A plenitude dos tempos: hoje vos nasceu o Salvador

Este capítulo é baseado em Gálatas 4:4-5; Ezequiel 12:22; Gênesis 15:14; 49:40; Êxodo 12:41; Mateus 2:18; Atos 3:22; Isaías 42: 4; 44:3 ; 60: 3; 61: 1-2;  Daniel 2:44; Salmo 112:4; Miqueias 5:2; Apocalipse 19:6; Romanos 11:33; Lucas 2:1-20.


por  Ellen White, O Desejado de Todas as Nações, Capítulos 3 e 4
Vindo a plenitude dos tempos, Deus enviou Seu Filho […] para remir os que estavam debaixo da lei, a fim de recebermos a adoção de filhos”. (Gálatas 4:4, 5)

A vinda do Salvador foi predita no Éden. Quando Adão e Eva ouviram pela primeira vez a promessa, aguardavam-lhe o pronto cumprimento. Saudaram alegremente seu primogênito, na esperança de que fosse o Libertador. Mas o cumprimento da promessa demorava. Aqueles que primeiro a receberam, morreram sem o ver. Desde os dias de Enoque, a promessa foi repetida por meio de patriarcas e profetas, mantendo viva a esperança de Seu aparecimento, e todavia Ele não vinha. A profecia de Daniel revelou o tempo de Seu advento, mas nem todos interpretavam corretamente a mensagem. Século após século se passou; cessaram as vozes dos profetas. A mão do opressor era pesada sobre Israel, e muitos estavam dispostos a exclamar: “Prolongar-se-ão os dias, e perecerá toda a visão”. Ezequiel 12:22

Mas, como as estrelas no vasto circuito de sua indicada órbita, os desígnios de Deus não conhecem adiantamento nem tardança. Mediante os símbolos da grande escuridão e do forno fumegante, Deus revelara a Abraão a servidão de Israel no Egito, e declarara que o tempo de peregrinação deles seria de quatrocentos anos. “Sairão depois com grandes riquezas”. Gênesis 15:14. Contra essa palavra, todo o poder do orgulhoso império de Faraó batalhou em vão. “Naquele mesmo dia”, indicado na promessa divina, “todos os exércitos do Senhor saíram da terra do Egito”. Êxodo 12:41. Assim, nos divinos conselhos fora determinada a hora da vinda de Cristo. Quando o grande relógio do tempo indicou aquela hora, Jesus nasceu em Belém.

“Vindo a plenitude dos tempos, Deus enviou Seu Filho.” A Providência havia dirigido os movimentos das nações, e a onda do impulso e influência humanos, até que o mundo se achasse maduro para a vinda do Libertador. As nações estavam unidas sob o mesmo governo. Falava-se vastamente uma língua, a qual era por toda parte reconhecida como a língua da literatura. De todas as terras os judeus da dispersão reuniam-se em Jerusalém para as festas anuais. Ao voltarem para os lugares de sua peregrinação, podiam espalhar por todo o mundo as novas da vinda do Messias.

Por essa época, os sistemas pagãos iam perdendo o domínio sobre o povo. Os homens estavam cansados de aparências e fábulas. Ansiavam uma religião capaz de satisfazer a alma. Conquanto a luz da verdade parecesse afastada dos homens, havia almas ansiosas de luz, cheias de perplexidade e dor. Tinham sede do conhecimento do Deus vivo, da certeza de uma vida para além da morte.

À medida que Israel se havia separado de Deus, sua fé se enfraquecera, e a esperança deixara, por assim dizer, de iluminar o futuro. As palavras dos profetas eram incompreendidas. Para a massa do povo, a morte era um terrível mistério; para além, a incerteza e as sombras. Não era só o pranto das mães de Belém, mas o clamor do grande coração da humanidade, que chegou ao profeta através dos séculos — a voz ouvida em Ramá, “lamentação, choro e grande pranto: Raquel chorando os seus filhos, e não querendo ser consolada, porque já não existem”. Mateus 2:18. Na “região da sombra da morte”, sentavam-se os homens sem consolação. Com olhares ansiosos, aguardavam a vinda do Libertador, quando as trevas seriam dispersas, e claro se tornaria o mistério do futuro.

