Ellen White
“Naquele tempo Se levantará Miguel, o grande príncipe, que Se levanta pelos filhos do teu povo, e haverá um tempo de angústia, qual nunca houve, desde que houve nação até aquele tempo; mas naquele tempo livrar-se-á o teu povo, todo aquele que se achar escrito no livro.” Daniel 12:1.
Quando se encerrar a mensagem do terceiro anjo, a misericórdia não mais pleiteará em favor dos culpados habitantes da Terra. O povo de Deus terá cumprido a sua obra. Recebeu a “chuva serôdia”, o “refrigério pela presença do Senhor”, e acha-se preparado para a hora probante que diante dele está. No Céu, anjos apressam-se de um lado para o outro. Um anjo que volta da Terra anuncia que a sua obra está feita; o mundo foi submetido à prova final, e todos os que se mostraram fiéis aos preceitos divinos receberam “o selo do Deus vivo.” Cessa então Jesus de interceder no santuário celestial. Levanta as mãos e com grande voz diz: Está feito; e toda a hoste angélica depõe suas coroas, ao fazer Ele o solene aviso. “Quem é injusto, faça injustiça ainda; e quem está sujo, suje-se ainda; e quem é justo, faça justiça ainda; e quem é santo, seja santificado ainda.” Apocalipse 22:11. Todos os casos foram decididos para vida ou para morte. Cristo fez expiação por Seu povo, e apagou os seus pecados. O número de Seus súditos completou-se; “e o reino, e o domínio, e na majestade dos reinos debaixo de todo o céu”, estão prestes a ser entregues aos herdeiros da salvação, e Jesus deve reinar como Rei dos reis e Senhor dos senhores.
Deixando Ele o santuário, as trevas cobrem os habitantes da Terra. Naquele tempo terrível os justos devem viver à vista de um Deus santo, sem intercessor. Removeu-se a restrição que estivera sobre os ímpios, e Satanás tem domínio completo sobre os que finalmente se encontram impenitentes. Terminou a longanimidade de Deus: O mundo rejeitou a Sua misericórdia, desprezou-Lhe o amor, pisando Sua lei. Os ímpios passaram os limites de seu tempo de graça; o Espírito de Deus, persistentemente resistido, foi, por fim, retirado. Desabrigados da graça divina, não têm proteção contra o maligno. Satanás mergulhará então os habitantes da Terra em uma grande angústia final. Ao cessarem os anjos de Deus de conter os ventos impetuosos das paixões humanas, ficarão às soltas todos os elementos de contenda. O mundo inteiro se envolverá em ruína mais terrível do que a que sobreveio a Jerusalém na antiguidade.
Um único anjo destruiu todos os primogênitos dos egípcios, enchendo a Terra de pranto. Quando Davi ofendeu a Deus, por contar o povo, um anjo fez aquela terrível destruição pela qual seu pecado foi punido. O mesmo poder destruidor exercido por santos anjos quando Deus ordena, será exercido por anjos maus quando Ele o permitir. Há agora forças preparadas, e que aguardam apenas o consentimento divino para espalharem a desolação por toda parte.
Os que honram a lei de Deus têm sido acusados de acarretar juízos sobre o mundo, e serão considerados como a causa das terríveis convulsões da Natureza, da contenda e carnificina entre os homens, coisas que estão enchendo a Terra de pavor. O poder que acompanha a última advertência enraiveceu os ímpios; sua cólera acende-se contra todos os que receberam a mensagem, e Satanás incitará a maior intensidade ainda o espírito de ódio e perseguição.
Quando a presença de Deus se retirou, por fim, da nação judaica, sacerdotes e povo não o sabiam. Posto que sob o domínio de Satanás, e governados pelas paixões mais horríveis e perniciosas, consideravam-se ainda como os escolhidos de Deus. Continuou o ministério no templo; ofereciam-se sacrifícios sobre os altares poluídos, e diariamente a bênção divina era invocada sobre um povo culpado do sangue do querido Filho de Deus, e empenhado em matar Seus ministros e apóstolos. Assim, quando a decisão irrevogável do santuário houver sido pronunciada, e para sempre tiver sido fixado o destino do mundo, os habitantes da Terra não o saberão. As formas da religião continuarão a ser mantidas por um povo do qual finalmente o Espírito de Deus Se terá retirado; e o zelo satânico com que o príncipe do mal os inspirará para o cumprimento de seus maldosos desígnios, terá a semelhança do zelo para com Deus.
Como o sábado se tornou o ponto especial de controvérsia por toda a cristandade, e as autoridades religiosas e seculares se combinaram para impor a observância do domingo, a recusa persistente de uma pequena minoria em ceder à exigência popular, fará com que esta minoria seja objeto de ódio universal. Insistir-se-á em que os poucos que permanecem em oposição a uma instituição da igreja e lei do Estado, não devem ser tolerados; que é melhor que eles sofram do que nações inteiras sejam lançadas em confusão e ilegalidade. O mesmo argumento, há mil e oitocentos anos, foi aduzido contra Cristo pelos “príncipes do povo.” “Convém”, disse o astucioso Caifás, “que um homem morra pelo povo, e que não pereça toda a nação.” João 11:50. Este argumento parecerá conclusivo; e expedir-se-á, por fim, um decreto contra os que santificam o sábado do quarto mandamento, denunciando-os como merecedores do mais severo castigo, e dando ao povo liberdade para, depois de certo tempo, matá-los. O romanismo no Velho Mundo, e o protestantismo apóstata no Novo, adotarão uma conduta idêntica para com aqueles que honram todos os preceitos divinos.
