Conversando um pouco mais sobre as leis de Deus – parte 1

Uma leitora amiga nos perguntou, comentando o texto “Antes do concerto do Sinai ordenou Deus aguarda do Sábado?”: “eu discordei do ponto que você disse que eles (Adão e Eva) desobedeceram aos 10 mandamentos, porque creio que foi mesmo pelo “simples” fato de eles terem desobedecido a ordem de Deus de não comer aquele fruto que Deus disse que não comessem. Para o Senhor, a desobediência/rebelião é como o pecado de feitiçaria (1 Sm 15:23).”
Gênesis 2:15-17  ‘Senhor Deus colocou o homem no jardim do Éden para cuidar dele e cultivá-lo. E o Senhor Deus ordenou ao homem: Coma livremente de qualquer árvore do jardim, mas não coma da árvore do conhecimento do bem e do mal, porque no dia em que dela comer, certamente você morrerá.’
Foi exatamente a liberdade do pleno exercício da racionalidade que permitiu a Lúcifer o direito a não obediência à vontade divina. A consequência da má escolha, não submeter-se à soberania divina, é que fez surgir a manifestação do Mal. Um Mal que encontrou, na mente de Lúcifer, sua razão de ser. Ao rebelar-se, anjo Lúcifer permitiu em si mesmo a manifestação do mal quando admitiu para si a possibilidade de ser maior do que Aquele que o criou.
Convido você a fazer um paralelo aqui com o que aconteceu com Adão e Eva.
Antes da queda o ser humano precisava ser conscientizado a cerca da existência do pecado enquanto condição contrária à vontade do Seu Criador. Deus comunicou Sua Lei antes mesmo que o pecado ganhasse terreno no coração de Adão e Eva. Afinal, é necessária a liberdade para obedecer ou desobedecer. A fim de serem capazes de amá-LO, Adão e Eva tiveram que ser criados moralmente livres. Eles tinham que ter a capacidade e a liberdade de fazer o mal, ainda que não se justificasse. O homem se distingue dos animais por causa da moralidade que define para nós o bem e o mal e é no centro dessa moralidade que está a Lei de Deus.
O ponto central é que o homem é um agente moral e moralmente autônomo. Ele para ser de fato um ser livre tem que ter a capacidade e o poder de decidir entre o bem e o mal.
Um mundo perfeito aos olhos de um Criador perfeito se compunha dessa moralidade. Um Deus perfeito não criaria um Adão e Eva abestados diante da possibilidade da existência do mal. Além do mais, a própria Bíblia nos diz em Gênesis 3:8-9 que: ‘Ouvindo o homem e sua mulher os passos do Senhor Deus que andava pelo jardim quando soprava a brisa do dia, esconderam-se da presença do Senhor Deus entre as árvores do jardim. Mas o Senhor Deus chamou o homem, perguntando: “Onde está você?’
Entendemos ai que o Criador relacionava-Se pessoalmente com Sua criatura… Posso imaginar Suas orientações a respeito da Sua vontade e do anjo que Se rebelara.
Gênesis 1:26 Então disse Deus: ‘Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança. Domine ele sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu, sobre os grandes animais de toda a terra e sobre todos os pequenos animais que se movem rente ao chão’. Criou Deus o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou.’
Deus é espírito, Adão e Eva eram seres físicos. Imagem não é igualdade, é semelhança. O ser humano, então deveria ter a imagem de Deus, tanto na aparência exterior como no caráter. Essa imagem exterior diz respeito ao fato de que se tornara uma ‘alma vivente’, isto é, um ser vivo dotado de livre-arbítrio, uma personalidade autoconsciente.
‘Não cobiçarás’:  10º mandamento
E porque eles eram livres para desobedecê-LO entendo que havia princípios como referência. É na própria Bíblia que Paulo diz: ‘De fato, eu não saberia o que é pecado, a não ser por meio da Lei. Pois, na realidade, eu não saberia o que é cobiça, se a Lei não dissesse: ‘Não cobiçarás’. (Romanos 7: 7) Acaso não foi esse princípio transgredido por Eva quando cobiçou a Onisciência (conhecer o bem e o mal) do Criador?
Gênesis 3:1-5 : ‘Ora, a serpente era o mais astuto de todos os animais selvagens que o Senhor Deus tinha feito. E ela perguntou à mulher: “Foi isto mesmo que Deus disse: “Não comam de nenhum fruto das árvores do jardim”?” Respondeu a mulher à serpente: Podemos comer do fruto das árvores do jardim, mas Deus disse: “Não comam do fruto da árvore que está no meio do jardim, nem toquem nele; do contrário vocês morrerão”. Disse a serpente à mulher: Certamente não morrerão! sabe que, no dia em que dele comerem, seus olhos se abrirão, e vocês, como Deus, serão conhecedores do bem e do mal.’
‘Não adulterarás! 7º mandamento
Acaso no Éden inexistiu o pecado do adultério? Na Lei de Deus está escrito: ‘Não adulterarás! Adultério não é só conjunção carnal. Adultério é você fazer perder a confiança. Eles não acreditaram no que o Criador lhes dissera, preferiram ouvir outro senhor (Satanás). Faltou-lhes, então, lealdade, cumplicidade, e adoração ao Grande Criador.
‘Não matarás’ : 6º mandamento
Por que será que Deus estabeleceu como resultado da desobediência a perda da imortalidade para o primeiro casal? Penso que não seria nada fácil para eles o conviver eternamente com o mal que provocaram com suas decisões. Seria esta uma das razões? Se sim, ponto para Deus por Sua misericórdia. Quanto a Adão e Eva, restou a certeza de que desobedeceram ao principio de manutenção da vida: ‘Não matarás’.
“Mas a serpente, mais sagaz que todos os animais selváticos que o SENHOR Deus tinha feito, disse à mulher: É assim que Deus disse: Não comereis de toda árvore do jardim? Respondeu-lhe a mulher: Do fruto das árvores do jardim podemos comer, mas do fruto da árvore que está no meio do jardim, disse Deus: Dele não comereis, nem tocareis nele, para que não morrais. Então, a serpente disse à mulher: É certo que não morrereis.” (Gênesis 3:1-4)
Gênesis 2:9 e 17 é extraordinário, pois evoca Deus marcando Sua Soberania. A árvore da vida (que não foi proibida) é a árvore que nutria Adão e Eva. Deus os alimentava com Sua própria vida. Seu próprio fôlego. Esta árvore ligava a criatura ao Criador. Daí porque o homem possuía a imortalidade. Esta estava condicionada a presença do Senhor neles mesmos. Mas, havia outra árvore, a árvore do conhecimento. Esta fixava na relação Criador/criatura suas diferenças fundamentais. Note que uma unia, outra demarcava as fronteiras. Uma vez rompida esta relação que nutria espiritualmente a criatura, perder-se-ia a imortalidade. E isto se fez com a decisão de Adão e Eva. E isto se faz conosco também.
O conselho dado pelo Criador foi de que a criatura não deveria tocar na fronteira (fruto), pois esta era a diferença entre eles. Pois, a vida que recebia se dava porque Deus fazia provisões. Isto me permite pensar que qualquer que seja o “fruto” hoje, vai dar a mesma resposta requerida a Adão e Eva: Quem é o Senhor de nossas vidas?


