Luz em meio às trevas

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Escrito por Ellen White,

publicado pela Casa Publicadora Brasileira. Profetas e Reis, 
Capítulo 38






Os negros anos de destruição e morte que assinalaram o fim do reino de Judá teriam levado desespero ao mais resoluto coração, não fosse o encorajamento das predições proféticas dos mensageiros de Deus. Por intermédio de Jeremias em Jerusalém, de Daniel na corte de Babilônia, de Ezequiel junto às barrancas do Quebar, o Senhor em misericórdia tornou claro Seu eterno propósito, e deu certeza de Sua disposição de cumprir para com Seu povo escolhido as promessas registradas nos escritos de Moisés. Aquilo que tinha prometido fazer pelos que se Lhe mostrassem fiéis, certamente haveria de realizar-se. A “palavra de Deus […] permanece para sempre”. 1 Pedro 1:23.
Nos dias da vagueação pelo deserto, o Senhor tomou suficientes providências para que Seus filhos tivessem em lembrança as palavras da Sua lei. Após o estabelecimento em Canaã, os divinos preceitos deviam ser repetidos diariamente em todos os lares; deviam ser claramente escritos nos umbrais e soleiras das portas, e espalhados sobre tabletes memoriais. Deviam ser musicados e cantados por jovens e velhos. Os sacerdotes deviam ensinar esses santos preceitos em assembléias públicas, e os governantes da terra deviam deles fazer estudo diário. “Medita nele dia e noite”, o Senhor ordenou a Josué com respeito ao livro da lei, “para que tenhas o cuidado de fazer conforme a tudo quanto nele está escrito; porque então farás prosperar o teu caminho, e então prudentemente te conduzirás”. Josué 1:8.
Os escritos de Moisés foram ensinados por Josué a todo o Israel. “Palavra nenhuma houve, de tudo o que Moisés ordenara, que Josué não lesse perante toda a congregação de Israel, e das mulheres, e dos meninos, e dos estrangeiros que andavam no meio deles”. Josué 8:35. Isto estava em harmonia com a ordem expressa de Jeová que determinava uma repetição pública das palavras do livro da lei cada sete anos, durante a Festa dos Tabernáculos. “Ajunta o povo, homens, e mulheres, e meninos e os teus estrangeiros que estão dentro de tuas portas”, os líderes espirituais de Israel tinham sido instruídos, “para que ouçam, e aprendam e temam ao Senhor vosso Deus, e tenham cuidado de fazer todas as palavras desta lei. E que seus filhos, que a não souberem, ouçam, e aprendam a temer ao Senhor vosso Deus, todos os dias que viverdes sobre a terra à qual ides, passando o Jordão, a possuir”. Deuteronômio 31:12, 13.
Tivesse este conselho sido ouvido através dos séculos seguintes, quão diferentes teria sido a história de Israel Somente pela reverência à Palavra santa de Deus no coração do povo, poderiam eles esperar cumprir o divino propósito. Foi o respeito pela lei de Deus que deu a Israel força durante o reinado de Davi e nos primeiros anos do reinado de Salomão; foi pela fé na viva Palavra que se operou a reforma nos dias de Elias e Josias. E foi para essas mesmas Escrituras de verdade — a mais rica herança de Israel — que Jeremias apelou em seus esforços no sentido da reforma. Onde quer que ministrasse, ele ia ao encontro do povo com o fervente apelo: “Ouvi as palavras deste concerto” (Jeremias 11:2), palavras que lhes daria a eles plena compreensão do propósito de Deus de estender a todas as nações o conhecimento da verdade salvadora.
Nos anos finais da apostasia de Judá, as exortações dos profetas foram aparentemente de pouco valor; e ao virem os exércitos dos caldeus pela terceira e última vez para sitiarem Jerusalém, a esperança fugiu dos corações. Jeremias predisse total ruína; e foi em virtude de sua insistência para que se rendessem que finalmente ele foi levado à prisão. Mas Deus não deixou em desespero sem remédio o fiel remanescente que ainda estava na cidade. Mesmo quando Jeremias estava mantido sob severa vigilância pelos que lhe repeliam as mensagens, vieram-lhe novas revelações concernentes à disposição do Céu para perdoar e salvar — revelações que têm sido uma infalível fonte de conforto para a igreja de Deus nos dias que correm.
