistamento para recolhimento de tributo:

‘Naqueles dias, foi publicado um decreto de César Augusto, convocando toda a população do império para recensear-se’ (Lucas 2:1).

Foi por causa desse decreto que José e Maria foram obrigados a voltar a Belém.

A glória do reino: O governo de Augusto foi realmente uma glória. Esse período ficou conhecido como o “século de Augusto. Ele gabava-se de haver encontrado Roma construída com tijolos e em deixá-la em mármore. Nunca antes, e nem depois, Roma experimentou tanta paz e prosperidade. Falando desse tempo, quando Cristo nasceu em Belém, o poeta Milton diz num poema:

‘Nem guerra, nem fragor de batalha

Ouvia-se ao redor do mundo.

Em poucos dias: Augusto viveu ainda aproximadamente 18 anos após a arrecadação de tributos descrita na primeira parte do verso. Embora o seu reinado tenha durado 43 anos, do ponto de vista do anjo e à luz da eternidade – e mesmo da História de Roma – foram apenas poucos dias. Ele morreu, assim como o anjo dissera ao profeta: “sem ira nem batalha. Morreu, serenamente, em sua cama, com a idade de 66 anos. Em seu leito de morte, perguntou aos amigos: “Vocês acham que desempenhei bem o meu papel em vida?” Suas últimas palavras foram para a esposa: Lívia, tenha o nosso casamento sempre em mente. Adeus.”

‘Depois, se levantará em seu lugar um homem vil, ao qual não tinham dado a dignidade real; mas ele virá caladamente e tomará o reino, com intrigas’ (Daniel 11:21).

Tibério associou-se a Augusto no trono durante os dois últimos anos do seu reinado, e ficou com o poder quando Augusto morreu, em 14 d.C. Tibério era filho de Lívia com um ex-marido. Como Augusto não tinha filho, Lívia o convenceu a apontar o filho dela como sucessor. Conta-se que ele respondeu dizendo que Tibério era por demais vil para sucedê-lo como imperador de Roma. Portanto, ele nomeou um respeitável cidadão romano de nome Agripa para sucedê-lo. Agri- pa morreu antes de Augusto; e Lívia, com insistência e muitos elogios a Augusto, finalmente conseguiu o seu intento.

Tibério era, de fato, uma pessoa “vil”. Era tão cruel e perverso que toda a nação, especialmente os residentes de Roma, festejaram sua morte.

Ao qual não tinham dado a dignidade real: Tibério nunca foi honrado ou respeitado, nem em vida nem depois de morto. Ao morrer, em vez de ser sepultado com honras, o povo celebrava correndo pelas ruas e clamando: “Lora Tibério! Que vá para o Tibre!” ou “Que a terra, a mãe da humanidade e dos deuses infernais, não dê guarida para o morto, a não ser entre os perversos!” Logo que seu corpo começou a ser levado pelas ruas, as pessoas, aos gritos, mandaram que ele fosse levado para Átila, e que fosse queimado no anfiteatro.

‘As forças inundantes serão arrasadas de diante dele; serão quebrantadas, como também o príncipe da aliança’ (Daniel 11:22).

O cientista Isaac Newton traduziu esse verso da seguinte maneira:  ‘E os braços do que foi inundado serão transbordados de diante dele, e serão quebrantados.’

Aquele, cuja crueldade inundou o império com crime e derramamento de sangue, seria quebrantado e destinado a receber aquilo que havia dado a outros. Como, de repente, Tibério reviveu, quando se pensava e se esperava que ele estivesse morto, seus assistentes o estrangularam.

O Príncipe da aliança: Foi sob o reinado de Tibério que o profeta declarou que o Príncipe da aliança seria quebrantado. Foi sob o reinado de Tibério que o Príncipe Ungido (ou Messias), que firmaria aliança com muitos por uma semana (Daniel 9:25-27), foi crucificado. Pôncio Pilatos recebeu o governo da Judéia do tio da sua esposa, Tibério César. Ele cedeu às exigências da multidão quando gritavam: Se soltas a Este, não és amigo do César!” (João 19:12).

‘Apesar da aliança com ele, usará de engano; subirá e se tornará forte com pouca gente’ (Daniel 11:23).