O povo de Deus será então imerso naquelas cenas de aflição e angústia descritas pelo profeta como o tempo de angústia de Jacó. “Assim diz o Senhor: Ouvimos uma voz de tremor, de temor, mas não de paz. … Por que se têm tornado macilentos todos os rostos? Ah! porque aquele dia é tão grande, que não houve outro semelhante! e é tempo de angústia para Jacó; ele, porém será livrado dela.” Jeremias 30:5-7.
A noite de angústia de Jacó, quando lutou em oração para obter livramento da mão de Esaú (Gênesis 32:24-30), representa a experiência do povo de Deus no tempo de tribulação. Por causa do engano praticado a fim de conseguir a bênção de seu pai, destinada a Esaú, havia Jacó fugido para salvar a vida, alarmado pelas ameaças de morte feitas por seu irmão. Depois de ficar muitos anos como exilado, pôs-se a caminho, por ordem de Deus, para voltar com suas mulheres e filhos, rebanhos e gado, ao país natal. Chegando às fronteiras da terra, encheu-se de terror com as notícias da aproximação de Esaú à frente de um bando de guerreiros, indubitavelmente determinado à vingança. A multidão de Jacó, desarmada e indefesa, parecia prestes a cair desamparadamente como vítima da violência e morticínio. E ao fardo de ansiedade e temor acrescentou-se o peso esmagador da reprovação de si próprio; pois que era o seu pecado que acarretara este perigo. Sua única esperança estava na misericórdia de Deus; sua defesa única deveria ser a oração. Todavia, nada deixa de sua parte por fazer a fim de expiar a falta para com seu ir mão, e desviar o perigo que o ameaçava. Assim, ao aproximarem-se do tempo de angústia, devem os seguidores de Cristo esforçar-se por se colocar em uma luz conveniente perante o povo, a fim de desarmar o preconceito e remover o perigo que ameaça à liberdade de consciência.
Tendo feito afastar a sua família, para que não lhe testemunhasse a angústia, Jacó ficou só para interceder junto a Deus. Confessa o seu pecado, e com gratidão reconhece a misericórdia de Deus para com ele, ao mesmo tempo em que com profunda humilhação pleiteia o concerto estabelecido com seus pais, e as promessas a ele mesmo feitas na visão noturna de Betel, e na terra de seu exílio. Chegara o momento crítico em sua vida; tudo está em jogo. Nas trevas e solidão continua ele a orar e a humilhar-se perante Deus. Subitamente percebe uma mão sobre o ombro. Julga ser um inimigo que procuran tirar-lhe a vida, e com toda a energia do desespero luta com o seu assaltante. Quando começa a raiar o dia, o estranho emprega a n sua força sobrenatural: ao seu toque o vigoroso homem parece atacado de paralisia e, desajudado, cai a chorar, suplicante, sobre o pescoço de seu misterioso antagonista. Jacó sabe agora que era o Anjo do Concerto, com quem estivera a lutar. Posto que extenuado e sofrendo a mais aguda dor, não abandona o seu propósito. Havia muito tempo que ele suportava a perplexidade, o remorso e a angústia pelo seu pecado; agora deveria ter a segurança de que fora perdoado. O Visitante divino parece a ponto de partir; Jacó, porém, apega-se a Ele, rogando uma bênção. O Anjo insiste: “Deixa-Me ir, porque já a alva subiu”; mas o patriarca exclama: “Não Te deixarei ir, se me não abençoares.” Que confiança, que firmeza e perseverança são aqui reveladas! Fosse isto uma exigência jactanciosa, presumida, e Jacó teria sido destruído instantaneamente; mas dele era a segurança de quem confessa a sua fraqueza e indignidade e, não obstante, confia na misericórdia de um Deus que guarda Seu concerto.
“Lutou com o Anjo, e prevaleceu.” Oseias 12:4. Pela humilhação, arrependimento e submissão, aquele mortal pecador, falível, prevaleceu sobre a Majestade do Céu. Firmara as mãos trementes nas promessas de Deus, e o coração do Amor infinito não poderia afastar a defesa do pecador. Como prova de seu triunfo e animação a outros para lhe imitarem o exemplo, seu nome foi mudado de um nome que lhe recordava o pecado para outro que comemorava sua vitória. E o fato de haver Jacó prevalecido com Deus constituía uma segurança de que prevaleceria com os homens. Não mais teve receio de enfrentar a ira do irmão: pois o Senhor era a sua defesa.
Satanás tinha acusado Jacó perante os anjos de Deus, pretendendo o direito de destruí-lo por causa de seu pecado; havia incitado Esaú para marchar contra ele; e, durante a longa noite de luta do patriarca, Satanás esforçou-se por incutir nele uma intuição de culpa, a fim de o desanimar e romper sua ligação com Deus. Jacó foi quase arrastado ao desespero; mas sabia que sem o auxílio do Céu teria de perecer. Tinha-se arrependido sinceramente de seu grande pecado, e apelou para a misericórdia de Deus. Não se demoveria de seu propósito, antes segurou firme o Anjo, insistindo em seu pedido com ardentes e angustiosos brados, até prevalecer.
Assim como Satanás influenciou Esaú a marchar contra Jacó, instigará os ímpios a destruírem o povo de Deus no tempo de angústia. E assim como acusou a Jacó, acusará o povo de Deus. Conta com as multidões do mundo como seus súditos; mas o pequeno grupo que guarda os mandamentos de Deus, está resistindo a sua supremacia. Se ele os pudesse eliminar da Terra, seu triunfo seria completo. Ele vê que santos anjos os estão guardando, e deduz que seus pecados foram perdoados; mas não sabe que seus casos foram decididos no santuário celestial. Tem um conhecimento preciso dos pecados que os tentou a cometer, e apresenta esses pecados diante de Deus sob a mais exagerada luz, representando a este povo como sendo precisamente tão merecedor como ele mesmo da exclusão do favor de Deus. Declara que com justiça o Senhor não pode perdoar-lhes os pecados, e, no entanto, destruir a ele e seus anjos. Reclama-os como sua presa, e pede que sejam entregues em suas mãos para os destruir.
