Alianças de Deus com a Humanidade: A Promessa de uma Nova Aliança – Hans K. LaRondelle

Mensagem apresentada em palestra em P. Alegre – RS (2003)

Explicação dos textos: Jeremias 31:31-34; Ezequiel 36:26-28

Que necessidade tem Deus de fazer uma nova aliança com Seu povo?

Na Arca Sagrada estava a Lei. Era uma caixa dentro da qual estava a lei da aliança, e sobre ela estava o Propiciatório ou trono da misericórdia.

A lei estava debaixo da mesa e o sumo sacerdote espargia o sangue da expiação sobre o propiciatório. E aí você pode ver que há uma conexão entre a lei e a graça. Sem lei não há necessidade de graça. Os egípcios não possuíam a graça. Os babilônios não conheciam nada a respeito de perdão. Somente Israel possuía um Deus que perdoava pecados e conduzia o povo de volta em harmonia com os Seus princípios sagrados.

Tão logo Deus escreveu os Dez Mandamentos em Êxodo 20, como o povo reagiu quando Moisés permaneceu 40 dias no monte? Deus havia declarado: “Eu sou o SENHOR, teu Deus, que te tirei da terra do Egito, da casa da servidão.” Portanto os Dez Mandamentos foram promulgados pelo Redentor, e foram concedidos a um povo redimido.

O sábado é para um povo redimido. Primeiro você precisa ser redimido para depois poder observar o sábado. E Deus declara: “Não terás outros deuses diante de mim.”

Quanto tempo demorou depois da promulgação da lei para Israel estar adorando um bezerro de ouro? Não demorou 6 semanas, dentro de 40 dias. A apostasia pode ocorrer muito rapidamente.

Deus foi magoado. Seu próprio povo era muito fixado e preso à idolatria egípcia. Moisés se ergueu e suplicou por uma nova oportunidade. E ele então disse: “Senhor, lembra-te da Tua aliança.” E Deus disse: “Moisés, vem cá, Eu vou novamente escrever a Minha lei.” Isto está em Êxodo 34.

Deus fez duas alianças no monte Sinai. E a segunda aliança feita lá, era mais cheia de graça, era ampliada. E Êxodo 34:6 e 7 constitui um dos textos mais importes da Bíblia. Deus diz quem Ele É no Seu coração, Deus declara quem Ele próprio É.

É a expressão máxima sobre o caráter do próprio Deus e o que Deus declarou a respeito de Si mesmo. “Eu sou o Deus da graça, da compaixão e da misericórdia.” Isso é a antiga aliança. É o mesmo Deus Jesus Cristo. E Deus declarou: Se o povo não se arrepender terá condenação e permanecerá sob a culpa.

Nós encontramos aqui uma tensão dentro do próprio caráter de Deus. Deus, por um lado, promete: “Eu perdoarei todos os vossos pecados e a vossa rebelião”, mas por outro lado: “Também trarei a vós a condenação e a punição.” E a condição essencial é: “Se não vos arrependerdes.”

Qual foi o problema quando a aliança foi quebrada? Não foi porque Deus tivesse promulgado uma aliança inferior, não foi porque Deus tivesse mudado a Sua ideia somente, mas foi Israel que falhou e quebrou. Foi a mente e o coração de Israel que estavam entregues ao pecado e à idolatria pecaminosa.

E você pensa que isso só aconteceu durante os 40 dias que Moisés esteve lá? Não, aconteceu repetidamente. E toda vez que havia essa recaída Israel necessitava ter a sua aliança restaurada. Por isso, Deus atuava anualmente na Páscoa e no Dia da Expiação. Estas festas eram renovações da aliança de Deus.

Nós necessitamos de reavivamento de tempo em tempo. Você e eu precisamos de reavivamento. O nosso povo necessita desesperadamente de reavivamento. Especialmente quando o povo está diante do juízo precisa de reavivamento.

Qual foi no Antigo Testamento o juízo mais severo que Deus colocou sobre o Seu povo? Primeiro, Ele deu às 10 tribos no Reino do Norte, e cerca de 10 anos depois deu às duas tribos restantes em Jerusalém. Qual foi esse duplo juízo de condenação e quanto tempo durou?

E aqui está o centro da história do Antigo Testamento. Se nós não compreendermos esta parte central, nós não iremos entender o Antigo Testamento como um todo. Assim, quais foram esses juízos divinos? Está em cada um dos exílios do Antigo Testamento.

