Um convite generoso – Capítulo 18

por Ellen White
Parábolas de Jesus
Este capítulo é baseado em Deuteronômio 14: 29; Salmo 18: 35; Naum 23:10; Isaías 55: 1 – 3; Oséias  4:17; 11: 8; Mateus 10: 37; 11: 28 – 30; 21: 31; 24: 37 – 39;  Lucas 13: 34 – 35; 14: 1, 12 – 24; João 6: 51; Atos 13: 46 – 48; 24:25; Judas 22 e 23; Apocalipse 3: 20; 14: 6 – 7; 22: 17;
O Salvador era convidado no banquete de um fariseu. Aceitava convites tanto de ricos como de pobres, e consoante Seu costume, vinculava com Suas lições da verdade a cena que tinha diante de Si. Entre os judeus o banquete sagrado era associado com todas as suas épocas de júbilo nacional e religioso. Era-lhes um tipo das bênçãos da vida eterna. O grande banquete em que se assentariam à mesa com Abraão, Isaque e Jacó, enquanto os gentios estariam de fora, olhando cobiçosamente, era tema sobre que se deleitavam em falar. A lição de advertência e instrução que Cristo desejava dar, ilustrou agora pela parábola da grande ceia. Os judeus pretendiam circunscrever a si as bênçãos divinas para esta vida e a futura. Negavam a misericórdia de Deus para com os gentios. Pela parábola Cristo mostrou que nesse mesmo momento eles rejeitavam o convite de misericórdia, a chamada para o reino de Deus. Demonstrou que o convite que desdenhavam estava para ser dirigido àqueles a quem desprezavam, e de quem se retraíam como de leprosos.
Na escolha dos convidados para o banquete, consultara o fariseu o próprio interesse egoísta. Cristo lhe disse: “Quando deres um jantar ou uma ceia, não chames os teus amigos, nem os teus irmãos, nem os teus parentes, nem vizinhos ricos, para que não suceda que também eles te tornem a convidar, e te seja isso recompensado. Mas, quando fizeres convite, chama os pobres, aleijados, mancos e cegos e serás bem-aventurado; porque eles não têm com que to recompensar; mas recompensado serás na ressurreição dos justos.” Lucas 14:12-14. 
Cristo repetia aqui as instruções que dera a Israel por Moisés. Em seus banquetes sagrados ordenara o Senhor que “o estrangeiro, e o órfão, e a viúva, que estão dentro das tuas portas”, viessem, comessem e se saciassem. Deuteronômio 14:29. Essas reuniões deveriam ser para Israel lições objetivas. Sendo ensinada deste modo a alegria da verdadeira hospitalidade, o povo deveria cuidar durante todo o ano dos pobres e indigentes. E essas ceias encerravam uma lição mais ampla. As bênçãos espirituais, prodigalizadas a Israel, não eram para eles somente. Deus lhes dera o pão da vida, para que o repartissem com o mundo.
Essa tarefa não executaram. As palavras de Cristo eram-lhes uma censura ao egoísmo. Desagradavam aos fariseus. Desejando desviar o rumo da conversa, um deles exclamou com ares de beato: “Bem-aventurado o que comer pão no reino de Deus!” Lucas 14:15. Esse homem falou com grande confiança, como se estivesse certo de um lugar no reino. Sua atitude era semelhante à dos que se alegram com ser salvos por Cristo, conquanto não preencham as condições sob que a salvação é prometida. Seu espírito era idêntico ao de Balaão, quando orava: “A minha alma morra da morte dos justos, e seja o meu fim como o seu.” Números 23:10. O fariseu não pensava em sua aptidão para o Céu, mas naquilo em que esperava deleitar-se lá. Sua observação destinava-se a desviar do tema de seus deveres práticos, a atenção dos convidados à ceia. Desejava dirigi-los da vida presente ao remoto tempo da ressurreição dos justos. 
Cristo leu o coração do dissimulador e, dirigindo-lhe o olhar, expôs aos convidados o caráter e o valor de seus privilégios presentes. Indicou-lhes que, a fim de partilharem das bem-aventuranças futuras, tinham uma obra para fazer neste tempo. 
“Um certo homem”, disse, “fez uma grande ceia e convidou a muitos.” Lucas 14:16. Chegado o tempo da celebração, o que convidava enviou seus servos com uma segunda mensagem aos hóspedes esperados: “Vinde, que já tudo está preparado.” Lucas 14:17. Estranha indiferença manifestou-se, porém. “Todos à uma começaram a escusar-se. Disse-lhe o primeiro: Comprei um campo e preciso ir vê-lo; rogo-te que me hajas por escusado. E outro disse: Comprei cinco juntas de bois e vou experimentá-los; rogo-te que me hajas por escusado. E outro disse: Casei e, portanto, não posso ir.” Lucas 14:18-20. 