Acusando Satanás o povo de Deus por causa de seus pecados, o Senhor lhe permite que os prove até o último ponto. Sua confiança em Deus, sua fé e firmeza, serão severamente postas à prova. Ao reverem o passado, suas esperanças desfalecem; pois que em sua vida inteira pouco bem podem ver. Estão perfeitamente cônscios de sua fraqueza e indignidade. Satanás se esforça por aterrorizá-los com o pensamento de que seus casos não dão margem a esperança, que a mancha de seu aviltamento jamais será lavada. Espera destruir-lhes a fé, de tal maneira que cedam às suas tentações, desviando-se de sua fidelidade para com Deus.
Embora o povo de Deus esteja rodeado de inimigos que se esforçam por destruí-lo, a angústia que sofrem não é, todavia, o medo da perseguição por causa da verdade; receiam não se terem arrependido de todo pecado, e que, devido a alguma falta, não se cumpra a promessa do Salvador: “Eu te guardarei da hora da tentação que há de vir sobre todo o mundo.” Apocalipse 3:10. Se pudessem ter a segurança de seu perdão, não recuariam da tortura ou da morte; mas, se se mostrassem indignos, e perdessem a vida por causa dos seus defeitos de caráter, o santo nome de Deus seria então vituperado.
De todos os lados ouvem as tramas da traição, e veem alastrar-se ativamente a revolta; e desperta-se neles um intenso desejo, fervoroso anseio d’alma, para que esta grande apostasia termine e a impiedade dos ímpios chegue a termo. Mas, enquanto rogam a Deus que detenha a obra da rebelião, é com um vivo senso de reprovação
própria que não mais têm eles poder para resistir à poderosa onda do mal e forçá-la a retroceder. Sentem que se houvessem sempre empregado toda a sua habilidade no serviço de Cristo, indo avante de poder em poder, as forças de Satanás teriam menos capacidade para prevalecer contra eles.
Afligem a alma perante Deus, indicando o anterior arrependimento de seus muitos pecados, e reclamando a promessa do Salvador: “Que se apodere de Minha força e faça paz comigo; sim, que faça paz comigo.” Isaías 27:5. Sua fé não desfalece por não serem suas orações de pronto atendidas. Sofrendo embora a mais profunda ansiedade, terror e angústia, não cessam as suas intercessões. Apoderam-se da força de Deus como Jacó se apoderara do Anjo; e a linguagem de sua alma é: “Não Te deixarei ir, se me não abençoares.”
Se Jacó não se houvesse primeiro arrependido de seu pecado de obter pela fraude o direito de primogenitura, Deus não lhe teria ouvido a oração, preservando-lhe misericordiosamente a vida. Semelhantemente, no tempo de angústia, se o povo de Deus tivesse pecados não confessados que surgissem diante deles enquanto torturados pelo temor e angústia, seriam vencidos; o desespero suprimir-lhes-ia a fé, e não poderiam ter confiança para suplicar de Deus o livramento. Mas, ao mesmo tempo em que têm uma profunda intuição de sua indignidade, não possuem falta oculta para revelar. Seus pecados foram examinados e extinguidos no juízo; não os podem trazer à lembrança.
Satanás leva muitos a crer que Deus não toma em consideração sua infidelidade nas pequenas coisas da vida; mas o Senhor mostra, em seu trato com Jacó, que de maneira nenhuma sancionará ou tolerará o mal. Todos os que se esforçam por desculpar ou esconder seus pecados, permitindo que permaneçam nos livros do Céu, sem serem confessados e perdoados, serão vencidos por Satanás. Quanto mais exaltada for a sua profissão, e mais honrada a posição que ocupam, mais ofensiva é a sua conduta à vista de Deus, e mais certa é a vitória de seu grande adversário. Os que se retardam no preparo para o dia de Deus, não o poderão obter no tempo de angústia, ou em qualquer ocasião subsequente. O caso de todos estes é sem esperanças.
Os professos cristãos que vêm ao último e terrível conflito, sem se acharem preparados, confessarão em seu desespero os seus pecados com palavras de angústia consumidora enquanto os ímpios exultam de sua agonia. Estas confissões são do mesmo caráter que a de Esaú ou de Judas. Os que as fazem, lamentam o resultado da transgressão, mas não a culpa da mesma. Não sentem verdadeira contrição, nem aversão ao mal. Reconhecem seu pecado pelo medo do castigo; mas, semelhantes a Faraó na antiguidade, voltariam ao seu desafio ao Céu, caso fossem removidos os juízos.
A história de Jacó é também uma segurança de que Deus não rejeitará os que forem enganados, tentados e arrastados ao pecado, mas voltaram a Ele com verdadeiro arrependimento. Enquanto Satanás procura destruir esta classe, Deus enviará Seus anjos para a animar e proteger, no tempo de perigo. Os assaltos de Satanás são cruéis e decididos, seus enganos, terríveis; mas os olhos do Senhor estão sobre o Seu povo, e Seu ouvido escuta-lhes os clamores. Sua aflição é grande, as chamas da fornalha parecem prestes a consumi-los; mas Aquele que os refina e purifica, os apresentará como ouro provado no fogo. O amor de Deus para com os Seus filhos durante o período de sua mais intensa prova, é tão forte e terno como nos dias de sua mais radiante prosperidade; mas é necessário passarem pela fornalha de fogo; sua natureza terrena deve ser consumida para que a imagem de Cristo possa refletir-se perfeitamente.
