Memórias 1 – A Caneta

Era muito jovem, pré-adolescente, quando um dia recebi de um tio que veio de longe nos visitar, um presente. Acho que foi a primeira vez que vi o tio Miguel, pois o conhecia só de nome quando mamãe falava dos seus irmãos. Ele percebeu, homem de grande experiência, que eu gostava das letras, de estudar. Não sei até hoje seu grau de estudo, mas se mostrou muito inteligente e me deu vários conselhos sobre a importância do conhecimento, do estudo.

Então ele tirou do bolso uma caneta, era linda! Daquelas antigas em que se usava uma tinta especial para escrever, uma caneta de pena, como diziam.

Fiquei espantado com aquele presente, pois somente pessoas importantes usavam uma caneta daquela…… e ele me disse: “essa caneta lhe dou como estímulo para você vencer na vida, use-a com sabedoria”.

Guardei a caneta e toda vez que tinha dificuldades na jornada dos estudos, éramos muito pobres, eu abria a caixinha e via a caneta e lembrava das palavras de apoio. Guardei essa caneta até minha formatura em veterinária em 1986. Ela me acompanhou como se fosse um amuleto de estímulo, ela representava para mim que eu poderia vencer com o estudo.

Em 1991, já trabalhando como veterinário na Universidade Federal do Ceará, terminei minha especialização em Reprodução Animal, e a caneta sempre comigo. Em 1994, continuando a pós-graduação, terminei mestrado também no domínio da reprodução animal…. e a caneta sempre comigo. Em 1996, já professor concursado na UECE, passei na seleção da CAPES para fazer o doutorado na França…. e a caneta foi comigo… sempre comigo.

Em 2000, defendi tese de doutorado em confidencial na universidade François Rabelais de Tour, pois tinha uma patente e um segredo comercial em jogo, defendi sem público, só eu e a banca. E a caneta estava comigo…

A volta ao Brasil não foi fácil, tivemos que vender até os móveis para comer, e nem precisava passar por isso, eu tinha dinheiro no Brasil, mas circunstâncias nos trazem problema que nós mesmo não provocamos.

E a caneta? Desapareceu, não sei como? Perdeu-se na confusão de embalar as coisas para o retorno? Alguém, por acaso, a pegou? Não sei que fim teve a caneta…. mas senti muito sua perda, pois queria mostrar ao tio Miguel algum dia que eu tinha vencido, e a caneta seria o símbolo da vitória, a caneta mais linda que eu tive.

Não considerava a caneta um amuleto de sorte… apenas uma referência em lembrar das palavras do tio, a caneta foi um estímulo material representando as palavras que eu ouvi dele.

Muito obrigado Tio Miguel pela caneta…. ela ainda continua comigo na memória. Toda vez que vejo uma linda caneta, lembro do Senhor.

Nunca comprei uma caneta de alto valor…… talvez medo de perder de novo… uso uma simples BIC. Faz o mesmo trabalho… Aliás, tem alguém famoso que usa uma BIC!

Airton Alencar

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