Dez tribos levadas para a Assíria no ano 722-721 a.C. E vocês diriam: “Bem, então as duas tribos restantes aprenderam a lição.” Mas, não aprenderam. Portanto, no ano 605 a.C. Judá, Benjamim e os levitas foram levados cativos para Babilônia. E Deus usou Nabucodonosor para castigar em sua melhor natureza ao Seu próprio povo. Mas desta vez, Deus disse quanto tempo eles permaneceriam no cativeiro babilônico.

Quanto tempo? 70 anos. Todos nós sabemos: 70 anos. Em Jeremias 25 e 29 Deus disse que o cativeiro duraria 70 anos. Isso envolve quase duas gerações.

O que é que os pais desobedientes diriam aos seus filhos? “Nós estamos muito entristecidos porque estamos em Babilônia e teremos que permanecer aqui durante muito tempo. Mas quem sabe vocês retornarão. E os nossos netos – os seus filhos – com certeza retornarão para Jerusalém.” Mas, Jeremias 29 declara: “Vocês precisam buscar ao Senhor de todo o coração para que isso aconteça.” Porque Deus disse: “Eu quero um novo povo em uma nova aliança quando retornar a Jerusalém.”

Então encontramos a promessa contida em Jeremias 31:31-34. E esta é a única passagem que menciona explicitamente a expressão “nova aliança”.

“— Eis aí vêm dias, diz o Senhor, em que firmarei nova aliança com a casa de Israel e com a casa de Judá.” 

Aqui vem a pergunta: Qual é o significado da nova aliança e quando começaria? Qual é o conteúdo? Qual é a diferença? Qual é a semelhança?

Pastores superficiais apresentam respostas simplistas. E é por isso que temos visto muitos abandonarem. Onde está o problema? Ele foi embora porque não tinha rampa, ele pegava um pedaço de texto aqui, um pedaço ali.

Isso precisa mudar!

Nós precisamos voltar à Bíblia e estudá-la. Nós temos que abandonar estas construções doutrinárias baseadas em textos isolados, temos que caminhar com Deus através da história, temos que pisar nas pegadas de Deus, temos que perceber a continuidade do plano divino da redenção, temos que pensar em salvação em termos de história.

Quem foi Jeremias? Quando ele viveu? Onde Israel estava? Podemos penetrar nas emoções e nas necessidades. Eles estavam no cativeiro babilônico. O povo está sedento de receber estas informações adicionais. Um grande e bom pregador sempre é um bom contador de histórias.

Ele sempre conta o fato como ele ocorreu historicamente. Também usa os livros de Ellen White Patriarcas e Profetas, Profetas e Reis. Usem estes livros para obter dados tornar os seus sermões mais vívidos e realistas. As pessoas sempre se interessaram em outras pessoas. As pessoas ficam contentes quando nós dizemos: “Ah, aquele lá fez errado; aquele lá também errou, e ela também estava errada!” Daí eles se abrem. Mas, se você disser: “Você está errado!”, eles se fecham.

Como é que Davi foi convencido pelo profeta Natã? O profeta disse: “Davi, eu tenho uma história para lhe contar. Há um homem no seu reino muito rico, com abundância de gado, mas tem um vizinho muito pobre: tem apenas um cordeiro. E ele foi ao seu vizinho, matou o seu cordeiro para saboreá-lo.” O que disse Davi como resposta? Davi disse: “Esse homem deve morrer!” O que ele estava fazendo era pronunciar a sua própria condenação; e não sabia.

Este é o método de abordagem indireta. Este é o método pastoral. Contém a história de Israel. Cada judeu, cada cristão vai dizer: “Isto é um fato, é a história.” Então permitam que o Espírito Santo conduza o povo a conclusões sábias. “Você é esta pessoa, mas também há a mesma esperança para você como houve para tantos.”

Elias declarou a Israel: “O Senhor diz: Farei uma nova aliança, e vocês voltarão. A sua antiga terra será uma nova terra. E Eu vou dar-lhes um novo templo em que poderão adorar. E então o Messias virá e o Paraíso será restaurado.” E então a nova aliança recebe uma dimensão escatológica. A nova aliança é para novo Israel espiritual.

“32Não segundo a aliança que fiz com os seus pais, no dia em que os tomei pela mão, para os tirar da terra do Egito; pois eles quebraram a minha aliança, apesar de eu ter sido seu esposo, diz o Senhor.” 

Este versículo pode também levar a conclusões errôneas. Muitos declaram: “A velha aliança mosaica está no passado! Agora temos uma nova aliança!”