O tempo de agonia e angústia que diante de nós está, exigirá uma fé que possa suportar o cansaço, a demora e a fome—fé que não desfaleça ainda que severamente provada. O tempo de graça é concedido a todos, a fim de se prepararem para aquela ocasião. Jacó prevaleceu porque era perseverante e decidido. Sua vitória é uma prova do poder da oração importuna. Todos os que lançarem mão das promessas de Deus, como ele o fez, e como ele forem fervorosos e perseverantes, serão bem-sucedidos como ele o foi. Os que não estão dispostos a negar o eu, a sentir verdadeira agonia perante a face de Deus, a orar longa e fervorosamente rogando-Lhe a bênção, não a obterão. Lutar com Deus—quão poucos sabem o que isto significa! Quão poucos têm buscado a Deus com contrição de alma, com intenso anelo, até que toda faculdade se encontre em sua máxima tensão! Quando ondas de desespero que linguagem alguma pode exprimir assoberbam os que fazem suas súplicas, quão poucos se apegam com fé inquebrantável às promessas de Deus! Os que agora exercem pouca fé, correm maior perigo de cair sob o poder dos enganos de Satanás, e do decreto que violentará a consciência. E mesmo resistindo à prova, serão, imersos em uma agonia e aflição mais profundas no tempo de angústia, porque nunca adquiriram o hábito de confiar em Deus. As lições da fé as quais negligenciaram, serão obrigados a aprender sob a pressão terrível do desânimo.
Devemos familiarizar-nos agora com Deus, provando as Suas promessas. Os anjos registram toda oração fervorosa e sincera. Devemos de preferência dispensar as satisfações egoístas a negligenciar a comunhão com Deus. A maior pobreza, a máxima abnegação, tendo Sua aprovação, é melhor do que as riquezas, honras, comodidades e amizade, sem Ele. Devemos tomar tempo para orar. Se consentirmos que a mente se absorva com os interesses mundanos, o Senhor talvez nos dê esse tempo removendo nossos ídolos, sejam estes o ouro, sejam casas ou terras férteis.
Os jovens não seriam seduzidos pelo pecado se se recusassem a entrar por qualquer caminho, a não ser que pudessem rogar a bênção de Deus sobre o mesmo. Se os mensageiros que levam a última e solene advertência ao mundo orassem rogando a bênção de Deus, não de maneira fria, descuidada, ociosa, mas fervorosamente e com fé, como fez Jacó, encontrariam muitos lugares onde poderiam dizer: “Tenho visto a Deus face a face, e a minha alma foi salva.” Gênesis 32:30. Seriam tidos pelo Céu na conta de príncipes, com poder para prevalecer com Deus e com os homens.
O “tempo de angústia como nunca houve” está prestes a manifestar-se sobre nós; e necessitaremos de uma experiência que agora não possuímos, e que muitos são demasiado indolentes para obter. Dá-se muitas vezes o caso de se supor maior a angústia do que em realidade o é; não se dá isso, porém, com relação à crise diante de nós. A mais vívida descrição não pode atingir a grandeza daquela prova. Naquele tempo de provações, toda alma deverá por si mesma estar em pé perante Deus. “Ainda que Noé, Daniel e Jó” estivessem na Terra, “vivo Eu, diz o Senhor Jeová, que nem filho nem filha eles livrariam, mas só livrariam as suas próprias almas pela sua justiça.” Ezequiel 14:20.
Agora, enquanto nosso grande Sumo Sacerdote está a fazer expiação por nós, devemos procurar tornar-nos perfeitos em Cristo. Nem mesmo por um pensamento poderia nosso Salvador ser levado a ceder ao poder da tentação. Satanás encontra nos corações humanos algum ponto em que pode obter apoio; algum desejo pecaminoso é acariciado, por meio do qual suas tentações asseguram a sua força. Mas Cristo declarou de Si mesmo: “Aproxima-se o príncipe deste mundo, e nada tem em Mim.” João 14:30. Satanás nada pôde achar no Filho de Deus que o habilitasse a alcançar a vitória. Tinha guardado os mandamentos de Seu Pai, e não havia nEle pecado que Satanás pudesse usar para a sua vantagem. Esta é a condição em que devem encontrar-se os que subsistirão no tempo de angústia.
É nesta vida que devemos afastar de nós o pecado, pela fé no sangue expiatório de Cristo. Nosso precioso Salvador nos convida a unir-nos a Ele, a ligar nossa fraqueza à Sua força, nossa ignorância à Sua sabedoria, aos Seus méritos nossa indignidade. A providência de Deus é a escola na qual devemos aprender a mansidão e humildade de Jesus. O Senhor está sempre a colocar diante de nós, não o caminho que preferiríamos, o qual nos parece mais fácil e agradável, mas os verdadeiros objetivos da vida. Toca a nós cooperar com os meios que o Céu emprega na obra de conformar nosso caráter ao modelo divino. Ninguém poderá negligenciar ou adiar esta obra sem grave perigo para a sua alma.
O apóstolo João ouviu em visão uma grande voz no Céu, exclamando: “Ai dos que habitam na Terra e no mar; porque o diabo desceu a vós, e tem grande ira, sabendo que já tem pouco tempo.” Apocalipse 12:12. Terríveis são as cenas que provocam esta exclamação da voz celestial. A ira de Satanás aumenta à medida em que o tempo se abrevia, e sua obra de engano e destruição atingirá o auge no tempo de angústia.
Terríveis cenas de caráter sobrenatural logo se manifestarão nos céus, como indício do poder dos demônios, operadores de prodígios. Os espíritos diabólicos sairão aos reis da Terra e ao mundo inteiro, para segurá-los no engano, e forçá-los a se unirem a Satanás em sua última luta contra o governo do Céu. Mediante estes agentes, serão enganados tanto governantes como súditos. Levantar-se-ão pessoas pretendendo ser o próprio Cristo e reclamando o título e culto que pertencem ao Redentor do mundo. Efetuarão maravilhosos prodígios de cura, afirmando terem recebido do Céu revelações que contradizem o testemunho das Escrituras.