“Não terás outros deuses diante de mim.” : 1º Mandamento
A questão é o meu e o seu coração. A quem ele pertence? Se de fato o coração de Adão e Eva não estivesse dividido naquele momento eles não teriam caído. Se o meu coração não estiver dividido…
Deus, em Sua Onisciência sabia que o pecado aconteceria, por isso, Jesus já estava pronto como Cordeiro, desde a fundação do mundo. Mas, atenção, não há espaços para a predestinação aqui! Deus sabe, mas cabe a mim o decidir. Compreender isto faz grande diferença. A Bíblia nos ensina que Deus perdoa o tempo de ignorância, mas será sempre rigoroso com relação à negligência. Portanto, é perigoso para nós, cristãos, sermos negligentes em nosso relacionamento com Deus. Afinal, é este relacionamento que estabelecerá o conhecimento e compreensão de Sua vontade em nossas vidas. (Atos 3:17-19; Atos 17:30)
A Bíblia ensina que não seremos condenados pelos nossos pecados cometidos no tempo de ignorância. Deus não levará em conta o tempo de ignorância. Isto é fato. Assim como fato é que precisamos nos achegar a Ele com o coração arrependido e lhe pedir perdão até mesmo por este tempo. Ponto para Deus por Sua misericórdia, tolerância e justiça.
Vontade de Deus… Aqui está um ponto tão fortemente negligenciado desde Adão até cada um de nós. Isto não lhes faz lembrar-se do princípio nº1?
Diga-me, serei leviana se eu pensar que no gesto de Eva posso ler uma vontade de ser como Deus?
Sobre ‘os frutos da tentação’ os nossos não são superiores, nem inferiores em relação ao deles. Creia-me, Deus é justo! Não nos permitiria algo além de nossas forças. Além do mais, Adão e Eva não tinham o conhecimento que temos hoje sobre o Bem e o Mal. Eles só conheciam o bem, no passear de Deus pelo jardim acredito que conversavam sobre a existência de Lúcifer, tanto é que Deus os advertiu a não tocarem naquele fruto.
Estamos mais bem preparados do que Adão e Eva para enfrentar “os muitos frutos”, mas que para mim é um só, e o mesmo de Adão e Eva: reconhecer a soberania de Deus.
Deus os advertiu como tem feito conosco todos os dias, através de Sua Palavra, quanto ao fato de experimentarmos “o fruto proibido”. Assim como não privou Adão e Eva de experimentá-lo não nos privará também. Assim como os deixou moralmente livres para escolher, nos deixou também. Adão e Eva o pegaram e o comeram. Em consequência, experimentaram a desobediência, passaram a conhecer o bem e o mal, provaram do sentimento de culpa e o mais triste, a morte. Creio que a perda da imortalidade foi um ato de misericórdia de Deus. Quão triste seria para Adão e Eva viverem por toda eternidade testemunhando as consequências de sua rebelião!
Nossos primeiros pais caíram não porque ouviram os argumentos do inimigo de Deus, mas porque deram crédito às suas acusações. Deus os advertiu quanto ao fato de desobedecerem, mas não os privou de experimentar a desobediência. A rebelião não estava na árvore, mas na desobediência. A árvore era só um teste. Compreendo que não se trata de ‘simples’ desobediência. Compreendo que tudo se passou no terreno da moral e da ética. Então, existe sim o aspecto da moral nas leis de Deus.
Qual é princípio básico da lei de Deus? Deixemos que a própria Bíblia dê a resposta. Leiamos Romanos 13:8-10: “A ninguém fiqueis devendo coisa alguma, exceto o amor com que vos ameis uns aos outros; pois quem ama o próximo tem cumprido a lei. Pois isto: Não adulterarás, não matarás, não furtarás, não cobiçarás, e, se há qualquer outro mandamento, tudo nesta palavra se resume: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. O amor não pratica o mal contra o próximo; de sorte que o cumprimento da lei é o amor.”
É, portanto, uma Lei que se resume em amor. A Bíblia diz em Mateus 22:37-40: “Respondeu-lhe Jesus: Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento. Este é o grande e primeiro mandamento. E o segundo, semelhante a este, é: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo. Destes dois mandamentos dependem toda a lei e os profetas.”
Podemos obter a salvação observando a lei? Na Bíblia, em Romanos 3:20 lemos: “Visto que ninguém será justificado diante dele; por obras da lei, em razão de que pela lei vem o pleno conhecimento do pecado.”
E em Romanos 3:27-31: “Onde, pois, a jactância? Foi de todo excluída. Por que lei? Das obras? Não; pelo contrário, pela lei da fé. Concluímos, pois, que o homem é justificado pela fé, independentemente das obras da lei. É, porventura, Deus somente dos judeus? Não o é também dos gentios? Sim, também dos gentios, visto que Deus é um só, o qual justificará, por fé, o circunciso e, mediante a fé, o incircunciso. Anulamos, pois, a lei pela fé? Não, de maneira nenhuma! Antes, confirmamos a lei.”
A Lei do Criador é o princípio de Seu governo e de Sua relação com a Sua criatura. Submeter-se a essa Lei é aceitar Seu domínio. O foco de ação do inimigo de Deus passa, então, a ser essa relação de obediência. Devagarzinho ele tem induzido a humanidade a rejeitar essa relação e a procurar em si mesma a solução para seus problemas.
A Bíblia diz em Eclesiastes 12:13: “Este é o fim do discurso; tudo já foi ouvido: Teme a Deus, e guarda os seus mandamentos; porque isto é todo o dever do homem.”
Podemos conhecer a Deus sem guardar os mandamentos? A Bíblia diz em 1 João 2:4-6: “Aquele que diz: Eu o conheço, e não guarda os seus mandamentos, é mentiroso, e nele não está a verdade; mas qualquer que guarda a sua palavra, nele realmente se tem aperfeiçoado o amor de Deus. E nisto sabemos que estamos nele; aquele que diz estar nele, também deve andar como ele andou.”
Somos salvos pela graça! Isso é fato. Temos que ter cuidado, porém, com o argumento de que a graça e misericórdia de Deus anulam a obediência às Suas Leis. Nínive, a pecaminosa cidade dos Assírios, foi poupada pela misericórdia de Deus, mas seus moradores deram uma resposta ética a essa misericórdia, arrependeram-se e mudaram de atitude. 
“Lembra-te do sábado” : 4º mandamento