Agora, o anjo alcança de novo outro marco do povo judeu, a saber o início da formação de um acordo com Roma, com quem estabelece laços de amizade e assistência mútua. Durante o período em que os Macabeus tentavam libertar-se da tirania de Antíoco Epifânio, Judas Macabeus enviou um embaixador para Roma para pedir apoio e amizade. Nesse tempo, os romanos eram um pequeno povo, mas estavam crescendo rapidamente e tornando-se a mais poderosa nação do mundo.

‘Virá também caladamente aos lugares mais férteis da província e fará o que nunca fizeram seus pais, nem os pais de seus pais: repartirá entre eles a presa, os despojos e os bens; e maquinará os seus projetos contra as fortalezas, mas por certo tempo’ (Daniel 11:24).

Os romanos faziam pose de defensores dos fracos contra os fortes, capitalizando com a esperança dos oprimidos. Prometendo amizade e ajuda a todos os que viessem em busca de apoio, eles logo se tornaram árbitros internacionais. Desta forma, estenderam sobremaneira o seu reino. Os povos fracos e sem influência eram tratados com justiça e boa vontade. Os oficiais romanos, espalhados pela imensa extensão do império, agiam como polícia internacional.

Os lugares mais férteis: Ao oferecer, pacificamente, uma sensação de segurança a outras nações, eles estenderam sua autoridade desde o norte da África até a Inglaterra, da Espanha até a Palestina. Vastas quantidades de terra foram confiscadas pelo senado romano.

O que nunca fizeram seus pais: Roma estava utilizando um novo método de conquista, o qual era desconhecido pelos seus pais e pais dos seus pais. Até aquela época, novos territórios eram conquistados pela força. Agora, eles vinham conquistando novos territórios por meios pacíficos. Reis estavam deixando seus reinos para os romanos como um legado.

Por certo tempo: Se essa expressão for considerada como um tempo profético, esse tempo seria de 360 anos, de acordo com a contagem bíblica, como já notado em capítulos anteriores. De setembro de 31 a.C, quando a batalha decisiva de Áccio foi travada, batalha essa que marcou o início do reinado de Augusto, um tempo profético de 360 anos nos levaria a 330 d.C., o ano em que Constantino mudou a capital de Roma para Constantinopla, um evento considerado por muitos como cumprimento do verso 24.

Suscitará a sua força e o seu ânimo contra o rei do Sul, à frente de grande exército; o rei do Sul sairá à batalha com grande e mui poderoso exército, mas não prevalecerá, porque maquinarão projetos contra ele (Daniel 11:25).

O relato agora é de uma violenta batalha contra o rei do Sul, o Egito. Isso foi cumprido detalhadamente na batalha de Áccio, em 31 a.C. Marco Antônio era cunhado de César Augusto, casado com sua irmã, Otávia. Mas Marco Antônio apaixonou-se por Cleópatra, e divorciou- se da esposa. A guerra entre Roma e Egito era, na verdade, uma guerra contra Marco Antônio e Cleópatra. A batalha foi travada em 2 de setembro de 31 a.C., no golfo de Ambrácia, perto da cidade de Áccio. No auge da batalha, Cleópatra, muito assustada, fugiu quando não havia real perigo. Marco Antônio, perdido em sua cega paixão, foi atrás. Augusto proclamou vitória.

‘Os que comerem os seus manjares o destruirão, e o exército dele será arrasado, e muitos cairão traspassados’ (Daniel 11:26).

Os amigos e aliados de Marco Antônio ficaram aborrecidos por causa da sua paixão por Cleópatra. Os que “comeram os seus manjares” abandonaram-no e uniram-se a Augusto. Até Cleópatra o traiu. Marco Antônio cometeu suicídio.

‘Também estes dois reis se empenharão em fazer o mal e a uma só mesa falarão mentiras; porém isso não prosperará, porque o fim virá no tempo determinado’ (Daniel 11:27).

Esses dois cunhados, anteriormente, formavam aliança. Embora parecesse que tinham prazer em compartilhar a mesma mesa, mentiam um para o outro. Otávia declarou que se casara com Marco Antônio na esperança de que o casamento ensejaria um pacto de união entre ele e Augusto. Não deu certo.

‘Então, o homem vil tornará para a sua terra com grande riqueza, e o seu coração será contra a santa aliança; ele fará o que lhe aprouver e tornará para a sua terra’ (Daniel 11:28).