Como ato culminante no grande drama do engano, o próprio Satanás personificará Cristo. A igreja tem há muito tempo professado considerar o advento do Salvador como a realização de suas esperanças. Assim, o grande enganador fará parecer que Cristo veio. Em várias partes da Terra, Satanás se manifestará entre os homens como um ser majestoso, com brilho deslumbrante, assemelhando-se à descrição do Filho de Deus dada por João no Apocalipse (cap. 1:13-15). A glória que o cerca não é excedida por coisa alguma que os olhos mortais já tenham contemplado. Ressoa nos ares a aclamação de triunfo: “Cristo veio! Cristo veio!” O povo se prostra em adoração diante dele, enquanto este ergue as mãos e sobre eles pronuncia uma bênção, assim como Cristo abençoava Seus discípulos quando aqui na Terra esteve. Sua voz é meiga e branda, cheia de melodia. Em tom manso e compassivo apresenta algumas das mesmas verdades celestiais e cheias de graça que o Salvador proferia; cura as moléstias do povo, e então, em seu pretenso caráter de Cristo, alega ter mudado o sábado para o domingo, ordenando a todos que santifiquem o dia que ele abençoou. Declara que aqueles que persistem em santificar o sétimo dia estão blasfemando de Seu nome, pela recusa de ouvirem Seus anjos à eles enviados com a luz e a verdade. É este o poderoso engano, quase invencível. Semelhantes aos samaritanos que foram enganados por Simão Mago, as multidões, desde o menor até o maior, dão crédito a esses enganos, dizendo: “Esta é a grande virtude de Deus.” Atos 8:10.
Mas o povo de Deus não será desencaminhado. Os ensinos deste falso cristo não estão de acordo com as Escrituras. Sua bênção é pronunciada sobre os adoradores da besta e de sua imagem, a mesma classe sobre a qual a Bíblia declara que a ira de Deus, sem mistura, será derramada.
E, demais, não será permitido a Satanás imitar a maneira do advento de Cristo. O Salvador advertiu Seu povo contra o engano neste ponto, e predisse claramente o modo de Sua segunda vinda. “Surgirão falsos cristos e falsos profetas, e farão tão grandes sinais e prodígios que, se possível fora, enganariam até os escolhidos. … Portanto se vos disserem: Eis que Ele está no deserto, não saiais; eis que Ele está no interior da casa, não acrediteis. Porque, assim como o relâmpago sai do Oriente e se mostra até ao Ocidente, assim será também a vinda do Filho do homem.” Mateus 24:24 – 27. Não há possibilidade de ser imitada esta vinda. Será conhecida universalmente, testemunhada pelo mundo inteiro.
Apenas os que forem diligentes estudantes das Escrituras, e receberem o amor da verdade, estarão ao abrigo dos poderosos enganos que dominam o mundo. Pelo testemunho da Bíblia estes surpreenderão o enganador em seu disfarce. Para todos virá o tempo de prova. Pela cirandagem da tentação, revelar-se-ão os verdadeiros crentes. Acha-se hoje o povo de Deus tão firmemente estabelecido em Sua Palavra que não venha a ceder à evidência de seus sentidos? Apegar-se-á nesta crise à Bíblia, e a Bíblia só? Sendo possível, Satanás os impedirá de obter o preparo para estar em pé naquele dia. Disporá as coisas de tal maneira a lhes obstruir o caminho; embaraçá-los-á com os tesouros terrestres; fá-los-á levar um fardo pesado, cansativo, a fim de que seu coração se sobrecarregue com os cuidados desta vida, e o dia de prova venha sobre eles como um ladrão.
Quando o decreto promulgado pelos vários governantes da cristandade contra os observadores dos mandamentos lhes retirar a proteção do governo, abandonando-os aos que lhes desejam a destruição, o povo de Deus fugirá das cidades e vilas e reunir-se-á em grupos, habitando nos lugares mais desertos e solitários. Muitos encontrarão refúgio na fortaleza das montanhas. Semelhantes aos cristãos dos vales do Piemonte, dos lugares altos da Terra farão santuários, agradecendo a Deus pelas “fortalezas das rochas.” Isaías 33:16. Muitos, porém, de todas as nações, e de todas as classes, elevadas e humildes, ricos e pobres, negros e brancos, serão arrojados na escravidão mais injusta e cruel. Os amados de Deus passarão dias penosos, presos em correntes, retidos pelas barras da prisão, sentenciados à morte, deixados alguns aparentemente para morrer à fome nos escuros e nauseabundos calabouços. Nenhum ouvido humano lhes escutará os gemidos; mão humana alguma estará pronta para prestar-lhes auxílio.
Esquecer-Se-á o Senhor de Seu povo nesta hora de provação? Esqueceu-Se Ele de Seu fiel Noé quando caíram os juízos sobre o mundo antediluviano? Esqueceu-Se Ele de Ló, quando desceu fogo do céu para consumir as cidades da planície? Esqueceu-Se de José, rodeado de idólatras, no Egito? Esqueceu-Se de Elias, quando o juramento de Jezabel o ameaçou com a sorte dos profetas de Baal?Esqueceu-Se de Jeremias no escuro e horrendo fosso de sua prisão? Esqueceu-Se dos três heróis na fornalha ardente? ou de Daniel na cova dos leões?
“Mas Sião diz: Já me desamparou o Senhor, e o Senhor Se esqueceu de mim. Pode uma mulher esquecer-se tanto de seu filho que cria, que se não compadeça dele, do filho do seu ventre? Mas ainda que esta se esquecesse, Eu, todavia, Me não esquecerei de ti. Eis que nas palmas das Minhas mãos te tenho gravado.” Isaías 49:14-16. O Senhor dos exércitos disse: “Aquele que tocar em vós toca na menina do Seu olho.” Zacarias 2:8.