Nenhuma das escusas tinha base em necessidade real. O homem que precisava sair a ver seu campo, já o comprara. Sua pressa de ir vê-lo era devida a que seu interesse estava absorvido pela aquisição. Os bois, também, tinham sido comprados. O exame dos mesmos só devia satisfazer à curiosidade do comprador. Também a terceira desculpa não tinha melhor motivo. A circunstância de o convidado haver contraído núpcias, não precisava impedir sua presença à festa. Sua esposa também seria bem-vinda. Fizera, porém, seus próprios planos de prazer, e estes lhe pareciam mais desejáveis do que comparecer à festa, como prometera. Aprendera a achar prazer noutra companhia que não a do anfitrião. Não pediu desculpas, nem mesmo usou de cortesia em escusar-se. O “não posso ir” era unicamente um véu para a verdade — “não faço questão de ir”. 
Todas as escusas denunciavam espírito preocupado. Estes convidados ficaram absortos pelo interesse em outras coisas. O convite que se comprometeram a aceitar, foi rejeitado, e o generoso amigo, ofendido por sua indiferença. 
Pela grande ceia, Cristo representa as bênçãos oferecidas pelo evangelho. A provisão é nada menos que o próprio Cristo. Ele é o pão que desceu do Céu; e dEle procedem as torrentes da salvação. Os mensageiros do Senhor anunciaram aos judeus a vinda do Salvador, apontaram a Cristo como “o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo”. João 1:29. No banquete que preparou, Deus lhes ofereceu a maior dádiva que o Céu podia conceder — uma dádiva que excede todo o entendimento. O amor de Deus supriu o custoso banquete, e proveu inesgotáveis recursos. “Se alguém comer desse pão”, disse Cristo, “viverá para sempre.” João 6:51.
Todavia, para aceitar o convite ao banquete do evangelho, precisariam subordinar seus interesses materiais ao propósito de receber a Cristo e Sua justiça. Deus prodigalizou tudo ao homem, e lhe pede colocar Seu serviço acima de todas as considerações terrenas e egoístas. Não pode aceitar um coração indiferente. O coração absorto em afeições terrenas não pode ser entregue a Deus. A lição é para todo o tempo. Devemos seguir o Cordeiro de Deus, aonde quer que vá. Deve ser escolhida Sua direção, e Sua companhia apreciada mais que a de amigos terrenos. Cristo diz: “Quem ama o pai ou a mãe mais do que a Mim não é digno de Mim; e quem ama o filho ou a filha mais do que a Mim não é digno de Mim.” Mateus 10:37.
Ao redor da mesa, quando partiam o pão cotidiano, muitos repetiam, nos dias de Cristo, as palavras: “Bem-aventurado o que comer pão no reino de Deus!” Lucas 14:15. Mas Cristo mostra como é difícil encontrar hóspedes à mesa provida por preço infinito. Aqueles que Lhe escutavam as palavras sabiam que tinham desprezado o misericordioso convite. Posses terrenas, riquezas e prazeres eram-lhes todo-absorventes. De consenso unânime escusaram-se.
O mesmo se dá hoje. As desculpas apresentadas ao recusar o convite para o banquete encerram todos os motivos apresentados para recusar o convite do evangelho. Declaram que não podem prejudicar suas perspectivas materiais dando ouvidos às reivindicações do evangelho. Consideram seus propósitos temporais de maior valor que as coisas da eternidade. Justamente as bênçãos que receberam de Deus se tornam um empecilho que lhes separa a alma do Criador e Redentor. Não querem ser interrompidas em suas empresas mundanas, e dizem ao mensageiro da graça: “Por agora, vai-te, e, em tendo oportunidade, te chamarei.” Atos dos Apóstolos 24:25. Outros insistem nas dificuldades que surgiriam nas relações sociais se obedecessem ao convite de Deus. Dizem que não podem estar em desarmonia com seus parentes e conhecidos. Deste modo denunciam fazer o mesmo que os descritos na parábola. O anfitrião considera-lhes as desculpas fúteis, e demonstrativas de desprezo ao convite. 