Depois da batalha de Áccio, Augusto retornou em triunfo para Roma, trazendo riquezas fenomenais do Egito. Durante três dias, ele comemorou triunfantemente suas vitórias, exibindo muitos cativos ilustres e marchando junto deles.

Contra a santa aliança: Logo depois, na ordem dos eventos, veio a sujeição da Judéia a Roma e a destruição de Jerusalém. Durante muito tempo, os judeus tinham sido o povo da aliança de Deus.

No tempo de Vespasiano, os romanos invadiram a Judéia. Ocorreu finalmente o cerco de Jerusalém, sob o comando de Tiito. A guerra durou sete anos, durante os quais mais de um milhão de pessoas morreram.

Ele fará o que lhe aprouver: O termo inclui a aniquilação do templo judeu. Para mostrar sua ira “contra a santa aliança”, os romanos ergueram um templo para Júpiter no local do templo judeu.

‘No tempo determinado, tornará a avançar contra o Sul; mas não será nesta última vez como foi na primeira’ (Daniel 11:29).

No tempo determinado: Não há dúvida de que esse termo ser refere ao tempo profético do verso 24. O tempo terminou em 330 d.C. Mais uma vez, esse poder viria contra o Sul, mas não contra o Egito, como de outras vezes, nem contra a Judeia, como ocorreu por último. O trono foi transferido para Constantinopla, e Roma começou a perder o prestígio. Logo, os bárbaros do Norte começaram a atacar, e Roma foi dividida.

Porque virão contra ele navios de Quitim, que lhe causarão tristeza; voltará, e se indignará contra a santa aliança, e fará o que lhe aprouver; e, tendo voltado, atenderá aos que tiverem desamparado a santa aliança (Daniel 11:30).

Os navios de Quitim: Quitim começou como uma colônia de fenícios que migraram para Chipre, sob a liderança de um homem chamado Quitum, que fundou a cidade a qual deu o seu nome, que é a moderna Nicósia. Depois, o termo foi aplicado para as ilhas e para a costa do Mediterrâneo em geral. Josefo escreveu:

‘Quétimo possuiu a ilha de Quétima, que agora se chama Chipre, e assim todas as ilhas e lugares marítimos são chamados pelos hebreus.’ (Antiguidades 1:6, Sec. 1.)

Esse texto descreve o ataque dos Vândalos, conhecidos como os “piratas do mar” e “o terror do Mediterrâneo”. Sob a liderança de Genserico, tendo Cartago como capital, eles atacaram as frotas de Roma e a cidade eterna. As regiões costeiras de todos os países, de Gibraltar até o Egito, foram atacadas pelos piratas Vândalos. Eles levaram tesouros de Roma para Cartago, incluindo a mesa de ouro e o castiçal que Tito havia trazido de Jerusalém. Roma imperial foi atacada e humilhada pelos navios de Quitim.

Se indignará contra a santa aliança: Vemos aqui o início da transição da Roma pagã dos Césares para o poder eclesiástico, que domina o restante da profecia. Pela introdução de doutrinas, como a transubstanciação e o sacrifício da missa, o poder romano começou a “desprezar a santa aliança”. A derrocada da Roma ocidental, fustigada pelas tribos bárbaras, coincidiu com a ascensão da Roma papal.

Uma nova Roma surge das cinzas da antiga: Depois que Constantino mudou a capital do império de Roma para Constantinopla, o bispo de Roma reclamou o trono dos Césares e a própria cidade de Roma como a capital de um império eclesiástico, que deveria suplantar o antigo. O papado continuou conquistando força e poder até que a nova Roma se tornou muito mais poderosa do que o império romano pagão em seu esplendor. A nova Roma reclamou domínio sobre as mentes humanas, controlando reis, impondo leis sobre antigas monarquias e aprisionando a alma de milhões, com um despotismo mais radical do que qualquer imperador oriental alcançou ou mesmo sonhou.

Foi durante esse tempo que a profecia de Paulo sobre a “apostasia” foi cumprida, e o “homem do pecado” entrou no templo, ou igreja de Deus, e destronou o Espírito Santo, “querendo parecer Deus”. Capelas foram dedicadas a anjos, os dias santos foram multiplicados, as cerimônias supersticiosas, normalmente associadas com a santa cruz ou com o pão consagrado, ficaram entrelaçadas com as principais normas de vida.