Ainda que os inimigos os lancem nas prisões, as paredes do calabouço não podem interceptar a comunicação entre sua alma e Cristo. Aquele que vê todas as suas fraquezas, e sabe de toda provação, está acima de todo o poder terrestre; e anjos virão a eles nas celas solitárias, trazendo luz e paz do Céu. A prisão será como um palácio; pois os ricos na fé morarão ali, e as paredes sombrias serão iluminadas com a luz celestial, como quando Paulo e Silas, à meia-noite, oraram e cantaram louvores na masmorra de Filipos.
Os juízos de Deus cairão sobre os que procuram oprimir e destruir Seu povo. Sua grande longanimidade para com os ímpios, torna audazes os homens na transgressão, mas seu castigo, embora muito retardado, não é menos certo e terrível. “O Senhor Se levantará como no monte de Perazim, e Se irará, como no vale de Gibeom, para fazer a Sua obra, a Sua estranha obra, e para executar o Seu ato, o Seu estranho ato.” Isaías 28:21. Para o nosso misericordioso Deus, o infligir castigo é ato estranho. “Vivo Eu, diz o Senhor Jeová, que não tenho prazer na morte do ímpio.” Ezequiel 33:11. O Senhor é “misericordioso e piedoso, tardio em iras e grande em beneficência e verdade; … que perdoa a iniquidade, e a transgressão e o pecado.” Todavia, “ao culpado não tem por inocente.” “O Senhor é tardio em irar-Se, mas grande em força, e ao culpado não tem por inocente.” Êxodo 34:6, 7; Naum 1:3. Reivindicará com terríveis manifestações a dignidade de Sua lei espezinhada. A severidade da retribuição que aguarda o transgressor pode ser julgada pela relutância do Senhor em executar justiça. A nação que por tanto tempo Ele suporta, e que não ferirá antes de haver ela enchido a medida de sua iniquidade, segundo os cálculos divinos, beberá, por fim, a taça da ira sem mistura de misericórdia.
Quando Cristo cessar de interceder no santuário, será derramada a ira que, sem mistura, se ameaçara fazer cair sobre os que adoram a besta e sua imagem, e recebem o seu sinal. Apocalipse 14:9, 10. As pragas que sobrevieram ao Egito quando Deus estava prestes a libertar Israel, eram de caráter semelhante aos juízos mais terríveis e extensos que devem cair sobre o mundo precisamente antes do libertamento final do povo de Deus. Diz o autor do Apocalipse, descrevendo esses tremendos flagelos: “Fez-se uma chaga má e maligna nos homens que tinham o sinal da besta e que adoravam a sua imagem.” O mar “se tornou em sangue como de um morto, e morreu no mar toda a alma vivente.” E os rios e fontes das águas “se tornaram em sangue.” Terríveis como são estes castigos, a justiça de Deus é plenamente reivindicada. Declara o anjo de Deus: “Justo és Tu, ó Senhor, … porque julgaste estas coisas. Visto como derramaram o sangue dos santos e dos profetas, também Tu lhes deste o sangue a beber; porque disto são merecedores.” Apocalipse 16:2-6. Condenando o povo de Deus à morte, são tão culpados do crime do derramamento de seu sangue como se este tivesse sido derramado por suas próprias mãos. De modo semelhante declarou Cristo serem os judeus de Seu tempo culpados de todo o sangue dos homens santos que havia sido derramado desde os dias de Abel; pois possuíam o mesmo espírito, e estavam procurando fazer a mesma obra daqueles assassinos dos profetas.
Na praga que se segue, é dado poder ao Sol para que “abrasasse os homens com fogo. E os homens foram abrasados com grandes calores.” Versos 8, 9. Os profetas assim descrevem a condição da Terra naquele tempo terrível: “E a Terra [está] triste; … porque a colheita do campo pereceu.” “Todas as árvores do campo se secaram, e a alegria se secou entre os filhos dos homens.” “A semente apodreceu debaixo dos seus torrões, os celeiros foram assolados.” “Como geme o gado! as manadas de vacas estão confusas, porque não têm pasto: … os rios se secaram, e o fogo consumiu os pastos do deserto.” “Os cânticos do templo serão gritos de dor naquele dia, diz o Senhor Jeová; muitos serão os cadáveres; em todos os lugares serão lançados fora em silêncio.” Joel 1:10-12, 17-20; Amós 8:3.
Estas pragas não são universais, ao contrário os habitantes da Terra seriam inteiramente exterminados. Contudo serão os mais terríveis flagelos que já foram conhecidos por mortais. Todos os juízos sobre os homens, antes do final do tempo da graça, foram misturados com misericórdia. O sangue propiciatório de Cristo tem livrado o pecador de os receber na medida completa de sua culpa; mas no juízo final a ira é derramada sem mistura de misericórdia.
Naquele dia, multidões desejarão o abrigo da misericórdia de Deus, abrigo que durante tanto tempo desprezaram. “Eis que vêm dias, diz o Senhor Jeová, em que enviarei fome sobre a Terra, não fome de pão, nem sede de água, mas de ouvir as palavras do Senhor. E irão vagabundos de um mar até outro mar e do Norte até ao Oriente; correrão por toda a parte, buscando a Palavra do Senhor, e não a acharão.” Amós 8:11, 12.
