O Pecado perdeu a Vergonha Comentário Wilson Paroschi

Fonte: https://www.instagram.com/wparoschi/

Alguns advogam a premissa de que, como todos são pecadores, a igreja tem que tolerar qualquer tipo de pecado. A lógica não poderia ser mais equivocada! Há pecado voluntário e há pecado involuntário (1 João 5:16-18).

Pecado voluntário é uma escolha pessoal, consciente – a pessoa sabe que é pecado, pode evitar, mas não quer evitar – e por isso é uma grave ofensa a Deus e à comunidade dos crentes. A Bíblia se refere ao pecado voluntário como o pecado “da mão levantada,” como diz o texto hebraico original de Números 15:30-31 (ARA, “atrevidamente”). É um ato de desprezo e rebelião. Não há sacrifício que possa expiar tal pecado (Hebreu 10:26-27), a menos, é claro, que o pecador se arrependa, peça perdão e se converta (do latim convertere, “dar meia volta”).

Pecado involuntário, por sua vez, não é uma escolha, mas um acidente – resultado de uma natureza caída e fragilizada pelo pecado. É do pecado involuntário que Paulo fala em Romanos 7:14-25 e é justamente por ser involuntário que o apóstolo conclui dizendo que “não existe nenhuma condenação para os que estão em Cristo Jesus” (Romanos 8:1). Ao longo do cap. 8, especialmente nos versículos finais, Paulo vai explicar por quê (vv. 31-39; cf. 1 João 2:1-2).

Mas, a pergunta é: como diferenciar o pecado voluntário do pecado involuntário? Isso nem sempre é possível. Nem sempre é possível conhecer as reais motivações por detrás do ato, isso porque o coração é jurisdição exclusiva de Deus (Jeremias 17:10; Romanos 2:16). De ninguém mais, incluindo-se a igreja. A igreja deve apenas salvaguardar a boa causa do evangelho (Tito 2:4, 8, 10). Ainda que imperfeita, ela é chamada a agir quando o pecado, voluntário ou involuntário, trouxer desonra à fé e ao nome de Deus (Tito 1:10-11).

Portanto, os que defendem uma espécie de salvo-conduto eclesiástico para os que vivem em flagrante violação dos princípios divinos estão confusos acerca do que é pecado, do que é graça e do que é igreja – confusos ou coisa pior, afinal de contas vivemos numa época em que o pecado perdeu a vergonha. E nunca é demais lembrar que quem define o que é pecado é Deus, não o homem. 

Nem sempre é possível distinguir pecado voluntário de pecado involuntário. Também pode ser que algum “fiel” esteja tentando acobertar uma transgressão voluntária, continuada. Nada disso, porém, é desculpa para se imaginar que todos na igreja são culpados do pecado voluntário, muito menos para se defender a tese de que a igreja deve tolerar o pecado voluntário e público entre seus membros.

A lógica é completamente errônea, se não perversa, até porque, como disse, o coração é jurisdição exclusiva de Deus. Somente Deus pode determinar a verdadeira natureza do ato ou a motivação subjacente. É necessário, portanto, separar a questão individual (salvífica) da questão social (eclesiástica). Deus cuida do individual. A igreja cuida do social. Mesmo sendo imperfeita, a igreja é chamada a estabelecer uma linha de demarcação clara entre o sagrado e o profano, o puro e o impuro (1 Coríntios 5:9-11; 2 Coríntios 2:14-18), e a dar um testemunho vivo do amor de Deus e o poder transformador do evangelho.

O problema é que alguns parecem estar se acostumando demais ao pecado e por isso o pecado tem se tornado cada vez menos ofensivo e cada vez mais ousado e desavergonhado. O pecado não deve jamais ser visto como a norma, sequer como tolerável. Ele é um intruso, uma anomalia, uma aberração no universo de Deus. O pecado, tanto voluntário como involuntário, não é para ser defendido. É para ser odiado, rejeitado, condenado. Foi o pecado involuntário que levou Paulo a exclamar em Romanos 7:24: “Miserável homem que sou! Quem me livrará do corpo desta morte?” – ou seja, da sua natureza caída e debilitada pelo pecado. Olhemos para o Calvário e digamos se há alguma dignidade, virtude ou aceitabilidade no pecado!

O pecado é um monstro que levou o próprio Filho de Deus à morte, não para que o pecado se tornasse aceitável, mas exatamente para que ele fosse derrotado, destruído, eliminado (Romanos 6:6; 1 João 3:8). O pecador, sim, é para ser amado, não o pecado. Ocorre que nem sempre é fácil encontrar o ponto de equilíbrio entre o amor ao pecador e a aversão ao pecado, o que resulta às vezes ou no moralismo cruel de um lado ou na tolerância permissiva de outro. Somente com muita oração, humildade e fidelidade ao evangelho é que a igreja conseguirá realmente adotar uma postura digna do reino de Deus, postura que mostre de que lado ela está no grande conflito entre o bem e o mal e, ao mesmo tempo, que vise à restauração do pecador.

A igreja deve sempre objetivar a cura do transgressor (2 Tessalonicenses 3:14-15; Tito 1:13). Mas, acostumar-se ao pecado significa perder de vez a noção do projeto salvífico de Deus. “Que diremos, pois? Permaneceremos no pecado, para que seja a graça mais abundante? De modo nenhum! Como viveremos ainda no pecado, nós os que para ele morremos?” (Romanos 6:1-2). Somente quem continua vivo para o pecado pode fazer qualquer concessão a ele.

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Uma resposta para O Pecado perdeu a Vergonha Comentário Wilson Paroschi

  1. Dani diz:

    Sensacional.
    Excelente comentário.
    Que realmente vivamos o evangelho. A morte de Cristo foi justamente para dá fim ao pecado, que nós pecadores possamos amar assim como Cristo amou.

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