Fora da nação judaica houve homens que predisseram o aparecimento de um instrutor. Esses homens andavam em busca da verdade, e foi-lhes comunicado o Espírito de inspiração. Um após outro, quais estrelas num céu enegrecido, haviam-se erguido esses mestres. Suas palavras de profecia despertaram a esperança no coração de milhares, no mundo gentio.

Fazia séculos que as Escrituras haviam sido traduzidas para o grego, então vastamente falado no império romano. Os judeus estavam espalhados por toda parte, e sua expectação da vinda do Messias era, até certo ponto, partilhada pelos gentios. Entre aqueles a quem os judeus classificavam de pagãos, encontravam-se homens que possuíam melhor compreensão das profecias da Escritura relativas ao Messias, do que os mestres de Israel. Alguns O esperavam como Libertador do pecado. Filósofos esforçavam-se por estudar a fundo o mistério da organização dos hebreus. A hipocrisia destes, porém, impedia a disseminação da luz. Com o fito de manter a separação entre eles e as outras nações, não se dispunham a comunicar o conhecimento que ainda possuíam quanto ao serviço simbólico. Era preciso que viesse o verdadeiro Intérprete. Aquele a quem todos esses tipos prefiguravam, devia explicar o sentido dos mesmos.

Por meio da natureza, de figuras e símbolos, de patriarcas e profetas, Deus falara ao mundo. As lições deviam ser dadas à humanidade na linguagem da própria humanidade. O Mensageiro do concerto devia falar. Sua voz devia ser ouvida em Seu próprio templo. Cristo tinha de vir para proferir palavras que fossem clara e positivamente compreendidas. Ele, o autor da verdade, devia separá-la da palha das expressões humanas, que a haviam tornado de nenhum efeito. Os princípios do governo de Deus e o plano da redenção, deviam ficar claramente definidos. As lições do Antigo Testamento precisavam ser plenamente apresentadas aos homens.

Havia entre os judeus ainda algumas almas firmes, descendentes daquela santa linhagem através da qual fora conservado o conhecimento de Deus. Estes acalentavam a esperança da promessa feita aos pais. Fortaleciam a fé repousando na certeza dada por intermédio de Moisés: “O Senhor vosso Deus vos suscitará um profeta dentre vossos irmãos, semelhante a mim: a Este ouvireis em tudo que vos disser”. Atos dos Apóstolos 3:22. E novamente liam como o Senhor havia de ungir Alguém “para pregar boas-novas aos mansos”, “restaurar os contritos de coração”, “proclamar liberdade aos cativos”, e apregoar “o ano aceitável do Senhor”. Isaías 61:1, 2. Liam como Ele havia de estabelecer “a justiça sobre a Terra”, como as ilhas aguardariam a “Sua doutrina”, (Isaías 42:4) como os gentios andariam à Sua luz, e os reis ao resplendor que Lhe nascera. Isaías 60:3.

As últimas palavras de Jacó os enchiam de esperança: “O cetro não se arredará de Judá, nem o legislador dentre seus pés, até que venha Siló”. Gênesis 49:10. O enfraquecido poder de Israel testemunhava que a vinda do Messias estava às portas. A profecia de Daniel pintava a glória do Seu reino sobre um domínio que sucederia a todos os impérios terrestres; e disse o profeta: “subsistirá para sempre”. Daniel 2:44. Ao passo que poucos entendiam a natureza da missão de Cristo, era geral a expectativa de um poderoso príncipe que havia de estabelecer seu reino em Israel, e que viria como um libertador para as nações.

Chegara a plenitude dos tempos. A humanidade, tornando-se mais degradada através dos séculos de transgressão, pedia a vinda do Redentor. Satanás estivera em operação para tornar intransponível o abismo entre a Terra e o Céu. Por suas falsidades tornara os homens atrevidos no pecado. Era seu desígnio esgotar a paciência de Deus, e extinguir-Lhe o amor para com os homens, de maneira que Ele abandonasse o mundo à satânica jurisdição.