O povo de Deus não estará livre de sofrimento; mas conquanto perseguidos e angustiados, conquanto suportem privações, e sofram pela falta de alimento, não serão abandonados a perecer. O Deus que cuidou de Elias, não desamparará nenhum de Seus abnegados filhos. Aquele que conta os cabelos de sua cabeça, deles cuidará; e no tempo de fome serão alimentados. Enquanto os ímpios estão a morrer de fome e pestilências, os anjos protegerão os justos, suprindo-lhes as necessidades. Para aquele que “anda em justiça” é esta promessa: “O seu pão lhe será dado, as suas águas serão certas. Os aflitos e necessitados buscam águas, e não as há, e a sua língua se seca de sede; mas Eu, o Senhor os ouvirei, Eu o Deus de Israel, os não desampararei.” Isaías 33:16; 41:17.
“Ainda que a figueira não floresça, nem haja fruto na vide; o produto da oliveira minta, e os campos não produzam mantimento; as ovelhas da malhada sejam arrebatadas, e nos currais não haja vacas”, os que O temem, contudo, se alegrarão no Senhor e exultarão no Deus de sua salvação. Habacuque 3:17, 18.
“O Senhor é quem te guarda; o Senhor é a tua sombra à tua direita. O Sol não te molestará de dia, nem a Lua de noite. O Senhor te guardará de todo o mal; Ele guardará a tua alma.” “Ele te livrará do laço do passarinheiro, e da peste perniciosa. Ele te cobrirá com as Suas penas, e debaixo de Suas asas estarás seguro; a Sua verdade é escudo e broquel. Não temerás espanto noturno, nem seta que voe de dia, nem peste que ande na escuridão, nem mortandade que assole ao meio-dia. Mil cairão ao teu lado, e dez mil à tua direita, mas tu não serás atingido. Somente com os teus olhos olharás, e verás a recompensa dos ímpios. Porque Tu, ó Senhor, és o meu refúgio! O Altíssimo é a tua habitação. Nenhum mal te sucederá, nem praga alguma chegará à tua tenda.” Salmos 121:5-7; 91:3-10.
Aos olhos humanos parecerá, todavia, que o povo de Deus logo deverá selar seu testemunho com seu sangue, assim como fizeram os mártires antes deles. Eles mesmos começam a recear que o Senhor os abandonou para sucumbirem às mãos de seus inimigos. É um tempo de terrível agonia. Dia e noite clamam a Deus rogando livramento. Os ímpios exultam, e ouvem-se o grito de zombaria: “Onde está agora a vossa fé? Por que Deus vos não livra de nossas mãos, se sois verdadeiramente Seu povo?” Mas os expectantes lembram-se de Jesus morrendo sobre a cruz do Calvário, e os principais dos sacerdotes e príncipes bradando com escárnio: “Salvou os outros, e a Si mesmo não pode salvar-Se. Se é o Rei de Israel, desça agora da cruz, e creremos nEle.” Mateus 27:42. Semelhantes a Jacó, todos estão a lutar com Deus. Seu semblante exprime sua luta íntima. A palidez repousa em cada rosto. Não cessam, porém, de orar fervorosamente.
Pudessem os homens ver com visão celestial e contemplariam grupos de anjos magníficos em poder, estacionados em redor daqueles que guardaram a palavra da paciência de Cristo. Com ternura compassiva, os anjos têm testemunhado sua angústia e ouvido suas orações. Estão à espera da ordem de seu Comandante para os arrancar do perigo. Mas devem ainda esperar um pouco mais. O povo de Deus deve beber o cálice e ser batizado com o batismo. A própria demora, para eles tão penosa, é a melhor resposta às suas petições. Esforçando-se por esperar confiantemente que o Senhor opere, são levados a exercitar a fé, esperança e paciência, que muito pouco foram exercitadas durante sua experiência religiosa. Contudo, por amor dos escolhidos, o tempo de angústia será abreviado. “E Deus não fará justiça a Seus escolhidos, que clamam a Ele de dia e de noite…? Digo-vos que depressa lhes fará justiça.” Lucas 18:7, 8. O fim virá mais rapidamente do que os homens esperam. O trigo será colhido e atado em molhos para o celeiro de Deus; o joio será atado em feixes para os fogos da destruição.
As sentinelas celestiais, fiéis ao seu encargo, continuam com sua vigilância. Posto que um decreto geral haja fixado um tempo em que os observadores dos mandamentos poderão ser mortos, seus inimigos nalguns casos se antecipam ao decreto e, antes do tempo especificado, se esforçam por tirar-lhes a vida. Mas ninguém pode passar através dos poderosos guardas estacionados em redor de toda alma fiel. Alguns são assaltados ao fugirem das cidades e vilas; mas as espadas contra eles levantadas se quebram e caem tão impotentes como a palha. Outros são defendidos por anjos sob a forma de guerreiros. Em todos os tempos Deus tem usado os santos anjos para socorrer e livrar Seu povo. Seres celestiais têm tomado parte ativa nos negócios humanos. Têm aparecido trajando vestes que resplandeciam como o relâmpago; têm vindo como homens, no aspecto de viajantes. Anjos têm aparecido sob a forma de homens de Deus. Têm repousado, como se estivessem cansados, sob os carvalhos ao meio-dia. Têm aceitado a hospitalidade dos lares humanos. Agiram como guias aos viajantes surpreendidos pela noite. Acenderam com suas próprias mãos os fogos do altar. Abriram as portas do cárcere, libertando os servos do Senhor. Revestidos da armadura do Céu, vieram para remover a pedra do túmulo do Salvador.
Sob a forma humana, muitas vezes se acham anjos nas assembleias dos justos, e visitam as dos ímpios, assim como foram a Sodoma a fim de fazerem um relato de suas ações, para determinar se haviam passado os limites da longanimidade de Deus. O Senhor Se deleita na misericórdia; e, por amor dos poucos que realmente O servem, restringe as calamidades, prolongando a tranqüilidade das multidões. Mal compreendem os que pecam contra Deus que devem sua própria vida aos poucos fiéis a quem se deleitam em ridicularizar e oprimir.