Descansando confiante nas promessas de Deus, Jeremias, mediante uma parábola representativa, ilustrou perante os habitantes da cidade condenada sua forte fé no cumprimento final do propósito de Deus por Seu povo. Na presença de testemunhas, e com cuidadosa observância de toda formalidade legal, ele comprou por dezessete siclos de prata um campo de família situado na vizinha vila de Anatote.
Do ponto de vista humano, a aquisição deste terreno já sob o controle dos babilônios, pareceria um ato de loucura. O profeta mesmo predissera a destruição de Jerusalém, a desolação da Judéia e a completa ruína do reino Ele profetizara de um longo período de cativeiro na distante Babilônia. Já avançado em anos, jamais poderia ele esperar receber os benefícios pessoais da compra que fizera. Entretanto, os estudos que havia feito das profecias registradas nas Escrituras, tinham criado em seu coração a firme convicção de que o Senhor Se propunha restaurar para os filhos do cativeiro sua antiga possessão na terra da promessa. Com os olhos da fé, Jeremias viu os exilados retornando ao fim dos anos de aflição, e reocupando a terra de seus pais. Comprando o campo de Anatote, inspiraria a outros a esperança que tanto conforto havia levado ao próprio coração.
Havendo assinado os papéis de transferência, com as respectivas assinaturas das testemunhas, Jeremias ordenou a Baruque, seu secretário: “Toma estes autos, este auto de compra, tanto o selado, como o aberto, e mete-o num vaso de barro, para que se possam conservar muitos dias. Porque assim diz o Senhor dos Exércitos, o Deus de Israel: Ainda se comprarão casas, e campos, e vinhas nesta terra”. Jeremias 32:14, 15.
Tão desencorajadoras eram as perspectivas para Judá ao tempo desta extraordinária transação, que imediatamente após formalizar os pormenores da compra e os arranjos para a preservação do registro escrito, a fé de Jeremias, inabalável como tivesse sido, era agora duramente provada. Teria ele, em seus esforços por encorajar Judá, agido presunçosamente? Em seu desejo de estabelecer a confiança nas promessas da Palavra de Deus, teria ele dado lugar a uma falsa esperança? Os que haviam entrado em relação de concerto com Deus desde muito tinham menosprezado as provisões feitas em seu favor. Encontrariam as promessas feitas à nação escolhida completo cumprimento?
Perplexo em espírito, subjugado pela tristeza em virtude dos sofrimentos dos que se haviam recusado a arrepender-se de seus pecados, o profeta apelou a Deus por mais luz sobre o propósito divino para a humanidade.

“Ah Senhor Jeová” ele orou. “eis que Tu fizeste os céus e a Terra com o Teu grande poder, e com o Teu braço estendido; não Te é maravilhosa coisa alguma; Tu usas de benignidade com milhares e tornas a maldade dos pais ao seio dos filhos depois deles; o grande e poderoso Deus cujo nome é o Senhor dos Exércitos, grande em conselho, e magnífico em obras; porque os Teus olhos estão abertos sobre todos os caminhos dos filhos dos homens, para dar a cada um segundo os seus caminhos e segundo o fruto das suas obras. Tu puseste sinais e maravilhas na terra do Egito até ao dia de hoje, tanto em Israel, como entre os outros homens, e Te criaste um nome, qual é o que tens neste dia. E tiraste o Teu povo Israel da terra do Egito, com sinais e com maravilhas, e com mão forte e com braço estendido, e com grande espanto; e lhes deste esta terra, que juraste a seus pais que lhes havia de dar; terra que mana leite e mel. E entraram nela, e a possuíram, mas não obedeceram a Tua voz, nem andaram na Tua lei; tudo o que lhes mandaste que fizessem, eles não o fizeram; pelo que ordenaste lhes sucedesse todo este mal”. Jeremias 32:17-23.
Os exércitos de Nabucodonosor estavam prestes a tomar de assalto os muros de Sião. Milhares estavam perecendo numa tentativa final e desesperada de defender a cidade. Muitos milhares mais estavam morrendo de fome e enfermidades. A sorte de Jerusalém estava já selada. As torres sitiantes das forças inimigas estavam já superando os muros. “Eis aqui os valados” o profeta continuou em sua oração a Deus, “já vieram contra a cidade para tomá-la, e a cidade está dada nas mãos dos caldeus, que pelejam contra ela, pela espada, e pela fome, e pela pestilência; e o que disseste se cumpriu, e eis aqui o estás presenciando. Contudo me disseste, ó Deus: Compra para ti o campo por dinheiro, e faze que o atestem testemunhas, embora a cidade esteja já dada na mão dos caldeus”. Jeremias 32:24, 25.