Muitos expressam as sugestões de Satanás ditas no Éden à Eva, pisoteando a lei divina. “Enganados e cegados pelo grande transgressor, eles ensinam às pessoas que não há lei, ou que, se observarem os mandamentos de Deus nesta dispensação, é porque caíram da graça. Que grande ilusão, esta que Satanás fixou na mente humana! “(Review and Herald, 8 de fevereiro de 1898)
Quer conhecer a relação entre Gênesis 2:2-3, Êxodo 20: 8-11 e Apocalipse 14: 7? É esta. Uma aliança eterna com a humanidade, aqueles que são Seu povo. Ao primeiro ser criado, ao povo escolhido, ao cidadão do Seu Reino Eterno é dito adorar Aquele que tudo criou. O Sábado está registrado no Evangelho Eterno. Seja livre para obedecer a Deus ou não. Mas, saiba que o que Ele pediu não deixou de estar vigente só porque o homem não quer obedecer.
‘No sétimo dia Deus já havia concluído a obra que realizara, e nesse dia descansou. Abençoou Deus o sétimo dia e o santificou, porque nele descansou de toda a obra que realizara na criação.’  (Gênesis 2: 2-3)

Sim, os princípios contidos na Lei de Deus já estavam presentes no ato da criação. Que Deus nos ajude a compreender e a aceitar a Sua vontade em nossas vidas.

Continuaremos… 

Indico a leitura dessas reflexões:


 . “Antes, importa obedecer a Deus do que aos homens”
 Ruth Alencar

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