Encantamentos e amuletos dos mais variados foram usados em nome de Jesus, vigílias e banquetes para os mortos foram celebrados, os relicários dos santos eram colecionados e adorados. O que mais poderiam eles fazer para ir “contra a santa aliança”?

‘Dele sairão forças que profanarão o santuário, a fortaleza nossa, e tirarão o sacrifício diário, estabelecendo a abominação desoladora’ (Daniel 11:31).

Dele sairão forças: Essas palavras retratam as diversas agências de força e riqueza que começaram a apoiar o sistema religioso romano.

Profanarão o santuário: Isso não pode ser uma referência ao santuário mosaico, que não mais existiria nessa época. O único outro santuário mencionado na Bíblia e o que está no Céu, do qual o santuário terrestre era um tipo.

A palavra santuário vem do latim sanctus, que significa “sagrado”. Sanctuarium significa lugar santo. Somente lugares e coisas sagradas podem ser poluídos e profanados. O santuário celestial é o lugar e a fonte de poder. O salmista declara:

‘O Teu caminho, ó Deus, é de santidade. Que deus é tão grande como o nosso Deus?’ (Salmo 77:13)

Do seu santuário te envie socorro e desde Sião te sustenha (Salmo 20:2).

Glória e majestade estão diante dEle, força e formosura, no Seu santuário (Salmo 96:6).

E tirarão o sacrifício diário: Os serviços que ocorriam no compartimento santo do santuário terrestre eram chamados de “diário” (ou contínuo) porque ocorriam diariamente ao longo de um ano típico, em contraste com os serviços do lugar santíssimo, que ocorriam apenas uma vez por ano. Cristo e também o Seu ministério, como nosso Sumo Sacerdote, foram o verdadeiro cumprimento e o antítipo do sacerdote levita. Ele é o nosso único Sacerdote.

A igreja apostatada fez sacerdotes dos seus bispos, participando na eucaristia como um substituto para o Sacerdócio Levita, encobrindo o ministério celestial de Cristo e poluindo o Seu santuário. Os bispos tentaram ocupar o lugar dos sacerdotes e levitas do Antigo Testamento. Tentaram transformar práticas cristãs, como a santa ceia, em sacrifícios judeus, introduzindo muitos rituais novos.

Abominação desoladora: Surpreendente” é uma tradução alternativa para desoladora5. O Revelador retrata Roma eclesiástica como um poder que maravilharia o mundo e deixaria profetas maravilhados (Apocalipse 13:3; 17:6 e 7). Em Daniel 8:13, esse poder é chamado de “transgressão assoladora. Cristo falou para os judeus que seus pecados fariam com que a casa deles ficasse deserta (Mateus 23:32-38). Aquilo que profana lugares e coisas santas é chamado de abominação (Ezequiel 8). Esse poder é o maior de todos os desoladores de coisas e lugares santos, e é apropriadamente chamado de abominação desoladora .

Na profecia de Cristo, no Monte das Oliveiras, Ele usa o termo “abominável da desolação” (Mateus 24:15), referindo-se ao poder romano. Aqui, o governo imperial de Roma e a forma papal não estão separados, mas tratados como uma única identidade. À vista do Céu, Roma papal é apenas uma forma modificada da Roma pagã.

Aos violadores da aliança, ele, com lisonjas, perverterá, mas o povo que conhece ao seu Deus se tornará forte e ativo (Daniel 11:32).

Com lisonjas, perverterá: Isso implica em que se escondiam em falsa aparência, disfarce e ocultação de fatos reais, motivos, intenções e sentimentos fingidos. Os que abandonaram as Escrituras, pensaram mais nos decretos da igreja e nas decisões dos concílios do que nas Escrituras. Foram pervertidos pelas “lisonjas” do chefe da igreja, que os confirmava com posições, homenagens e honras trazidas pelas riquezas.

O povo que conhece ao seu Deus se tornara forte e ativo: A apostasia nunca foi universal. Sempre há os que mantêm a tocha da verdade acesa, realizando impressionantes feitos de heroísmo e fidelidade. A biografia dessas pessoas está cheia de relatos emocionantes de aventuras e de livramentos providenciais. A igreja os rotulou de hereges. Nós os conhecemos por Valdenses, Albingenses, Hussitas, Lolardos etc. Eles acenderam a chama que, mais tarde, se transformaria na resplandecente luz da Reforma.