Satanás estava procurando vedar ao homem o conhecimento de Deus, desviar-lhe a atenção do templo divino, e estabelecer seu próprio reino. Dir-se-ia coroada de êxito sua luta pela supremacia. É verdade, que, em toda geração, Deus tem Seus instrumentos. Mesmo entre os gentios, havia homens por meio dos quais Cristo estava operando para elevar o povo de seu pecado e degradação. Mas esses homens eram desprezados e aborrecidos. Muitos deles haviam sofrido morte violenta. A escura sombra que Satanás lançara sobre o mundo, tornara-se cada vez mais densa.

Por meio do paganismo, Satanás desviara por séculos os homens de Deus; mas conseguira seu grande triunfo ao perverter a fé de Israel. Contemplando e adorando suas próprias concepções, os gentios haviam perdido o conhecimento de Deus, tornando-se mais e mais corruptos. O mesmo se deu com Israel. O princípio de que o homem se pode salvar por suas próprias obras, e que está na base de toda religião pagã, tornara-se também o princípio da religião judaica. Implantara-o Satanás. Onde quer que seja mantido, os homens não têm barreira contra o pecado.

A mensagem de salvação é comunicada aos homens por intermédio de instrumentos humanos. Mas os judeus haviam procurado monopolizar a verdade, que é a vida eterna. Entesouraram o vivo maná, que se corrompera. A religião que tinham buscado guardar só para si, tornara-se um tropeço. Roubavam a Deus de Sua glória, e prejudicavam o mundo por uma falsificação do evangelho. Haviam recusado entregar-se a Deus para a salvação do mundo, e tornaram-se instrumento de Satanás para sua destruição.

O povo a quem Deus chamara para ser a coluna e fundamento da verdade, transformara-se em representante de Satanás. Faziam a obra que este queria que fizessem, seguindo uma conduta em que apresentavam mal o caráter de Deus, fazendo com que o mundo O considerasse um tirano. Os próprios sacerdotes que ministravam no templo haviam perdido de vista a significação do serviço que realizavam. Deixaram de olhar, para além do símbolo, àquilo que ele significava. Apresentando as ofertas sacrificais, eram como atores num palco. As ordenanças que o próprio Deus indicara, tinham-se tornado o meio de cegar o espírito e endurecer o coração. Deus não poderia fazer nada mais pelo homem por meio desses veículos. Todo o sistema devia ser banido.

O engano do pecado atingira sua culminância. Todos os meios para depravar a alma dos homens haviam sido postos em operação. Contemplando o mundo, o Filho de Deus viu sofrimento e miséria. Viu, com piedade, como os homens se tinham tornado vítimas da crueldade satânica. Olhou compassivamente para os que estavam sendo corrompidos, mortos, perdidos. Estes tinham escolhido um dominador que os jungia a seu carro como cativos. Confundidos e enganados, avançavam, em sombria procissão rumo à ruína eterna — para a morte em que não há nenhuma esperança de vida, para a noite que não tem alvorecer. Agentes satânicos estavam incorporados com os homens. O corpo de criaturas humanas, feito para habitação de Deus, tornara-se morada de demônios. Os sentidos, os nervos, as paixões, os órgãos dos homens eram por agentes sobrenaturais levados a condescender com a concupiscência mais vil. O próprio selo dos demônios se achava impresso na fisionomia dos homens. Esta refletia a expressão das legiões do mal de que se achavam possessos. Eis a perspectiva contemplada pelo Redentor do mundo. Que espetáculo para a Infinita Pureza!

O pecado se tornara uma ciência, e era o vício consagrado como parte da religião. A rebelião deitara fundas raízes na alma, e violenta era a hostilidade do homem contra o Céu. Ficara demonstrado perante o Universo que, separada de Deus, a humanidade não se poderia erguer. Novo elemento de vida e poder tinha de ser comunicado por Aquele que fizera o mundo.