A oração do profeta foi graciosamente respondida. “A palavra do Senhor a Jeremias”, nessa hora de prova, quando a fé do mensageiro da verdade estava sendo provada pelo fogo, foi: “Eu sou o Senhor, o Deus de toda a carne; seria qualquer coisa maravilhosa para Mim?” Jeremias 32:26, 27. A cidade deveria logo cair nas mãos dos caldeus; suas portas e palácios deviam ser queimados a fogo; mas não obstante o fato de que a destruição estava iminente, e os habitantes de Jerusalém devessem ser levados cativos, contudo o eterno propósito de Jeová para Israel devia ser cumprido. Em resposta posterior à oração de Seu servo, o Senhor declarou com respeito àqueles sobre quem Seus castigos estavam caindo: “Eis que Eu os congregarei de todas as terras, para onde os houver lançado na Minha ira, e no Meu furor, e na Minha grande indignação; e os tornarei a trazer a este lugar, e farei que habitem nele seguramente. E eles serão o Meu povo, e Eu serei o seu Deus. E lhes darei um mesmo coração, e um mesmo caminho, para que Me temam todos os dias, para seu bem e bem de seus filhos, depois deles. E farei com eles um concerto eterno, que não se desviará deles, para lhes fazer bem; e porei o Meu temor no seu coração, para que nunca se apartem de Mim. E alegrar-Me-ei por causa deles, fazendo-lhes bem; e os plantarei nesta terra certamente, com todo o Meu coração e com toda a Minha alma.
“Porque assim diz o Senhor: Como Eu trouxe sobre este povo todo este grande mal, assim Eu trarei sobre ele todo o bem que lhes tenho prometido. E comprar-se-ão campos nesta terra, da qual vós dizeis: Está deserta, sem homens nem animais; está dada na mão dos caldeus. Comprarão campos por dinheiro, e subscreverão os autos, e os selarão, e farão que os atestem testemunhas na terra de Benjamim, e nos contornos de Jerusalém, e nas cidades de Judá, e nas cidades das montanhas, e nas cidades das planícies, e nas cidades do sul; porque os farei voltar do seu cativeiro, diz o Senhor”. Jeremias 32:37-44.
Em confirmação dessas afirmações de livramento e restauração, “veio a palavra do Senhor a Jeremias, segunda vez, estando ele ainda encerrado no pátio da guarda, dizendo: “Assim diz o Senhor que faz isto, o Senhor que forma isto, para o estabelecer; o Senhor é o Seu nome. Clama a Mim, e responder-te-ei, e anunciar-te-ei coisas grandes e firmes, que não sabes. Porque assim diz o Senhor, o Deus de Israel, das casas desta cidade, e das casas dos reis de Judá, que foram derribadas com o trabuco e à espada. … Eis que Eu farei vir sobre ela saúde e cura, e os sararei, e lhes manifestarei abundância de paz e de verdade. E removerei o cativeiro de Judá e o cativeiro de Israel, e os edificarei como ao princípio. E os purificarei de toda a sua maldade com que pecaram contra Mim; e perdoarei todas as suas iniquidades. […] E esta cidade Me servirá de nome de alegria, de louvor, e de glória, entre todas as nações da Terra, que ouvirem todo o bem que Eu lhe faço; e espantar-se-ão e perturbar-se-ão por causa de todo o bem, e por causa de toda a paz que Eu lhe dou.
“Assim diz o Senhor: Neste lugar (de que vós dizeis que está deserto, sem homens nem animais), nas cidades de Judá, e nas ruas de Jerusalém […] ainda se ouvirá a voz de gozo, e a voz de alegria, e a voz de noivo e a voz de esposa, e a voz dos que dizem: Louvai ao Senhor dos Exércitos, porque bom é o Senhor, porque a Sua benignidade é para sempre; e dos que trazem louvor à casa do Senhor; pois farei que torne o cativo da terra como ao princípio, diz o Senhor.
“Assim diz o Senhor dos Exércitos: Ainda neste lugar, que está deserto, sem homens, e sem animais, e em todas as suas idades, haverá uma morada de pastores, que façam repousar o gado. Nas cidades das montanhas, nas cidades das planícies e nas cidades do sul, e na terra de Benjamim, e nos contornos de Jerusalém, e nas cidades de Judá, ainda passará o gado pelas mãos dos contadores, diz o Senhor.