Ora, Deus promete uma nova aliança, não uma nova lei. Eu vou repetir isso: Deus prometeu uma nova aliança para Israel, mas Ele não prometeu uma nova lei. Então este é o ponto. O ponto é que tendo a antiga aliança falhado porque Israel quebrou essa aliança, então qual é o problema da velha aliança?  Estava com a lei? Onde estava o problema?

Estava no coração humano. E ainda é o problema hoje. A nova aliança é uma promessa de receber um novo coração que não quebrará a aliança, e não será mais desobediente, mas que guardará a lei de Deus a partir do amor a Deus.

Então leiamos o versículo 33: “Porque esta é a aliança que farei com a casa de Israel, depois daqueles dias, diz o Senhor: Na mente lhes imprimirei as minhas leis, também no seu coração as inscreverei; eu serei o Deus deles, e eles serão o meu povo.”

“34Não ensinará jamais cada um ao seu próximo, nem cada um ao seu irmão, dizendo: “Conheça o Senhor!” Porque todos me conhecerão, desde o menor até o maior deles, diz o Senhor. Pois perdoarei as suas iniquidades e dos seus pecados jamais me lembrarei.”

Muito disso já se cumpriu em Abraão e Davi. A primeira exigência é que pratiquemos exegese, interpretação do texto. Esta é a única autoridade. Para que possamos refutar objeções errôneas, primeiro nós precisamos concentrar-nos na verdade antes de podermos trabalhar com o erro. Deus declara: “Farei algo no coração humano.”

O que Ele prometeu fazer no coração? Ele disse: “Vou colocar amor no seu coração”? Não, Ele não declara isso. Ele diz: “Colocarei” o que em seu coração? Ele não disse: “a lei”, mas: “a Minha lei”. Isto é muito importante. É a lei de Deus que vai ser implantada no coração.

Deus colocará em nossa mente, isto é, em nossa razão, e em nosso coração, nossa vontade de praticar. É claro que isto implica em amor, mas é amor inteligente – é o amor da obediência.

Este é um ingrediente essencial da nova aliança. Agora, eu tenho uma pergunta: Deus não fez isso para Abraão ou para Davi? Qual é a diferença aqui com a aliança mosaica? Será que a aliança mosaica não possuía isto? Aqui está o ponto crítico.

Abraão foi justificado pela fé somente, mas como consequência ele obedeceu aos Dez Mandamentos. Gênesis 26:5. No cap. 22 ele esteve disposto a sacrificar Isaque como um sacrifício, obedecendo.

E Davi? Moisés? Todos eles já possuíam isto. Então, qual é a diferença? Eram pessoas isoladas que possuíam esse espírito. A diferença é que na nova aliança Deus declara: “Eu quero que cada indivíduo experimente esta experiência sem exceção, do menor ao maior, cada um deve fruir esta experiência de relacionamento com Deus.”

Amor e Obediência

Agora, este é um novo elemento, porque cada israelita pertence ao Israel espiritual – cada um iria fruir a experiência do perdão de pecados.

Que tipo de tempo é este? Este é o tempo quando o Espírito Santo será derramado. Não se esqueçam de Joel 2:28 e 29.

“28“E acontecerá, depois disso, que derramarei o meu Espírito sobre toda a humanidade. Os filhos e as filhas de vocês profetizarão, os seus velhos sonharão, e os seus jovens terão visões. 29Até sobre os servos e sobre as servas derramarei o meu Espírito naqueles dias.”

É também promessa de uma nova aliança. Mas aí não é a lei que está no centro, mas o Espírito Santo ou o Espírito de YAHWEH que toma a preeminência.

Portanto na nova aliança nós temos a lei de Deus em nosso coração e o Espírito Santo será derramado sobre toda a carne. Podemos declarar que os adventistas têm a lei, os pentecostais têm o Espírito Santo?

Vamos ler outro contemporâneo de Jeremias. Viveram na mesma época e podemos dizer que eles eram amigos. Jeremias viveu em Jerusalém e Ezequiel era um cativo em Babilônia. E Ezequiel falou ao mesmo povo a quem falou Jeremias. Todos estavam sofrendo a condenação dos filhos de Deus no cativeiro babilônico.

Leiamos Ezequiel 36:26 – 27: “Eu lhes darei um coração novo e porei dentro de vocês um espírito novo. Tirarei de vocês o coração de pedra e lhes darei um coração de carne.”