Os sábios entre o povo ensinarão a muitos; todavia, cairão pela espada e pelo fogo, pelo cativeiro e pelo roubo, por algum tempo (Daniel 11:33).

Os sábios entre o povo ensinarão a muitos: Em todas as épocas, o verdadeiro povo de Deus, cuja inabalável determinação sempre foi a de contar para outros sobre a gloriosa verdade do evangelho, tem “ensinado a muitos”.

Cairão pela espada: O método utilizado por Roma para esmagar o que ela taxava de heresia era o uso do poder militar — a espada, naquele tempo.

E pelo fogo: Um dos métodos favoritos de executar hereges era deixá-los queimar vivos. Assim fazendo, as autoridades religiosas alegavam que não estavam derramando sangue.

Pelo cativeiro: Os que não concordavam com Roma eram enviados para trabalhar como escravos nas galeras até morrerem de exaustão. João Knox passou por um período de escravidão como esse, mas escapou.

E pelo roubo: Um dos métodos mais efetivos empregados para combater os hereges era o que se chamava as dragonadas (perseguição feita por tropas). Grande número de soldados libertinos e brutais alojavam-se nas casas dos Huguenotes, da França, com ordens de fazer o que bem entendessem, exceto matar, para fazer com que as pessoas se tornassem católicas.

Por algum tempo: Esse termo aponta para os 1.260 dias, ou anos literais, mencionados em Daniel e Apocalipse como o tempo determinado para a supremacia papal.

‘Ao caírem eles, serão ajudados com pequeno socorro; mas muitos se ajuntarão a eles com lisonjas’ (Daniel 11:34).

Serão ajudados com pequeno socorro: No livro de Apocalipse lemos que “a terra, porém, socorreu a mulher” (Apocalipse 12:13-16). Várias agências se levantaram para abrandar a severidade da perseguição contra o povo de Deus. A Reforma foi um desses métodos de auxílio. Os Estados alemães esposaram a causa protestante, protegeram os reformadores e restringiram a obra de perseguição.

Muitos se ajuntarão a eles com lisonjas: O período mais perigoso de qualquer movimento ocorre quando, em razão do seu sucesso, as massas aderem a ele por causa da sua popularidade. Foi isso que arruinou a igreja primitiva durante o terceiro e quarto séculos. Os grandes e ricos da Terra e os oficiais de Estado uniram-se à Igreja e a contaminaram com o paganismo.

Essa profecia indica que o protestantismo sucumbiria à popularidade e deixaria de protestar. Ele contemporizaria com o mundo e com o papado e, finalmente, “falaria como o dragão” (Apocalipse 13:11 e 12).

Quando os protestantes foram ajudados e sua causa começou a ficar popular, muitos passaram a associar-se a eles com adulações, ou a abraçar a fé sem nenhum motivo.

‘Alguns dos sábios cairão para serem provados, purificados e embranquecidos, até ao tempo do fim, porque se dará ainda no tempo determinado’ (Daniel 11:35).

Alguns dos sábios cairão: Temos aqui uma predição de martírio. Muitos do povo de Deus sofreram perseguição, morreram pela espada, queimados ou de inanição, em masmorras.

Purificados e embranquecidos: Muitas vezes, a perseguição foi uma bênção disfarçada. A igreja sempre esteve em seu estado de maior pureza e espiritualidade durante os períodos de perseguição e martírio. As perseguições e aflições são alguns dos melhores agentes purificadores e refinadores de Deus (ver Isaías 1:25-27; Zacarias 13:9; Malaquias 3:3). As provações da vida são obra de Deus para remover impurezas e imperfeições do caráter.

O tempo do fim: Parece claro que isso se refere ao fim do período de 1.260 anos de supremacia papal, que terminou em 1798, quando o papa foi feito prisioneiro por Berthier, um dos generais de Napoleão. O fim da supremacia papal marcaria o começo do período chamado de “o tempo do fim”.

Este rei fará segundo a sua vontade, e se levantará, e se engrandecerá sobre todo deus; contra o Deus dos deuses falará coisas incríveis e será próspero, até que se cumpra a indignação; porque aquilo que está determinado será feito (Daniel 11:36).

Este rei: O uso do pronome demonstrativo “este” mostra que a profecia está se referindo ao mesmo poder mencionado anteriormente, e não a um novo poder.