O homem que disse: “Casei e, portanto, não posso ir” (Lucas 14:20), representa uma grande classe. Muitos há que permitem que a esposa ou o marido os impeçam de atender ao convite de Deus. Diz o esposo: “Não posso seguir minha convicção do dever enquanto minha senhora é a isso contrária. Sua influência me tornaria excessivamente difícil fazê-lo.” A esposa ouve o misericordioso convite: “Vinde, que tudo já está preparado”, e diz: “Rogo-Te que me hajas por escusada. Meu marido recusa o convite de misericórdia. Diz que seu negócio é um embaraço. Preciso acompanhar meu marido, e por isso não posso ir.” O coração dos filhos é impressionado. Desejam ir. Mas, amam o pai e a mãe, e como estes não atendem ao convite do evangelho, pensam que sua presença não é esperada. Também dizem: “Gostaria de ser dispensado.” 
Todos esses não atendem ao convite do Salvador, porque temem causar divisão no círculo da família. Pensam que negando obediência a Deus, asseguram a paz e a prosperidade do lar; porém, isto é uma ilusão. Quem semeia egoísmo, colherá egoísmo. Rejeitando o amor de Cristo rejeitam aquilo que, somente, pode emprestar ao amor humano pureza e estabilidade. Não só perderão o Céu como também a verdadeira felicidade pela qual o Céu foi sacrificado. 
Na parábola, o doador da ceia ouviu como seu convite fora recebido, e, “indignado, disse ao seu servo: Sai depressa pelas ruas e bairros da cidade e traze aqui os pobres, e os aleijados, e os mancos, e os cegos”. Lucas 14:21.
O hospedeiro voltou-se daqueles que menosprezaram sua bondade e convidou uma classe não privilegiada, que não possuía casas nem terras. Convidou os pobres famintos, que apreciariam a generosidade. “Os publicanos e as meretrizes”, disse Cristo, “entram adiante de vós no reino de Deus.” Mateus 21:31. Por mais miseráveis que sejam os espécimes da humanidade, de quem outros zombam e se retraem, não são baixos, nem miseráveis demais para a atenção e amor de Deus. Cristo anseia que homens aflitos, cansados e opressos, a Ele vão. Anseia dar-lhes luz, alegria e paz não encontradas em qualquer outra parte. Os piores pecadores são objeto da Sua profunda, ardente misericórdia e amor. Envia o Espírito Santo para sobre eles vigiar com ternura, procurando atraí-los a Si.
“Disseram-Lhe, pois: … Nossos pais comeram o maná no deserto, como está escrito: Deu-lhes a comer o pão do Céu. Disse-lhes, pois, Jesus: Na verdade, na verdade vos digo que Moisés não vos deu o pão do Céu, mas Meu Pai vos dá o verdadeiro pão do Céu. Porque o pão de Deus é Aquele que desce do Céu e dá vida ao mundo. … Eu sou o pão da vida; aquele que vem a Mim não terá fome; e quem crê em Mim nunca terá sede.” João 6:30-33, 35.  
O servo que fez entrar os pobres e cegos, disse ao Mestre: “Senhor, feito está como mandaste, e ainda há lugar. E disse o senhor ao servo: Sai pelos caminhos e atalhos e força-os a entrar, para que a minha casa se encha.” Lucas 14:22, 23. Cristo apontou aqui a obra do evangelho fora dos limites do judaísmo, nos caminhos e valados do mundo.
Obedientes a este mandado, Paulo e Barnabé declaravam aos judeus: “Era mister que a vós se vos pregasse primeiro a Palavra de Deus; mas, visto que a rejeitais, e vos não julgais dignos da vida eterna, eis que nos voltamos para os gentios. Porque o Senhor assim no-lo mandou: Eu te pus para luz dos gentios, para que sejas de salvação até aos confins da Terra. E os gentios, ouvindo isto, alegraram-se e glorificavam a Palavra do Senhor, e creram todos quantos estavam ordenados para a vida eterna.” Atos dos Apóstolos 13:46-48. 
A mensagem evangélica, pregada pelos discípulos de Cristo, era a anunciação de Sua primeira vinda ao mundo. Trouxe aos homens as boas-novas de salvação pela fé nEle. Apontava para Sua segunda vinda em glória para redimir Seu povo, e deu aos homens a esperança de partilhar da herança dos santos na luz pela fé e obediência. Esta mensagem é dada à humanidade hoje em dia, e, neste tempo, está ligada à anunciação da breve volta de Cristo. Os sinais de Sua vinda dados por Ele mesmo, cumpriram-se; e assim, pelos ensinos da Palavra de Deus podemos saber que o Senhor está à porta.