Com intenso interesse, os mundos não caídos observavam para ver Jeová levantar-Se e assolar os habitantes da Terra. E, fizesse Deus assim, Satanás estaria pronto a executar seu plano de conquistar a aliança dos seres celestiais. Declarara ele que os princípios de Deus tornavam impossível o perdão. Houvesse o mundo sido destruído, e teria pretendido serem justas as suas acusações. Estava disposto a lançar a culpa sobre o Senhor, e estender sua rebelião pelos mundos em cima. Em lugar de destruir o mundo, porém, Deus enviou Seu Filho para o salvar. Embora se pudessem, por toda parte do desgarrado domínio, ver corrupção e desafio, foi provido um meio para resgatá-lo. Justo no momento da crise, quando Satanás parecia prestes a triunfar, veio o Filho de Deus com a embaixada da graça divina. Através de todos os séculos, de todas as horas, o amor de Deus se havia exercido para com a raça caída. Não obstante a perversidade dos homens, os sinais da misericórdia tinham sido constantemente manifestados. E, ao chegar à plenitude dos tempos, a Divindade era glorificada derramando sobre o mundo um dilúvio de graça vivificadora, o qual nunca seria impedido nem retido enquanto o plano da salvação não se houvesse consumado.

Satanás rejubilava por haver conseguido rebaixar a imagem de Deus na humanidade. Então veio Cristo, a fim de restaurar no homem a imagem de seu Criador. Ninguém, senão Cristo, pode remodelar o caráter arruinado pelo pecado. Veio para expelir os demônios que haviam dominado a vontade. Veio para nos erguer do pó, reformar o caráter manchado, segundo o modelo de Seu divino caráter, embelezando-o com Sua própria glória.” (Capítulo 3 – A plenitude dos tempos)
“O Rei da Glória muito Se humilhou ao revestir-Se da humanidade. Rude e ingrato foi o Seu ambiente terrestre. Sua glória foi velada, para que a majestade de Sua aparência exterior não se tornasse objeto de atração. Esquivava-Se a toda exibição exterior.
Riquezas, honras terrestres e humana grandeza nunca poderão salvar uma alma da morte; Jesus Se propôs que nenhuma atração de natureza terrena levasse homens ao Seu lado. Unicamente a beleza da verdade celeste devia atrair os que O seguissem. O caráter do Messias fora desde há muito predito na profecia, e era Seu desejo que os homens O aceitassem em razão do testemunho da Palavra de Deus.
Os anjos maravilharam-se ante o glorioso plano da redenção. Observavam a ver de que maneira o povo de Deus receberia Seu Filho, revestido da humanidade. Anjos foram à terra do povo escolhido. Outras nações estavam embebidas com fábulas, e adorando falsos deuses. À terra onde se revelara a glória de Deus, e brilhara a luz da profecia, foram os anjos. Dirigiram-se invisíveis a Jerusalém, aos designados expositores dos Sagrados Oráculos, e ministros da casa de Deus. Já a Zacarias, enquanto ministrava perante o altar, fora anunciada a proximidade da vinda de Cristo. Já nascido estava o precursor, havendo sua missão sido atestada por milagres e profecias. As novas de Seu nascimento e o maravilhoso significado de Sua missão tinham sido amplamente divulgados. Todavia, Jerusalém não se estava preparando para receber o Redentor.
Com pasmo viram os mensageiros celestiais a indiferença do povo a quem Deus chamara para comunicar ao mundo a luz da sagrada verdade. A nação judaica fora conservada como testemunho de que Cristo havia de nascer da semente de Abraão e da linhagem de Davi; no entanto, não sabiam que Sua vinda se achava agora às portas. No templo, o sacrifício matutino e vespertino apontava diariamente ao Cordeiro de Deus; entretanto, nem mesmo ali havia qualquer preparação para O receber. Os sacerdotes e doutores da nação ignoravam que o maior acontecimento dos séculos estava prestes a ocorrer. Proferiam suas orações destituídas de sentido, e realizavam os ritos do culto para serem vistos pelos homens, mas em sua luta por riquezas e honras mundanas, não estavam preparados para a revelação do Messias. A mesma indiferença penetrava a terra de Israel. Corações egoístas e absorvidos pelo mundo, ficavam impassíveis ante o júbilo que comovia o Céu. Apenas alguns estavam ansiando contemplar o Invisível. A esses foi enviada a embaixada do Céu. 