Eu quero que vocês agora juntem isso. Como é que podemos juntar as mensagens de Jeremias e Ezequiel? Agora nós chegamos a um nível mais elevado de teologia. Agora começamos a olhar com ambos os olhos. Agora vamos unir Jeremias e Ezequiel para termos uma visão do cumprimento da nova aliança.

Jeremias Minhas LEIS no coração

Ezequiel Meu Espírito no coração

Eu pergunto a vocês: O que é que Jeremias disse que Deus ia pôr no coração? Deus prometeu através de Jeremias: “As Minhas leis no coração”. E o que é que Ezequiel declara em Ezequiel 36:27?

Eu lhes darei um coração novo e porei dentro de vocês um espírito novo. Tirarei de vocês o coração de pedra e lhes darei um coração de carne.

“O Meu Espírito no coração”.

Assim nós temos a lei de Deus bem como o Espírito de Deus dentro do coração. Isso é revolucionário. É a solução, porque um não substitui o outro. Tanto a lei como o Espírito vivem em perfeita harmonia, coexistem no coração. Esta é uma solução explosiva para o nosso coração porque o Espírito é o poder motivador para produzir o amor e a obediência. E nisto nós encontramos uma harmonia adequada entre a lei de Deus e o Espírito de Deus. Portanto quanto mais tivermos do Espírito Santo tanto mais nós nos submeteremos e obedeceremos a lei de Deus. Porque o Espírito Santo não substitui a lei de Deus.

Há um texto em Efésios 6:17, dizendo que a Palavra de Deus é a Espada do Espírito. Assim nós encontramos que a Palavra de Deus é o instrumento do Espírito Santo. O Espírito Santo produziu a Bíblia. O Espírito não é contra a Bíblia, mas Ele a produziu. Ele produz uma melhor compreensão da Palavra de Deus e Ele nos estimula a submeter-nos e a desfrutar a obediência.

E isso podemos compreender melhor lendo os Salmos 1, 19 e 119. Ele diz: “Oh, quanto amo a tua lei em todo o tempo.” Este é o legítimo israelita espiritual. Todos os salmos foram escritos por israelitas espirituais. Eles tinham renascido e eles testificaram de seu amor para com a lei de Deus, especialmente no Salmo 119. É o salmo preferido de Jesus. Ele podia recitá-lo quando era um adolescente, de acordo com O Desejado de Todas as Nações.

Assim podemos ver que Jesus amava os Salmos, especialmente os Salmos da sabedoria – 1, 19, 119. Os salmos nunca falam a respeito de justificação de maneira isolada.

Para concluir vamos voltar ao Salmo 32:8-9. E então vamos entender como existe um equilíbrio muito bonito. “Instruir-te-ei e te ensinarei o caminho que deves seguir; e, sob as minhas vistas, te darei conselho. 9Não sejais como o cavalo ou a mula, sem entendimento.”

Depois de falar tanto sobre o perdão e justificação, talvez nós terminaríamos o sermão com o verso 7.

Agora, vocês podem ir, vamos rejubilar em nosso perdão. O salmista diz: Não, ainda não. Vocês ouviram falar de justificação; agora vamos falar sobre a vida santificada.

Ele trata agora de uma nova obediência. Agora fala da obediência à lei, à vontade de Deus. E o salmista começa a falar sobre o conselho. E este conselho divino para ele era o fruto do Espírito. Ele queria ser ensinado. Ele queria aprender, conhecer e saber mais sobre a vontade e o caráter de Deus. E Deus disse: “Muito bem, Eu lhe ensino; não seja como o cavalo que precisa ser forçado a obedecer.”

Vocês sabem como eles fazem com os cavalos, forçam o sofrimento. E Deus diz: “Você não deve ser como um cavalo. Você deveria praticar obediência inteligente, obediência voluntária.”

Agora vejamos Isaías 1:18: “Venham, pois, e vamos discutir a questão. Ainda que os pecados de vocês sejam como o escarlate, eles se tornarão brancos como a neve; ainda que sejam vermelhos como o carmesim, eles se tornarão como a lã.”

E é isto que nós geralmente citamos neste texto. Agora vejam o versículo 19: “Se estiverem dispostos e me ouvirem, vocês comerão o melhor desta terra.”

Exatamente como no Salmo 32: justificação em primeiro lugar seguida pela santificação. E qual é a conexão? Um novo coração para um relacionamento orgânico. Você não pode ter um sem o outro. Assim como os dedos aparecem a partir da mão, a santificação flui a partir da justificação. E este é o ensino do Antigo Testamento, da antiga aliança.

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