Fará segundo a sua vontade: isso indica um domínio universal, sem qualquer oposição. O verso 3 descreve a Grécia sob o domínio de Alexandre o Grande; o verso 16 é uma descrição de Roma sob o governo dos Césares. Agora, o mesmo termo é designado para descrever Roma papal.

Se engrandecerá sobre todo deus: Essa linguagem soa familiar para qualquer um que tenha estudado a descrição de Paulo sobre o mistério da iniquidade.

O qual se opõe e se levanta contra tudo que se chama Deus ou é objeto de culto, a ponto de assentar-se no santuário de Deus, ostentando-se como se fosse o próprio Deus (II Tessalonicenses 2:4).

O espírito de auto exaltação é o espírito de Lúcifer, o anjo caído (Isaías 14:12-14). A mesma expressão usada em outras profecias sobre o papado identifica esse espírito como o mesmo poder – orgulhoso e blasfemo. Nenhum outro poder terrestre se encaixa no molde profético.

Contra o Deus dos deuses falará coisas incríveis: A alegação de infalibilidade e os nomes e títulos blasfemos assumidos pelo Papa são “coisas incríveis” faladas contra o Deus dos deuses. A linguagem usada prova que esse capítulo é uma interpretação adicional das visões anteriores de Daniel.

Será próspero, até que se cumpra a indignação: Quando é que a ira, ou a indignação de Deus será completada neste mundo perverso? Será imediatamente antes da ressurreição dos justos. Muitas profecias mostram que o poder papal, que foi ferido pela Reforma, seria outra vez restaurado e continuaria até o fim. “Será próspero” e “se engrandecerá” são termos que claramente ligam esse verso à visão de Daniel 8.

Grande é o seu poder, mas não por sua própria força; causará estupendas destruições, prosperará e fará o que lhe aprouver; destruirá os poderosos e o povo santo. Por sua astúcia nos seus empreendimentos, fará prosperar o engano, no seu coração se engrandecerá e destruirá a muitos que vivem despreocupadamente; levantar-se-á contra o Príncipe dos príncipes, mas será quebrado sem esforço de mãos humanas (Daniel 8:24 e 25).

Aquilo que está determinado será feito: O papado terá um fim “determinado”. O Céu decretou e determinou sua destruição final. Daniel 9:27 usa linguagem semelhante: “Até que a destruição, que está determinada, se derrame sobre ele.” Um dos propósitos principais da visão de Daniel é revelar o destino final do papado. O anjo disse a Daniel:

E disse: Eis que te farei saber o que há de acontecer no último tempo da ira, porque esta visão se refere ao tempo determinado do fim (Daniel 8:19).

Será durante o tempo do fim que Babilônia receberá seu castigo. A ira de Deus será manifestada nas sete últimas pragas (Apocalipse, capítulos 16 e 17).

‘Não terá respeito aos deuses de seus pais, nem ao desejo de mulheres, nem a qualquer deus, porque sobretudo se engrandecerá’ (Daniel 11:37).

Não terá respeito aos deuses de seus pais: O chifre pequeno de Daniel 7 era diferente de todos os poderes da Terra. A religião de Roma era diferente das religiões anteriores. Ela é uma contemporização entre paganismo e cristianismo. O seu líder se exalta acima de todos os deuses, e reclama a adoração e a honra que pertence somente a Deus.

O desejo de mulheres: O papado nega aos seus sacerdotes e freiras o direito e o privilégio dado por Deus de eles constituírem família. Assim, um desejo que é originário do Céu não é levado em consideração, sendo-lhes negado.

‘Mas, em lugar dos deuses, honrará o deus das fortalezas; a um deus que seus pais não conheceram, honrará com ouro, com prata, com pedras preciosas e coisas agradáveis’ (Daniel 11:38).

O deus das fortalezas: Todos os governos civis dependem de força. Temos aqui um retrato de um sistema religioso fazendo algo que os pais da igreja não fizeram. Ele depende de força, munição e armas para perseguir seus objetivos e manter o seu poder. O papado se uniria ao Estado e dependeria da espada e das fortalezas de César, em vez da poderosa espada do Espírito, a Palavra de Deus.

Com ouro, com prata, com pedras preciosas: Opulentos santuários e templos foram construídos e dedicados; doações para esses novos deuses estranhos viriam a ser a maior fonte de renda da igreja. Esses deuses eram — e ainda são — honrados “com ouro, com prata, com pedras preciosas e coisas agradáveis”.