João, no Apocalipse, prediz a proclamação da mensagem do evangelho, justamente antes da vinda de Cristo. Viu “outro anjo voar pelo meio do céu, e tinha o evangelho eterno, para o proclamar aos que habitam sobre a Terra, e a toda a nação, e tribo, e língua, e povo, dizendo com grande voz: Temei a Deus e dai-Lhe glória, porque vinda é a hora do Seu juízo.” Apocalipse 14:6, 7. 
A esta advertência do Juízo e às mensagens com ela relacionadas segue-se, na profecia, a volta do Filho do homem nas nuvens do céu. A proclamação do Juízo é uma anunciação de que a segunda vinda de Cristo está próxima. E esta proclamação é chamada o evangelho eterno. Deste modo é mostrado que a pregação da segunda vinda de Cristo ou a anunciação de sua brevidade, é parte essencial da mensagem evangélica. 
A Bíblia declara que nos últimos tempos os homens estariam absortos em empresas mundanas, prazeres e enriquecimento. Estariam cegos para as realidades eternas. Cristo diz: “E, como foi nos dias de Noé, assim será também a vinda do Filho do homem. Porquanto, assim como, nos dias anteriores ao dilúvio, comiam, bebiam, casavam e davam-se em casamento, até ao dia em que Noé entrou na arca, e não o perceberam, até que veio o dilúvio, e os levou a todos, assim será também a vinda do Filho do homem.” Mateus 24:37-39. 
O mesmo se dá hoje. Os homens lançam-se à caça de lucro e satisfação própria como se não houvesse Deus, nem Céu, nem vida futura. Nos dias de Noé foi dada a advertência do dilúvio vindouro para despertar os homens de sua impiedade e convidá-los ao arrependimento. Assim a mensagem da próxima vinda de Cristo visa a despertar os homens de seu enlevo nas coisas temporais. Destina-se a acordá-los para o senso das realidades eternas, para que atendam ao convite para a ceia do Senhor. 
O convite do evangelho deve ser dado a todo o mundo — “a toda nação, e tribo, e língua, e povo”. Apocalipse 14:6. A última mensagem de advertência e misericórdia deve iluminar com sua glória toda a Terra. Deve alcançar todas as classes sociais — ricos e pobres, elevados e humildes. “Sai pelos caminhos e atalhos”, diz Cristo, “e força-os a entrar, para que a Minha casa se encha.” Lucas 14:23.
O mundo perece pela carência do evangelho. Há fome da Palavra de Deus. Poucos pregam a Palavra não misturada com tradições humanas. Embora tenham os homens nas mãos a Bíblia, não recebem as bênçãos que, para eles, Deus nela colocou. O Senhor chama Seus servos para levar a mensagem ao povo. A Palavra da vida eterna deve ser dada aos que perecem em seus pecados.
Na ordem de ir pelos caminhos e valados, Cristo apresenta a tarefa, a todos os que chama, de ministrar em Seu nome. Todo o mundo é o campo para os ministros de Cristo. Toda a família humana está compreendida em sua congregação. O Senhor deseja que Sua Palavra de misericórdia seja levada a toda pessoa. 
Isso deve ocorrer principalmente pelo serviço pessoal. Era o método de Cristo. Sua obra consistia grandemente em entrevistas pessoais. Tinha fiel consideração pelo auditório de uma só pessoa. Por esse único ouvinte, a mensagem, muitas vezes, era proclamada a milhares. 
Não devemos esperar que as pessoas venham a nós; precisamos procurá-las onde estiverem. Quando a Palavra é pregada do púlpito, o trabalho apenas começou. Há multidões que nunca serão alcançadas pelo evangelho se ele não lhes for levado. 
O convite para o banquete foi dado primeiramente ao povo judeu, ao povo que fora escolhido para ser professor e guia entre os homens, ao povo em cujas mãos estavam os escritos proféticos que prediziam o advento de Cristo, e a quem fora confiado o serviço simbólico que prefigurava Sua missão. Tivessem os sacerdotes e o povo atendido ao convite, ter-se-iam unido aos mensageiros de Cristo para estender ao mundo o convite evangélico. A verdade foi-lhes enviada para que a comunicassem a outros. Escusando-se ao convite, foi este enviado aos pobres, aleijados, mancos e cegos. Publicanos e pecadores aceitaram o convite. Quando o convite do evangelho é dirigido aos gentios, continua o mesmo plano de trabalho. A mensagem deve ser proclamada primeiramente “pelos caminhos” — aos homens que têm parte ativa no trabalho do mundo, aos mestres e guias do povo.

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