Anjos assistiam José e Maria enquanto viajavam de seu lar, em Nazaré, à cidade de Davi. O decreto de Roma Imperial acerca do alistamento dos povos de seu vasto domínio, estendera-se aos habitantes das montanhas da Galileia. Como outrora Ciro fora chamado ao trono do império do mundo a fim de libertar os cativos do Senhor, assim César Augusto se tornara o instrumento para a realização do desígnio de Deus em levar a mãe de Jesus a Belém. Ela é da linhagem de Davi, e o Filho de Davi deve nascer na sua cidade. De Belém dissera o profeta: “De ti é que Me há de sair Aquele que há de reinar em Israel, e cuja geração é desde o princípio, desde os dias da eternidade”. Miquéias 5:2. Mas na cidade de sua real linhagem, José e Maria não são reconhecidos nem honrados. Fatigados e sem lar, atravessam toda a extensão da estreita rua, da porta da cidade ao extremo oriental desta, buscando em vão um lugar de pousada para a noite. Não há lugar para eles na apinhada hospedaria. Num rústico rancho em que se abrigam os animais, encontram afinal refúgio, e ali nasce o Redentor do mundo.
Os homens não o sabem, mas as novas enchem o Céu de regozijo. Com mais profundo e mais terno interesse os santos seres do mundo da luz são atraídos para a Terra. Todo o mundo se ilumina à presença do Redentor. Sobre as colinas de Belém acha-se reunida inumerável multidão de anjos. Esperam o sinal para declarar as alegres novas ao mundo. Houvessem os guias de Israel sido fiéis ao depósito que se lhes confiara, e teriam partilhado da alegria de anunciar o nascimento de Jesus. Mas assim foram passados por alto.
Deus declara: “Derramarei águas sobre o sedento e rios sobre a terra seca” (Isaías 44:3 “Aos justos nasce luz das trevas”. Salmos 112:4. Os brilhantes raios, que descem do trono de Deus, iluminarão os que andam em busca de luz e a aceitam com alegria.
Nos campos em que o jovem Davi guardara seus rebanhos, havia ainda pastores vigiando durante a noite. Nas horas caladas, conversavam entre si acerca do prometido Salvador, e oravam pela vinda do Rei ao trono de Davi. “E eis que um anjo do Senhor veio sobre eles, e a glória do Senhor os cercou de resplendor, e tiveram grande temor. E o anjo lhes disse: Não temais, porque eis aqui vos trago novas de grande alegria, que será para todo o povo, pois, na cidade de Davi, vos nasceu hoje o Salvador, que é Cristo, o Senhor”. Lucas 2:9-11.
A essas palavras, visões de glória encheram a mente dos pastores que as escutavam. Chegara a Israel o Libertador! Poder, exaltação, triunfo, acham-se associados à Sua vinda. O anjo, porém, deve prepará-los para reconhecerem o Salvador na pobreza e na humilhação. “Isto vos será por sinal”, diz ele: “Achareis o Menino envolto em panos, e deitado numa manjedoura”. Lucas 2:12
O celestial mensageiro acalmara-lhes os temores. Dissera-lhes como poderiam encontrar Jesus. Com terna consideração para com sua humana fraqueza, dera-lhes tempo para se habituarem à radiação divina. Então, o júbilo e a glória não se puderam por mais tempo ocultar. Toda a planície se iluminou com a resplandecência das hostes de Deus. A Terra emudeceu, e o Céu inclinou-se para escutar o cântico: “Glória a Deus nas alturas, paz na Terra, boa vontade para com os homens”. Lucas 2:14.