‘Com o auxílio de um deus estranho, agirá contra as poderosas fortalezas, e aos que o reconhecerem, multiplicar-lhes-á a honra, e fá-los-á reinar sobre muitos, e lhes repartirá a terra por prêmio’ (Daniel 11:39).

Um deus estranho: A elevação de um pequeno biscoito chamado hóstia a uma manifestação de Deus é, realmente, “um deus estranho”. A que ponto elevaram esse pequeno biscoito?

No que diz respeito aos efeitos práticos sobre a alma, a santa missa tem, de certas maneiras, vantagens sobre o Calvário. – Cardeal Vaughan, On The Holy Sacrifice of the Mass, pág. 42.

Repartirá a Terra por prêmio: Roma pagã dividiu o mundo em províncias, as quais foram dadas aos generais favoritos para que as governassem c as explorassem para obter ganhos. Roma papal dividiu o mundo em dioceses, sob a jurisdição de sacerdotes e monges. A combinação de várias dioceses forma o reino do arcebispo e sobre várias dessas dioceses reinam os cardeais, com honra e glória. De cada uma dessas divisões, de acordo com seu tamanho e entradas, corre um incessante rio de riquezas para os cofres do sucessor dos Césares, que governa em esplendor às margens do Tibre. Em Apocalipse 18, a grande Babilônia é retratada como um enorme sistema comercial que busca o ganho até mesmo no tráfico das “almas humanas. – Ver Outlines Studies in Daniel por Edwin R. Thiele, págs. 136 e 137.

Versos 40-43: O cumprimento desses versos ainda está no futuro, e devemos seguir cuidadosamente as explicações detalhadas das profecias ainda não cumpridas.

‘Mas, pelos rumores do Oriente e do Norte, será perturbado e sairá com grande furor, para destruir e exterminar a muitos. Armará as suas tendas palacianas entre os mares contra o glorioso monte santo; mas chegará ao seu fim, e não haverá quem o socorra’ (Daniel 11.44 e 45).

Entre os mares contra o glorioso monte santo: Jerusalém está localizada entre o mar Mediterrâneo e o mar Morto. O glorioso monte santo parece ser uma óbvia referência ao monte do templo em Jerusalém, o lugar santo onde foi erigido o templo de Salomão. Era o lugar em que os sacrifícios eram oferecidos.

Quando Cristo morreu na cruz, o sacrifício de animais deixou de existir. Isso foi ilustrado pelo véu do templo, que ‘se rasgou em duas partes de alto a baixo’ (Mateus 27:51).

Esse templo terrestre foi um símbolo temporário do santuário celestial, o “verdadeiro tabernáculo que o Senhor erigiu, não o homem (Hebreus 8:2). Por isso, o templo não existe mais, nem os sacrifícios terrestres. Sendo lógico assumir que toda sua liturgia se referia ao antítipo, o santuário celestial.

Armar “tendas palacianas entre os mares contra o glorioso monte” simboliza a obra de uma igreja apóstata, que introduziu na terra um serviço de mediação entre o homem e Deus, estranho a obra intercessória de Cristo junto ao trono do Todo-poderoso. Isso contraria o ministério do nosso Sumo Sacerdote no santuário celestial, que aplica os benefícios do Seu sacrifício na cruz em nosso favor. ‘Por isso, também pode salvar totalmente os que por Ele se chegam a Deus, vivendo sempre para interceder por eles’ (Hebreus 7:25).

Como consequência dessa intromissão, o rei do Norte será punido.

Não haverá quem o socorra: O papado tem recebido mais ajuda do que qualquer outro poder terrestre. Nações têm lutado cm seu favor e obedecido sua vontade. Quando ele enfrenta problemas, elas vêm ajudá-lo. Em Apocalipse 13:2 é dito que o dragão lhe daria o seu poder e o seu trono. Em Apocalipse 17, as nações da Terra, sob o símbolo de um animal com sete cabeças e dez chifres, carregam e sustentam a mulher simbólica chamada “A Grande Babilônia.

Em Apocalipse 17:16 c 17, vemos que nações que ajudaram o papado passarão a desprezá-lo e odiá-lo. Ele chega a seu fim no lago de fogo (Apocalipse 19:20), e assim termina a abominação papal – em perpétua desolação.

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