Vá e Não Peques Mais – Comentário Wilson Paroschi

Fonte: https://www.instagram.com/wparoschi/

Admira-me a facilidade com que informações equivocadas são propagadas hoje em dia nas mídias sociais, às vezes justamente por aqueles que deveriam saber. Nesse caso, desconhecimento não é desculpa. A história da mulher flagrada em adultério (João 8:1-11) é um dos mais sublimes exemplos do amor perdoador de Jesus. Por ser sem pecado (v. 48), Jesus era o único que poderia haver atirado alguma pedra. Em vez, disso Ele a perdoou.

Mas, a história não termina aqui, em que pesem os esforços de alguns em dizer que a frase “vá e não peque mais” não é original. O que se alega é que essa frase teria sido acrescentada posteriormente por moralistas cristãos insatisfeitos com o tratamento que Jesus deu à pobre mulher. A informação simplesmente não é verdadeira. No aparato textual não há registro de um único manuscrito grego (ou latino) que tenha a história e que omita a frase final de Jesus.

Além disso, essa não teria sido a única vez em que Jesus mostraria compaixão por alguém e recomendasse que ele não pecasse mais (João 5:14). Dois pontos aqui são importantes. O primeiro é que a tentativa de açucarar o evangelho como se ele não exigisse nenhuma resposta de nossa parte é uma grave distorção. Quando Deus salva, Ele salva “do pecado”, não “no pecado”.

A Bíblia é clara: o perdão é um dom de Deus, mas ele deve ser aceito mediante uma atitude de arrependimento e conversão (Atos 3:19). Isso significa que o perdão deve provocar mudanças (Romanos 6:15; Efésios 2:8-10; Tito 2:11-12), levar a uma vida de obediência e santidade (Romanos 6:16-22).

O segundo ponto é que a vitória sobre o pecado não é uma realização humana. É divina (Filipenses 2:13; 1Tessalonicenses 5:23). Mas, somos nós que escolhemos o que queremos para a nossa vida. Sem nossa vontade e comprometimento (1Coríntios 9:27; Filipenses 2:12), Deus nada poderá fazer – e que ninguém diga que é fácil tomar tempo para a oração e o estudo da Bíblia. Nesta vida, jamais seremos perfeitos, mas estaremos cada dia exercitando nossa vontade, escolhendo e fazendo aquilo que permita com que Deus continue Sua obra em nós (Romanos 12:1-2; 1Coríntios 16:13). Ou seja, “vá e não peque mais” é tanto parte do evangelho quanto “também eu não a condeno”.

A história da mulher adúltera escancara a hipocrisia dos líderes religiosos judaicos. Os escribas e fariseus não estavam tão interessados em punir a mulher quanto estavam em condenar a Jesus. Jesus era o verdadeiro alvo. A mulher, apenas a isca.

Afinal, ela não cometera adultério sozinha, e a lei determinava que ambos, homem e mulher, deveriam ser apedrejados (Levíticos 20:10). A ausência do homem revela a malícia dos acusadores. A atitude perdoadora de Jesus se contrapôs à deles. Mas, o que isso significa? Que o pecado da mulher não era grave ou era menos grave que a hipocrisia dos judeus? Alguns argumentam como se a hipocrisia de uns justifica o pecado de outros. Nada poderia ser mais equivocado.

Por que o equilíbrio quanto a esse assunto parece ser tão difícil? Alguns só condenam o pecado (e o pecador). Outros só exaltam a graça, e com isso promovem um cristianismo romântico, colorido, em que a obediência cristã tem pouca ou nenhuma importância. Que fique claro: a graça oferece perdão ao pecador, não isenção de obediência. A ética divina não muda. Pecado não deixa de ser pecado. Obediência não se torna menos necessária apenas porque existe perdão. Seria bom reler passagens como Efésios 2:8-10 e Tito 2:11-14.

Os escribas e fariseus haviam tornado a religião um amontoado de regras e observâncias que, em si mesmas, só alimentavam a arrogância e a hipocrisia humanas. Jesus Se opôs a eles não porque comportamento não é importante, mas porque o comportamento deles era insuficiente e não emanava de um coração sincero (Mateus 23:23-28). Jesus jamais minimizou a necessidade de uma vida fiel e responsável diante de Deus. Pelo contrário, Ele disse: “Se a justiça de vocês não exceder em muito a dos escribas e fariseus, jamais entrarão no Reino dos Céus” (Mateus 5:20).

A ética religiosa de Jesus vai além da dos escribas e fariseus. Ela começa pelo coração e se revela mediante uma vida plenamente dedicada e consagrada a Deus, conquanto não exista perfeição deste lado da eternidade. Portanto, “vá e não peque mais” é tanto parte do evangelho quanto “nem eu também a condeno”.

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