Quem dera que a família humana pudesse hoje reconhecer este cântico! A declaração então feita, a nota vibrada então, avolumar-se-á até ao fim do tempo, e ressoará até aos extremos da Terra. Quando se erguer o Sol da Justiça, trazendo salvação sob Suas asas, esse cântico há de ecoar pela voz de uma grande multidão, como a voz de muitas águas, dizendo: “Aleluia, pois já o Senhor Deus todo-poderoso reina”. Apocalipse 19:6.
Ao desaparecerem os anjos, dissipou-se a luz, e mais uma vez cobriram as sombras da noite as colinas de Belém. A mais gloriosa cena que olhos humanos já contemplaram, permaneceu, no entanto, na memória dos pastores. “E depois que os anjos se retiraram deles para o Céu, os pastores diziam entre si: Vamos até Belém, e vejamos o que é que lá sucedeu, e o que é que o Senhor nos manifestou. E foram com grande pressa; e encontraram Maria e José, e o Menino deitado na manjedoura”. Lucas 2:15, 16.
Partindo com grande alegria, divulgaram as coisas que tinham visto e ouvido. “E todos os que o ouviram se maravilharam do que os pastores lhes diziam. Mas Maria guardou todas estas coisas, conferindo-as em seu coração. E voltaram os pastores, glorificando e louvando a Deus”. Lucas 2:18-20. Não se acham o Céu e a Terra mais distanciados hoje do que ao tempo em que os pastores ouviram o cântico dos anjos. A humanidade é hoje objeto da solicitude celeste da mesma maneira que o era quando homens comuns, ocupando posições ordinárias, se encontravam à luz do dia com anjos, e falavam com os mensageiros nas vinhas e nos campos. Enquanto nos movemos em nossos afazeres comuns, podemos ter bem perto o Céu. Anjos das cortes no alto assistirão os passos dos que vão e vêm às ordens de Deus.
A história de Belém é inexaurível. Nela se acham ocultas as “profundidades das riquezas, tanto da sabedoria como da ciência de Deus”. Romanos 11:33. Maravilhamo-nos do sacrifício do Salvador em permutar o trono do Céu pela manjedoura, e a companhia dos anjos que O adoravam pela dos animais da estrebaria. O orgulho e presunção humanos ficam repreendidos em Sua presença. Todavia, esse passo não era senão o princípio de Sua maravilhosa condescendência. Teria sido uma quase infinita humilhação para o Filho de Deus, revestir-Se da natureza humana mesmo quando Adão permanecia em seu estado de inocência, no Éden. Mas Jesus aceitou a humanidade quando a raça havia sido enfraquecida por quatro mil anos de pecado. Como qualquer filho de Adão, aceitou os resultados da operação da grande lei da hereditariedade. O que estes resultados foram, manifesta-se na história de Seus ancestrais terrestres. Veio com essa hereditariedade para partilhar de nossas dores e tentações, e dar-nos o exemplo de uma vida impecável. 
Satanás aborrecera a Cristo no Céu, por causa de Sua posição nas cortes de Deus. Mais O aborreceu ainda quando se sentiu ele próprio destronado. Odiou Aquele que Se empenhou em redimir uma raça de pecadores. Não obstante, ao mundo em que Satanás pretendia domínio, permitiu Deus que viesse Seu Filho, impotente criancinha, sujeito à fraqueza da humanidade. Permitiu que enfrentasse os perigos da vida em comum com toda a alma humana, combatesse o combate como qualquer filho da humanidade o tem de fazer, com risco de fracasso e ruína eterna.

O coração do pai humano compadece-se do filho. Olha a fisionomia do pequenino, e treme ante a ideia dos perigos da vida. Anela proteger seu querido do poder de Satanás, guardá-lo da tentação e do conflito. Para enfrentar mais amargo conflito e mais terrível risco Deus deu Seu Filho unigênito, para que a vereda da vida fosse assegurada aos nossos pequeninos. “Nisto está o amor.” Maravilhai-vos, ó céus! e assombrai-vos, ó Terra!” (cap. 4 – Hoje vos nasceu o Salvador)
Ellen White
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