“Eis que vêm dias, diz o Senhor, em que cumprirei a palavra boa que falei à casa de Israel e à casa de Judá”. Jeremias 33:1-14.
Assim foi a igreja de Deus confortada numa das horas mais escuras do seu longo conflito com as forças do mal. Satanás havia aparentemente triunfado em seus esforços para destruir a Israel; mas o Senhor estava no comando dos acontecimentos do presente, e durante os anos que se seguiriam, Seu povo deveria ter a oportunidade de redimir o passado. Sua mensagem para a igreja foi: “Não temas pois tu, servo Meu Jacó; […] nem te espantes, ó Israel; porque eis que te livrarei das terras de longe, e à tua descendência da terra do seu cativeiro; e Jacó tornará e descansará, e ficará em sossego, e não haverá quem o atemorize. Porque Eu sou contigo, diz o Senhor, para te salvar.” “Porque te restaurarei a saúde, e te sararei as tuas chagas”. Jeremias 30:10, 11, 17.
No alegre dia da restauração, as tribos do Israel dividido deviam ser reunidas num só povo. O Senhor devia ser reconhecido como rei sobre “todas as famílias de Israel”. “Eles serão o Meu povo”, Ele declarou. “Cantai sobre Jacó com alegria, e exultai por causa do Chefe das gentes; proclamai, cantai louvores, e dizei: Salva, Senhor, o Teu povo, o resto de Israel. Eis que o trarei da terra do norte, e os congregarei das extremidades da Terra; e com eles os cegos e os aleijados. […] Virão com choro, e com súplicas os levarei; guiá-los-ei aos ribeiros de águas, por caminho direito em que não tropeçarão; porque sou um Pai para Israel, e Efraim é o Meu primogênito”. Jeremias 31:1, 7-9.
Humilhados à vista das nações, os que uma vez tinham sido reconhecidos como favorecidos do Céu sobre todos os outros povos da Terra aprenderiam no exílio a lição da obediência tão necessária para sua futura felicidade. Até que tivessem aprendido esta lição, Deus não poderia fazer por eles tudo o que desejava. “Castigar-te-ei com medida, e de todo não te terei por inocente” (Jeremias 30:11), Ele declarou em esclarecimento do Seu propósito de castigá-los para o seu bem espiritual. Entretanto os que haviam sido objeto do Seu terno amor não foram postos de lado para sempre; perante todas as nações da Terra Ele demonstraria Seu plano de tirar vitória da aparente derrota, de salvar e não de destruir. Ao profeta fora dada a mensagem: “Aquele que espalhou a Israel o congregará e o guardará, como o pastor ao seu rebanho. Porque o Senhor resgatou a Jacó, e o livrou da mão do que era mais forte do que ele. Assim que virão, e exultarão na altura de Sião, e correrão aos bens do Senhor, ao trigo, e ao mosto, e ao azeite, aos cordeiros e as bezerros; e a sua alma será como um jardim regado, e nunca mais andarão tristes. […] E tornarei o seu pranto em alegria, e os consolarei, e transformarei em regozijo a sua tristeza. E saciarei a alma dos sacerdotes de gordura, e o Meu povo se fartará dos Meus bens, diz o Senhor.”
“Assim diz o Senhor dos Exércitos, o Deus de Israel: Ainda dirão esta palavra na terra de Judá, e nas suas cidades, quando Eu acabar o seu cativeiro: O Senhor te abençoe, ó morada de justiça, ó monte de santidade. E nela habitarão Judá, e todas as suas cidades juntamente; como também os lavradores e os que andam com o rebanho. Porque satisfiz a alma cansada, e toda a alma entristecida saciei.”
“Eis que dias vêm, diz o Senhor, em que farei um concerto novo com a casa de Israel e com a casa de Judá. Não conforme o concerto que fiz com seus pais, no dia em que os tomei pela mão, para os tirar da terra do Egito; porquanto eles invalidaram o Meu concerto, apesar de Eu os haver desposado, diz o Senhor. Mas este é o concerto que farei com a casa de Israel depois daqueles dias, diz o Senhor: Porei a Minha lei no seu interior, e a escreverei no seu coração; e Eu serei o seu Deus e eles serão o Meu povo. E não ensinará alguém mais a seu próximo, nem alguém a seu irmão, dizendo: Conhecei ao Senhor; porque todos Me conhecerão, desde o mais pequeno deles até ao maior, diz o Senhor; porque lhes perdoarei a sua maldade, e nunca mais Me lembrarei dos seus pecados”.

Ellen White


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