Ainda que os governadores deste mundo não o saibam, os anjos têm sido, muita vez, oradores em seus concílios. Olhos humanos os têm visto; humanos ouvidos escutaram-lhes os apelos; lábios humanos se opuseram a suas sugestões e ridicularizaram-lhes os conselhos; humanas mãos os defrontaram com insultos e agressão. Nos recintos dos concílios e nas cortes de justiça, estes mensageiros celestiais têm revelado um conhecimento particularizado da história humana; demonstraram-se ser mais capazes para defender a causa dos opressos do que os advogados mais hábeis e eloquentes. Frustraram propósitos e impediram males que teriam grandemente retardado a obra de Deus, ocasionando grande sofrimento a Seu povo. Na hora de perigo e angústia, “o anjo do Senhor acampa-se ao redor dos que O temem, e os livra.” Salmos 34:7.
Com ardente anseio, o povo de Deus aguarda os sinais de seu Rei vindouro. Ao serem consultadas as sentinelas: “Guarda, que houve de noite?” é dada sem vacilação a resposta: “Vem a manhã, e também a noite.” Isaías 21:11, 12. Brilha a luz nas nuvens, sobre o cume das montanhas. Revelar-se-á em breve a Sua glória. O Sol da justiça está prestes a raiar. A manhã e a noite estão ambas às portas — o iniciar de um dia intérmino para os justos, e o baixar de eterna noite para os ímpios.
Ao insistir o povo militante de Deus com suas súplicas perante o Senhor, o véu que os separa do invisível parece quase a retirar-se. Os céus incendem com o raiar do dia eterno e, qual melodia de cânticos angelicais, soam ao ouvido as palavras: “Permanecei firmes em vossa fidelidade. O auxílio vem.” Cristo, o todo-poderoso Vencedor, oferece a Seus soldados cansados inalterável coroa de glória; e vem a Sua voz, das portas entreabertas: “Eis que Eu estou convosco. Não temais. Conheço todas as vossas angústias; suportei vossos pesares. Não estais a lutar contra inimigos que ainda não foram provados. Pelejei o combate em vosso favor, e em Meu nome sois mais do que vencedores.”
O precioso Salvador enviará auxílio exatamente quando dele necessitarmos. O caminho para o Céu acha-se consagrado pelas Suas pegadas. Cada espinho que fere nossos pés, feriu os Seus. A cruz que somos chamados a carregar, Ele a levou antes de nós. O Senhor permite que venham os conflitos, a fim de prepararem a alma para a paz. O tempo de angústia é uma prova terrível para o povo e Deus; é, porém, a ocasião de todo verdadeiro crente olhar para cima, e pela fé verá o arco da promessa circundando-o.
“Voltarão os resgatados do Senhor, e virão a Sião com júbilo, e perpétua alegria haverá sobre as suas cabeças; gozo e alegria alcançarão, a tristeza e o gemido fugirão. Eu, Eu sou Aquele que vos consola; quem pois és tu, para que temas o homem, que é mortal, ou o filho do homem que se tornará em feno? E te esqueces do Senhor, que te criou, … e temes continuamente todo o dia o furor do angustiador, quando se prepara para destruir? Onde está o furor do que te atribulava? O exilado cativo depressa será solto, e não morrerá na caverna, e o seu pão lhe não faltará. Porque Eu sou o Senhor teu Deus, que fende o mar, e bramem as suas ondas. O Senhor dos exércitos é o Seu nome. E ponho as Minhas palavras na tua boca, e te cubro com a sombra da Minha mão.” Isaías 51:11-16.
“Pelo que agora ouve isto, ó opressa, e embriagada, mas não de vinho. Assim diz o teu Senhor, Jeová, e teu Deus, que pleiteará a causa de Seu povo: Eis que Eu tomo da tua mão o cálice da vacilação, as fezes do cálice do Meu furor; nunca mais dele beberás. Mas pô-lo-ei nas mãos dos que te entristeceram, que dizem à tua alma: Abaixa-te, para que passemos sobre ti; e tu puseste as tuas costas como chão e como caminho, aos viajantes.” Isaías 51:21-23.
Os olhos de Deus, vendo através dos séculos, fixaram-se na crise que Seu povo deve enfrentar quando os poderes terrestres contra ele se dispuserem. Como o exilado cativo, estarão receosos da morte pela fome, ou pela violência. Mas o Santo, que diante de Israel dividiu o Mar Vermelho, manifestará Seu grande poder, libertando-o do cativeiro. “Eles serão Meus, diz o Senhor dos exércitos, naquele dia que farei serão para Mim particular tesouro; poupá-los-ei como um homem poupa a seu filho, que o serve.” Malaquias 3:17. Se o sangue das fiéis testemunhas de Cristo fosse derramado nessa ocasião, não seria como o sangue dos mártires, qual semente lançada a fim de produzir uma colheita para Deus. Sua fidelidade não seria testemunho para convencer outros da verdade; pois que o coração endurecido rebateu as ondas de misericórdia até não mais voltarem. Se os justos fossem agora abandonados para caírem como presa de seus inimigos, seria um triunfo para o príncipe das trevas. Diz o salmista: “No dia da adversidade me esconderá no Seu pavilhão; no oculto do seu tabernáculo me esconderá.” Salmos 27:5. Cristo falou: “Vai, pois, povo Meu, entra nos teus quartos, e fecha as tuas portas sobre ti; esconde-te só por um momento, até que passe a ira. Porque eis que o Senhor sairá do Seu lugar, para castigar os moradores da Terra, por causa da sua iniquidade.” Isaías 26:20, 21. Glorioso será o livramento dos que pacientemente esperaram pela Sua vinda, e cujos nomes estão escritos no livro da vida.
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